ARTIGOS

   Artigo 15  


Linha e arquétipo das guardiãs pombas-giras

Por Rodrigo Queiroz
Ditado por Sra. Maria Padilha



“Uma rosa cor de sangue, cintila em suas mãos,
Um sorriso que nas sombras não diz sim nem não,
Põe na boca cigarrilha e se acende um olhar,
Que nas Trevas sabe o bem e o mal pra quem quiser amar….



– Olá moço! Salve!

Minhas reverências Senhora!

– Moço coube a mim falar um pouco de nós, vamos lá?

– Vamos sim, pode começar!

– Como o companheiro Tranca Ruas já adiantou sobre nossos nomes simbólicos e condição do Grau de um espírito redimido na seara da evolução vou me preocupar em tratar de outras coisas, certo?

Senhora, sou apenas a sua mão, está tudo certo, você conduz como queira.

– Então vamos do começo. O temo Pomba Gira é mal compreendido e também não falarei disso, você faz isso depois, pode ser?

– Tá certo Senhora, no final eu coloco uma nota.

– Ótimo!

– Senhora, já que tentarei escrever sobre o termo do “Orixá Pomba Gira” vamos falar da questão prática, ou seja, do surgimento de vocês mulheres na força de exu, também conhecidas como Exu Mulher.

– Ah moço, ainda tem essa, né? Exu Mulher já é demais. Seria o mesmo que dizer Rodrigo Mulher ou coisa parecida. Mas entendemos quando criaram este termo era apenas para tentar explicar algo que desconheciam e demoraria ainda um bom tempo para se ter ferramentas e bons argumentos para melhor explicar nossa “aparição” nos terreiros.

– Entendido… E como isso se dá?


– Antes de “aparecermos” nos terreiros de Umbanda já manifestávamos em alguns lugares que nos permitiam como em alguns Catimbós, Macumbas Cariocas, etc. Não usavam o termo Pomba Gira, mas sim Princesa, Madame e coisas do tipo. Estas aparições eram rariadas e ficava a cargo de médiuns mulheres que se abriam a nós, no entanto poucas o faziam.

– E porque isso?

– A sociedade em que você vive é patriarcal, logo extremamente machista, hoje um tanto mascarado pela evolução tecnológica e globalizado, mas são essencialmente machistas, tanto é que ainda chamam Deus de Pai, figura masculina e estrutura patriarcal.

– Isso é verdade!

– E há um século atrás era muito pior e declarado este rebaixamento ao sexo feminino. Assim, aparecemos em peso nos terreiros na década de 60 nos juntando ao movimento feminista que neste país criou grande repercussão nesta época.

– Hummm, quer dizer que vocês vieram nos combater? (risos)

– Viemos combater a desigualdade moço, e continuamos fazendo.

– A Umbanda se mostra como um ponto de convergência para todos os meios menos favorecidos e oprimidos, não acha?

– É fato. Seu universalismo e sua meta é essa, por isso tem quem acredite que será a religião principal do futuro.

Continuando, por séculos a mulher era apenas coadjuvante existencial, sem muita importância, porém necessária e aquelas que tentaram mudar esta realidade foram mortas e ridicularizadas de alguma forma. Mas não ficarei aqui relembrando o passado, certo?

– Tudo bem.

– Esta realidade brutal se arrastou por séculos a fio e como já disse começou a mudar a realidade nos anos 60 aqui neste país. Quando aparecemos nos terreiros éramos o retrato de tudo aquilo que as mulheres sonhavam em ser, mas já tinham perdido a esperança. Também éramos tudo que os homens gostavam, mas combatiam covardemente.

– Não entendo. Temos notícias que vocês eram tratadas como ex-prostitutas, ex-marginais e ex-alguma coisa muito ruim e amoral.

– (gargalhada) Isso é o que tentaram dizer. Intriga dos covardes moço. (gargalhada)

– Então continue.
– Pois bem, nesta época, veja os retratos das mulheres nesta época. Eram opacas, pálidas, feias e amarguradas. A vaidade era abafada de todas as formas e sensualidade era algo que muitas vezes nem brotava no âmago da mulher. Um combate cruel contra a natureza.

