COSME E DAMIÃO


“Hoje, é dia de festa.
Hoje, tem alegria.
Hoje, tem alegria no congá de Antônio.
Hoje, tem alegria”.
Essa pequenina estrofe de uma das toadas dos Caminheiros de Santo Antônio de Pádua, cantada em todas as homenagens aos orixás. Ela ganha maior densidade quando a Casa rende homenagens a Cosme e Damião, aos íbejis (ou ìgbejì, no Iorubá) e, ao mesmo tempo, aos erês. Enfim, a todas as crianças do plano espiritual e material. Rendendo graças a Olorum pela criança que vive em cada ser humano e a cada uma que nasce. A criança é essencial à continuidade da vida no mundo material. É fundamenetal ao nosso exercício de espírito em evolução.

Saudar as crianças e buscar nelas o auxílio ao bom desenvolvimento de todos os trabalhos espirituais é uma das marcas dos Caminheiros de Santo Antônio de Pádua. No passado, quando, ainda entre nós, a fundadora dos Caminheiros Antônia Lins incorporava o seu Ogum da Floresta essa relação era por demais estreita. Quem chegasse aos Caminheiros ganhava balinhas para colocar na grama para as crianças de Ogum da Floresta. Ao lado de outros falangeiros, Ogum da Floresta tinha uma predileção especial pelas crianças, as quais invocava em todas as atividades da Casa para que dessem sua contribuição.

Ensinavam-nos os mais velhos que não há, seja no plano material ou espiritual, quem não se curve aos encantos de uma criança. por mais rude que seja o coração, ninguém consegue negar um pedido de uma criança. Assim, também ocorre no plano astral. Daí, a razão de se dizer que as crianças são os espíritos de muita força. Ao mesmo tempo, as suas influências são capazes de nos colocar em situação delicada por suas brincadeiras. Mas elas despertam em cada um de nós os sentimentos da pureza, da alegria e nos permitem liberar um sorriso que inunda as almas de felicidade.

SINCRETISMO
 
Na Umbanda, as crianças estão associadas aos santos Cosme e Damião. Os gêmeos nasceram na Síria e, quando crescidos, estudaram medicina. Converteram-se aos ensinamentos de Oxalá e, em nome dessa fé, nada cobravam por seus trabalhos. Eram chamados de anárgiros (avessos ao dinheiro). Buscavam apenas que seus pacientes se convertessem também à fé cristã. Essa atividade incomodou o imperador de Roma, Diocleciano, que os perseguiu, trucidou e matou. Os corpos de Cosme e Damião foram recolhidos por seus seguidores e levados para a cidade de Cira, na Síria, e depositados em uma igreja.

No século 6, parte das relíquias foi para Roma e depositada em uma igreja que atou o nome dos santos, que são cultuados não só no Brasil mas também em toda a Europa, especialmente na Itália, França, Espanha e Portugal. No Brasil, em 1530, na cidade de Igaraçu, Pernambuco, foi erguida uma igreja em homenagem a Cosme e Damião.

Por terem sido médicos, Cosme e Damião são considerados padroeiros dos médicos e farmacêuticos e protetores de todas as crianças.

NA ÁFRICA
 
Na África, origem das religiões afro-descendentes, como a Umbanda, Cosme e Damião estão associados, pelo sincretismo, à divindade gêmea da vida: Ìbejí ou Ìgbejì. No candomblé, os espíritos são chamados de erês, responsáveis por trazer às pessoas as mensagens dos orixás.

No estudo das religiões de matriz africana, os gêmeos indicam a contradição, os opostos que caminham juntos, a dualidade humana. Revela que todas as coisas, em quaisquer circunstâncias, têm dois lados, que se completam e permitem o equilíbrio.

Embora não sejam os ìbejì (crianças) considerados orixás, na Umbanda, bem como em outros os cultos de matriz africana, são reverenciados como se fossem. Seus poderes jamais são negligenciados ou ignorados. Cada orixá traz uma criança (um ìbejì).

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