E surge nós, mulheres independentes, firmes, alegres, risonhas, esbanjando sensualidade, sem papas na língua “afrontando” a covardia machista imperante. Confesso moço, viemos auxiliar a mulher para se livrarem deste cárcere emocional que viviam. Fomos muito combatidas, até hoje somos mas a luta já está mais fácil. Neste tempo não tachavam somente nós como seres amorais e todos adjetivos que possa imaginar, a médium caia na mesma vala. Se pra mulher incorporar uma pomba gira era um escândalo, imagine quando ocorria com um homem. Era raro, mas fazíamos questão de provocar estas situações.

No momento em que começamos aparecer nos terreiros e tudo isso foi cautelosamente pensado, nos preparamos e foi uma “invasão” coletiva, simultâneo. A médium que aparecia opaca no terreiro ao estar mediunizada por nós ficava linda, pois juntava sua sensualidade escondida com a nossa e aquela mulher virava um furacão. É certo que muitos casamentos acabaram por isso, porém muitos outros também foram salvos.

Nosso foco inicial era a mulher. Libertar o ser feminino do medo e da dependência foi e é nosso norte. Fazemos a guarda do movimento feminista. Reconheça que muito se conquistou assim.

Tínhamos que provocar, por isso quando nos perguntavam se éramos “putas” respondíamos com uma sonora gargalhada. Se éramos “bruxas” a mesma resposta. E quando cantavam que “pomba gira é, mulher de sete maridos”, a provocação estava feita. Pois era a situação inversa, ou seja, não o homem podendo a poligamia, mas sim a mulher subjugando vários homens sob seu feminilismo e encanto.

– Interessante…

– Árduo moço, muito árduo. Desde então nosso trabalho foi crescendo e se manifestando de forma organizada igual ao trabalho dos exus, somos a outra parte de exu que usando este termo abriga os seres masculinos no grau Guardião de evolução e nós no termo Pomba Gira somos as mulheres no grau Guardiã de evolução.

– Quer dizer que o arquétipo de vocês também se baseia na milícia?

– Não, apenas representamos a mulher independente, capaz e livre. Somos como disse, aquilo que toda mulher busca ser e tudo aquilo que os homens gostam mas tem medo.

– É certo que existem algumas Pomba Giras que foram prostitutas e marginais?

– Sim é certo, como também existem Exus que foram a pior espécie de homens. Porém isto é um caso a parte. O que fomos pouco importa, pois no geral, como todos os encarnados, somos espíritos humanos que sofreram sua queda e já lúcidos retomamos nosso caminho de evolução, assumindo um grau e campo de atuação sob a regência dos Orixás e guardando a esquerda dos encarnados.

– Senhora é verdade que vocês são especializadas em fazer amarrações?

– Sim, da mesma forma que somos especializadas em transformar homens em gays (gargalhada). Brincadeira a parte moço, esta é mais uma colocação dos mal informados. Nós já estamos livres destes “vícios” emocionais e não praticamos nada fora do livre arbítrio que impera na criação Divina. Portanto, não somos amarradoras de nada e não decidimos sexualidade de ninguém. No entanto, somos especializadas em desfazer estas anomalias magísticas.

É isso moço, vamos parar por aqui e fica em síntese registrado que Pomba Gira são espíritos humanos femininos que estão num grau ao lado de exu e atuam principalmente no coração e na mente daqueles que de certa forma se permitem ficar acrisolados em suas próprias tormentas. Estimulamos o que o indivíduo tem de melhor, para que estes desejem ser melhores. Em nosso encanto e sensualidade mostramos que de tudo o que vale a pena é preservar a felicidade.

Fique em paz moço noutra oportunidade sentamos novamente.

– Muito obrigado senhora. Este é um assunto extenso e poderíamos fazer um livro com centenas de páginas, mas não é possível agora, então mais uma vez muito obrigado!

– Salve!

– Saravá Pomba Gira Maria Padilha.


 *********************

Nota do Médium: Por um tempo tive resistência quanto ao trabalho de Pomba Gira, meramente por falta de informação, hoje entendo o suficiente para perceber seu papel fundamental e insubstituível num terreiro. Ainda assim quando achei estar pronto para incorporar Dona Padilha me surpreendi por não estar, pois é, na ocasião comecei sentir meu corpo mudar e me assustei, bloqueei e de certa forma mantive um trauma, um tempo depois ela se manifestou sem usar o mesmo artifício de me levar sentir fisicamente sua estrutura. Consciente na incorporação vivi um misto de vergonha e encanto, vergonha por me ver requebrado e encantado por ter a oportunidade de aprender e sentir um pouco mais deste universo tão complicado que é o ser feminino.Também pude por a prova que espírito algum muda nossa orientação sexual ou coisa do tipo.

Quanto ao termo Pomba Gira, muitas são as discussões. Alguns dizem ser Pomba – um símbolo da genital feminina (vulva) e Gira – o fato dela dançar girando no terreiro, ou seja, uma espécie de vulva girante, faceira e por aí vai. A meu ver é um tanto preconceituoso e sem nexo esta “tradução”. Outro ponto de vista muito provável é que Pomba Gira é uma variante de Bombojila, uma divindade africana não Yorubá equivalente a Exu que começou a ser cultuada no surgimento do Candomblé por conta da fusão dos Cultos de Nação em terras brasileiras. Como temos Exu representando os Guardiões na Umbanda teríamos que ter alguma referência para as Guardiãs, então resgataram Bombojila que num aportuguesamento forçado foi sofrendo variações fonéticas: Bombojila – Bumbojila – Bombo Gira – Pumbu Gira e Pomba Gira. Sabe com é leitor, isso é coisa de brasileiro! (risos).

Rodrigo Queiroz Dedicado à mediunidade e aos estudos da Umbanda. Foi preparado por Rubens Saraceni, em 1999, e, aos 17 anos, fundou o Jornal de Umbanda Sagrada, hoje o maior veículo de informações doutrinárias sobre Umbanda, com uma tiragem média mensal de 21 mil exemplares e 20 páginas.

Fonte: blogue do autor.


   Artigo 14  


Mulher, mãe e macumbeira: as sacerdotisas da umbanda

Por Adilson Rogério do Amaral
Mestrando em Ciências da Religião PUC/SP

Introdução

O que pretendo abordar neste texto é a discriminação sofrida pelas sacerdotisas de Umbanda, tanto pela sociedade em geral, quanto pela própria academia. Para tal, pretendo traçar um paralelo entre o tratamento dado às sacerdotisas do Candomblé e as sacerdotisas de Umbanda, por estes dois seguimentos. Dividi em três itens a discussão, o primeiro item o qual denominei de Onde nasce a Impureza, faço uma busca histórico-filosófica desta visão de impureza atribuída as mulheres. No segundo, A mulher e a Umbanda, levanto o perfil das sacerdotisas de Umbanda no interior de São Paulo. O terceiro item A construção da diferença, traço um paralelo entre os cargos de sacerdotisas do candomblé e a Umbanda.

Onde nasce a impureza

A princípio fui vasculhar nas bibliografias relacionadas aos temas, algo que tratasse especificamente sobre a umbanda e as mulheres ou a história de alguma sacerdotisa da Umbanda, mas não encontrei nada relacionados a estes temas, para que eu pudesse me basear e iniciar este trabalho. No entanto, encontrei várias obras relacionadas a sacerdotisas de candomblé , relatando suas histórias e o seu papel dentro da religião, este fato me instigou a ir buscar o motivo desta diferenciação.

Iniciei a busca bibliográfica com intuito de traçar os caminhos metodológicos que eu teria que trilhar para a elaboração deste texto. Após feito o levantamento fui em busca das possíveis causas da não existência de materiais que tratasse do tema em questão e se estas seriam ou não elaboradas no decorrer de nossa construção histórico-social para posteriormente concluir este artigo.

Optei então, por sair a campo para coletar alguns depoimentos de sacerdotisas que já estivessem ocupando este cargo a mais de vinte anos e através destes, após uma análise, conseguir algumas respostas.

Resolvi fazer uma introdução mais teórica, trazendo alguns subsídios com intuito de esclarecer esta concepção sobre as mulheres em geral, para posteriormente afunilar para a discussão do nosso objeto, especificamente.

Encontrei na filosofia algumas teorias elaboradas sobre a questão da impureza feminina as quais trabalharei abaixo.
Schott, em sua obra nos chama atenção para a associação feita entre pureza e verdade e traz uma análise genealógica sobre estas questões iniciando por Platão e Kant argumentando que:

Ao começar uma genealogia do conceito de pureza com a formulação de Platão do vínculo entre a pureza e verdade, é possível perceber como o valor da pureza ingressa na tradição filosófica. Desse estudo das origens será então possível considerar que traços dessa concepção clássica permanecem no tratamento de Kant do conhecimento, e que mudanças ocorreram no valor da pureza à medida que foi transmitindo ao mundo moderno.

Schott conclui que:

Portanto, o conhecimento ideal de Platão deve ser entendido no contexto do seu denegrimento do corpo e das mulheres, com a conseqüência de que a existência fenomênica em geral é encarada como uma corrupção da pureza do mundo das idéias. P.19

Como podemos notar, essas idéias de que a mulher é impura e inferior ao homem, apesar de nos parecer um tanto atual, é bem antiga e vem sendo reavivada dia a dia pela maioria das sociedades, obviamente que em algumas de forma, mais agressiva e outras mais amena, mas de modo geral, as mulheres são sempre consideradas como incapazes, justificando assim, no pensamento de alguns, que sejam tratadas na condição de inferiores.

Assim como na filosofia grega, a maioria das religiões novas ou antigas associam também os perigos da sexualidade com a natureza das mulheres, mas com um agravante ainda maior, pois estas usam “Deus” e suas escrituras ditas sagradas como lei a ser seguida, legitimando de certa forma, este comportamento.

Tal comportamento pode ser facilmente observado no cristianismo, incluindo aqui, o protestantismo, as neo-pentencostais e também aparece no judaísmo e no islamismo, dentre outras. Optei por trabalhar essa questão somente dentro do cristianismo, e sobre este aspecto de perseguição, às mulheres dentro deste seguimento religioso, Schott relata que:

O Ascetismo continuou sendo um dos temas destacados no cristianismo. Embora não se exija que todos os seus seguidores renunciem à atividade sexual, até a Reforma todos os que dedicavam suas vidas à religião aderiram a uma vida de celibato.

Como os gregos antigos, os pais da igreja associavam os perigos da sexualidade com a natureza das mulheres. Embora homens e mulheres estivessem sujeitos aos tormentos do desejo sexual, achava-se que as mulheres provavelmente estivessem mais sob o seu domínio que os homens. Para serem puros, portanto, os homens tinham que evitar contato com as mulheres. As mulheres podiam também conseguir certa espécie de pureza mantendo sua virgindade.

Mas, devido ao seu papel bíblico como tentadoras, as mulheres eram consideradas naturalmente mais expostas que os homens ao perigo sexual, e daí apropriadamente subordinadas aos homens nesse mundo. Embora os pais da igreja culpassem Eva em particular, e as mulheres em geral, pelo flagelo sexual que persegue a humanidade, também exigiam que os homens controlassem seus sentimentos sexuais.

Uma das maneiras de desestimular o desejo masculino era reprovar as mulheres como objetos de desejo. Por fim, as opiniões ascéticas cristãs sobre a sexualidade contribuíram para a construção filosófica da razão como forma de superação e domínio da sexualidade em particular, e da sensualidade em geral.

Como podemos notar as mulheres são carregadas de uma série de atributos negativos e como já dissemos acima, alguns deles de cunho até divino, pois trata-se da “palavra de Deus”. Com isso, ela torna-se impura segundo eles, por não controlar seus desejos sexuais, por poder procriar ou ainda por não possuir a mesma inteligência que os homens, dentre outras barbáries.

Agostinho por exemplo, tido como sendo um dos principais pensadores da igreja católica, não identifica as mulheres com o corpo, como o faz o pensamento órfico . Ele admite a racionalidade das mulheres, mas no seu entendimento elas se tornaram simbolicamente identificadas com os usos inferiores da razão.
Para Agostinho, os homens fornecem o padrão de pureza em comparação com o qual as mulheres são permanentemente lacunosas.

Mas toda essa construção histórico-social elaborada cuidadosamente para justificar, e de certa forma, legitimar o poder dos homens sobre as mulheres, não pára por aqui, se não bastasse as “brilhantes” conclusões de Agostinho sobre as mulheres, surge mais um pensador para continuar de certa forma esta construção: Tomás de Aquino.

Como não poderia ser diferente, assim como Agostinho, Tomás volta as raízes filosóficas para basear sua teoria e enquadrar a mulher usando os termos de Aristóteles, como por exemplo “macho bastardo” e explica o papel da mulher nos seguintes termos:

Era necessário que a mulher fosse feita, como diz a Escritura, como auxiliar do homem; não, na verdade como companheira em outros trabalhos, como dizem alguns, dado que o homem pode ser mais eficientemente ajudado por outro homem em outros trabalhos; mas como auxiliar no trabalho da geração. Apenas a função da mulher na geração biológica justifica a sua criação. Entretanto, Tomás estende a questão, indagando por que a biologia humana precisa da existência do sexo feminino inferior. Afinal, observa ele, existem animais sem qualquer diferenciação sexual.

Tomás associa ainda, o masculino, as atividades intelectuais ativas e dominantes e o feminino, com qualidades luxuriosas, passivas e subordinadas, justificando assim, sua posição em relação as mulheres e vai mais além afirmando que essa dominação vem antes mesmo à expulsão de Adão e Eva do paraíso. E conclui que a imagem de Deus encontra-se só no homem e não na mulher.

Devido a posição que a mulher “não ocupava” dentro da sociedade, ela também seria privada de freqüentar o ensino superior no passado, pois como sabemos as primeiras universidades foram fundadas por instituições religiosas, as quais carregaram todo seu arsenal de justificativas masculinas para dentro destas. Mesmo assim, algumas mulheres entraram para seguir a vida religiosa ciente que nunca poderiam ser uma sacerdotisa. Diferentemente do clérigo masculino, elas tinham que cumprir seus votos religiosos e realizar todas as outras atividades domésticas dentro do convento.

Como podemos notar, as coisas de lá pra cá não mudaram muito, pois as mulheres, na maioria das religiões não podem ocupar um cargo sacerdotal, principalmente na igreja católica. Apesar de terem vindo a tona vários casos envolvendo sacerdotes em escândalos sexuais, pedofilia e homossexualismo, o poder da igreja ainda continua sendo dos homens.

Socialmente as mulheres conseguiram algumas vitórias, graças as lutas de algumas feministas e organizações de gênero, como poder estudar em uma universidade, o direito do voto, o direito de disputar e candidatar-se a qualquer cargo político, mas ainda são tratadas como sendo inferiores aos homens, fato facilmente constatado pela diferença salarial ainda existente no mercado de trabalho, dentre outras coisas, o que não ocorre somente nos países de terceiro mundo, como geralmente é pensado.

Nos países de terceiro mundo ainda há um certo atraso em relação ao reconhecimento da igualdade entre homens e mulheres em relação aos demais países, mas nada muito distante, a falta de um certo consenso dentro dos próprios movimentos e as barreiras levantadas historicamente, ainda continuam a servir de obstáculo para, até mesmo, um simples diálogo.

No Brasil, as mulheres que lutam por seus direitos tornaram-se alvo de uma certa taxação pejorativa, sendo chamadas de feministas extremistas. Quando há eventos em que vão ser discutidos assuntos de interesse das mulheres, essas profissionais geralmente não são chamadas para fazer parte das discussões, seja em eventos governamentais ou de alguma instituição de ensino, dificultando ainda mais a possibilidade de defenderem publicamente suas opiniões sobre algumas questões.

A academia, na sua estrutura hierárquica, também não fica de fora dessa historicidade criada nas maiorias das instituições de ensino, seja ela pública ou privada, geralmente os cargos de coordenação também são preenchidos por pessoas do sexo masculino.

Se fossemos continuar a falar sobre todos os organismos sejam eles culturais, sociais, econômicos, educativos, religiosos e até na própria gramática, que excluem ou menosprezam as mulheres, o presente não poderia ser somente um artigo, teria que ser uma coleção de no mínimo dez exemplares, devido a quantidade de situações a serem discutidas.

Sendo assim, passaremos abordar no próximo item as atitudes tidas em relação às mulheres por uma religião brasileira, especificamente a Umbanda, introduzindo uma breve parte histórica desta, que podemos considerá-lá como sendo uma síntese das diversas religiões encontradas no território nacional.

A mulher e a Umbanda

A Umbanda é uma religião puramente brasileira, que tornou-se mais visível na década de vinte principalmente no Rio de Janeiro, se espalhando rapidamente por todo o território nacional.
Segundo Magnani:

A Umbanda, como já foi assinalado, é o resultado de um duplo movimento: de um lado, apropria-se de elementos já existentes no seio de cultos, ritos e valores religiosos populares que constituíam a macumba e o baixo espiritismo, bem como candomblé; de outro, submete-os a um processo de depuração, reinterpretando-os dentro da lógica do kardecismo. Essa ação “civilizatória” sobre rituais “bárbaros” e “atrasados” representa uma tentativa de estruturação de praticas mágico-religiosas heterogêneas, sujeitas a improvisação e criatividade de cada chefe de seus novos líderes que reivindicam, para ela, um espaço social legitimo e próprio, ao lado de outras religiões.

Fruto da junção do candomblé, do catolicismo, do espiritismo, das religiões indígenas e das religiões esotéricas, a Umbanda se constitui, e somente a partir de1929 tivemos o primeiro templo devidamente registrado em cartório.

A Umbanda sempre perseguida, primeiramente pela então igreja católica que usava sua influência política-religiosa para insuflar o governo, e este então saia em perseguição a qualquer pessoa ou local que pudesse estar desenvolvendo atividades de “macumbaria” ou de baixo-espiritismo como era conhecida na época.

Nem mesmo os freqüentadores, das suas co-irmãs, o candomblé e o kardecismo, a defendia; o primeiro por dizer que eles não possuíam os fundamentos e que suas divindades não passavam de Eguns , e a segunda dizia que eles trabalhavam com espíritos inferiores, e questionavam: “o que caboclos e pretos velhos poderiam trazer de bom pois não tinham se quer instrução?”.

Sendo assim, a Umbanda estava fadada a ter que lutar sozinha e foi com essa concepção que ilustres sacerdotes e sacerdotisas conseguiram, aos poucos, ir ganhando terreno, se firmando enquanto religião e se regularizando na medida do possível, até chegar ao que é hoje.

Existem diversas obras que ilustram a trajetória da Umbanda em nosso país, a sua perseguição pelo poder público, privado, pela mídia e principalmente pela igreja, uma delas é Entre a Cruz e a Encruzilhada: a formação do campo Umbandista em São Paulo, de Lísias Nogueira Negrão, obra de extrema seriedade que o autor retrata, em períodos, todas as fazes que a Umbanda passou para se legitimar enquanto religião. Outra obra intitulada, Umbanda, de José Guilherme Cantor Magnani, a qual nos traz de forma clara o funcionamento desta, dentre outras obras.

Como já disse anteriormente, ao buscar bibliografias existentes encontrei várias obras sobre as sacerdotisas do candomblé, mas nenhuma até então, sobre as da Umbanda. Assim, numa tentativa de destacá-las para que não somente eu possa enxergá-las e descobrir suas forças, dentro da Umbanda, é que resolvi buscar o motivo pelo desinteresse a essas mulheres, mães e macumbeiras.

Existe uma diferença considerável entre as sacerdotisas da Umbanda e as do candomblé. Apesar destas duas religiões terem como matrizes as religiões africanas, os atributos dados ao cargo de sacerdotisa nessas duas religiões são diferentes. Tentarei demonstrar as diferenças existentes, entre o cargo de sacerdotisa na Umbanda e no candomblé, e como foi elaborada social e historicamente esta diferenciação. Para tal, trabalharei no próximo item com a mescla de teoria e entrevistas realizadas no trabalho de campo, com as sacerdotisas e adeptos da Umbanda e candomblé no interior de São Paulo.

A construção da diferença

A primeira diferença já pode ser encontrada na própria maneira de tratamento, as sacerdotisas do candomblé são chamadas, geralmente de Ialorixá, enquanto as de Umbanda são chamadas pejorativamente de mães de santo ou macumbeiras.

As mulheres que ocupam o cargo de sacerdotisa na Umbanda são, geralmente, de origem muito humilde, e tem que trabalhar para ajudar os maridos a garantir o sustento de suas famílias. Exercem funções das mais variadas possíveis, são babas, faxineiras, lavadeiras, trabalhadores em indústrias, enfermeiras, vendedoras autônomas ou não trabalham mais devido a idade e vivem com sua aposentadoria. Enquanto que as sacerdotisas do candomblé, a grande maioria não exerce outra função, além do sacerdócio, e como elas mesmas dizem “vivem do santo” .

Não posso deixar de esclarecer também, a grande diferença existente entre os rituais iniciáticos do candomblé que podem durar até vinte e um dias, enquanto os da Umbanda duram, no máximo três dias, fato este que justifica, em parte, o fato de algumas sacerdotisas do candomblé não trabalharem.

Mas por outro lado, temos também que considerar o grande número de pessoas que ocupam cargos ritualísticos e são convocadas para trabalhar nos dias das grandes festas e nas iniciações, e que geralmente moram no espaço do candomblé juntamente com a sacerdotisa.

Na Umbanda, por outro lado, a sacerdotisa além de cumprir as funções ritualísticas, também tem de cumprir varias funções, de dona de casa, mãe, etc.
Das quatro sacerdotisas que entrevistei, três delas, limpam e zelam por seus templos sozinhas, cuidam da decoração quando tem festas ou obrigações, e quando eu perguntei para uma delas se tinha quem a ajudasse, complementou:

Não tenho não senhor! Aqui é diferente dos terreiros de candomblé. Lá tem quem canta, quem cozinha, quem bate atabaque, quem dança, quem limpa, aqui tudo é eu !!!

Se o tabaqueiro não vem, eu tenho que tocar o atabaque, e toda a sexta feira eu limpo o terreiro, lavo os banheiros e coloco as flores, os filhos só chegam quando ta dando a hora de começar e quando eu acordo depois do trabalho, a maioria deles já foram embora.

Podemos notar que as sacerdotisas da Umbanda executam todas as funções dentro do templo sem o menor preconceito, ainda em umas das entrevistas uma delas me disse:

...Quer saber de uma coisa acho que eu prefiro que seja assim, pois aí sei que tudo esta bem feito e limpar o terreiro pra mim não é nenhum sacrifício muito pelo contrario, eu vou limpando cantando pedindo até chorando eu já fiz isso mas faço com amor, pois se a coisa for mal feita o castigo acaba sempre pra dona da casa...

Como podemos ver, com palavras simples e de forma clara, ela me respondeu que, de certa forma, tem orgulho dela própria limpar seu templo e que isso não a diminui diante de seus adeptos, muito pelo contrário, a eleva.

Já no candomblé, a limpeza do chão, por exemplo, é serviço de novatos. As sacerdotisas não podem executar este tipo de tarefa, pois isso é um desrespeito ao cargo que ela ocupa dentro do templo. A hierarquia dentro dos templos de candomblé é seguida a risca.

Algumas usam e abusam do seu poder, por exemplo, fazendo com que, seus filhos, mesmo socialmente, não fumem ou não bebam bebidas alcoólicas em sua presença, (mesmo elas fumando e bebendo); outras exigem que seus filhos se curvem ao passarem à sua frente; algumas não permitem que se sentem em cadeiras, obrigando-os a se sentarem no chão; importante observar aqui, que estes comportamentos não aparecem na Umbanda.

Em alguns templos de umbanda os adeptos chamam as sacerdotisas de mãe, mãezinha, outros de madrinha, mas o relacionamento entre os adeptos por mais principiante que ele seja, é de acolhimento e não de diferenciação. Existe a hierarquia e o respeito pelos mais velhos no santo, mas este é vivido de forma natural, sem imposição, normas de comportamento ou cartilha, é espontâneo.

Não pretendo com este artigo discutir as normas internas dos templos de candomblé, nem tão pouco julgar o comportamento e a imagem das sacerdotisas destes, pois segundo elas próprias comentam, isso é comum dentro destes templos. Meu intuito com este trabalho é, simplesmente, demonstrar as diferenças de mando entre as sacerdotisas da Umbanda e as do candomblé e a diferenciação de tratamento dado a elas, pela sociedade de modo geral e pela academia.

Numa das entrevistas, questionei o fato de serem mulheres ocupando um cargo sacerdotal e se elas não sofriam preconceitos dentro da religião por isso, então uma delas me respondeu:

Preconceito de que? Dos Guias? De jeito nenhum se tivesse algum problema Santo homem não baixava em mulher e vice-versa, ser homem ou ser mulher não tem nada haver o que vale é o respeito com os guias tenho muitos filhos de santo homem e nunca tive nenhum problema, nem com os que são homem-homem nem com os que são meio homem meio mulher o que tem que vencer é o respeito só mais nada, pois se não me respeitar e não respeitar o meu terreiro pode ser homem mulher o que for que aqui não fica.

Refiz a pergunta, pois queria que elas falassem se existia uma certa rivalidade entre os sacerdotes e as sacerdotisas, se acreditavam que os homens pudessem ser mais fortes espiritualmente do que elas, então perguntei se os pais de santo tinham maior poder espiritual que as mães de santo? E a resposta foi unânime, com algumas variações no complemento, então optei pela seguinte:

Não é claro que não, desde quando Deus fica lá escolhendo um a um quem vai ter mais ou menos força na hora de nascer, essa é boa...., já pensou se fosse assim não teríamos mulheres doutoras como tem, nem advogada, professora, seria só os homens, pois força espiritual é que nem inteligência, a grande maioria das pessoas nascem inteligente só que uns desenvolvem mais que os outros. E pra falar a verdade a diferença entre alguns homens e algumas mulheres é só na hora de trocar o botijão de gás, pois tem alguma mulheres que não conseguem carregar ou soltar a mangueira mas eu já dei um jeito nisso, comprei uma chavinha agora troco sozinha, nem pra isso eu preciso do meu marido mais.... risos....

A naturalidade destas sacerdotisas em assumirem sua liberdade, é algo encantador e a forma simples que elas expressam essa situação é mais cativante ainda.
Elas, sem dúvida, agregam o poder de ser mulher, ser mãe e sacerdotisa dentro da sua religião, em sua plenitude, sem ter que se curvar para este ou aquele sacerdote só por este ser do sexo masculino. Elas são as donas do seu espaço.

Como pode ser esta religião rotulada, como foi no princípio, de baixo-espiritismo? Como podem suas divindades serem taxadas de inferiores? Ou ainda de não terem os fundamentos da religião? A Umbanda tem a sabedoria de reconhecer que não existe diferença entre o sacerdote do sexo masculino e a sacerdotisa do sexo feminino.

A impressão que tenho ao entrar em contato com as obras relacionadas as religiões afro-brasileiras, é que não se tem mais nada a ser comentado sobre a umbanda. Que tudo que tinha de ser discutido já foi, pois a maioria delas comentam em pequenas frases, fazendo comparações com o candomblé.
Acredito que não podemos ver a Umbanda pelo candomblé e vice e versa, a Umbanda tem suas particularidades que, somente podem ser vistas, por quem a olha por ela própria.

É nítida a valorização das pesquisas relacionadas aos candomblés, tanto pela quantidade de obras, como pela variedade de temas; obras que tratam de assuntos genéricos da religião em geral e outras mais específicas contando a história de vida de sacerdotisas; não que considere isso ruim, mas entendo que fica um vazio muito grande nos estudos sobre umbanda.

Existem vários autores que comentam e enfatizam sobre a força e o poder das mulheres no candomblé, poder este que fez com que os templos conseguissem ultrapassar todas as barreiras e continuassem abertos mesmo com toda a perseguição policial, religiosa e social, sacerdotisas como Mãe Senhora , Mãe Menininha , a sacerdotisa Olga de Alaketo , entre outras.

Mas em relação a Umbanda estes comentários e historias de suas grandes sacerdotisas não existem. Alguns autores alegam que devido ao fato da umbanda ir assimilando ritos de outras religiões e ajustando aos seus, é comum ouvir comentários que a mesma não possui uma tradição ritualística, tornando-se impossível um trabalho de profundidade sobre a umbanda.

Assim como o candomblé, a umbanda teve ilustres sacerdotisas que lutaram com afinco contra tudo e todos para que elas pudessem praticar sua religião livremente, a única diferença é que ninguém se interessou em contar suas historias. Sacerdotisas como Antonieta Fratucello , Benedita de Azevedo que fundaram seus templos no interior de São Paulo na década de quarenta e que os mesmos continuam em pleno funcionamento, desde sua fundação.

Esta constante mudança e ajustes nos seus rituais elaborados pela umbanda e a sua vinculação com a cultura popular, podem ser os fatores que justificam o desinteresse em pesquisas sobre a umbanda e seus ritos.

Conclusão:

A Umbanda é, sem dúvida alguma, uma religião popular que tem no seu cerne uma síntese das demais religiões existentes no Brasil. Assim como a cultura popular, a Umbanda é um alinhavado de pequenos pedaços de um complexo conjunto de ritos religiosos, que foi se construindo num contexto histórico-social, incapaz de sobreviver sem assimilar os ritos das demais religiões, mas ao mesmo tempo fortalecendo-se com esses ajustes, tornando-se uma religião que consegue agregar em seus rituais, parte das demais, sem perder seus princípios básicos que são a caridade, a paz e o amor.

Por se tratar de uma religião popular, em que seus ritos são como se fossem de domínio publico, pois não existe nenhuma instituição que controle ou dite regras a serem seguidas, salvo algumas federações que tentam normatizar seus ritos sem muito sucesso, a Umbanda desde sua constituição sobrevive com a seguinte norma: cada sacerdote ou sacerdotisa é o senhor (a) absoluto (a) dentro do seu templo, ditando suas normas.

A coragem e a força de algumas sacerdotisas de umbanda, desde o seu aparecimento até os dias de hoje, é algo que devemos destacar, pois elas conseguiram romper modelos e provar que mesmo a umbanda não tendo um manual de procedimentos ritualísticos, não seguindo nenhum livro sagrado que apresentasse normas a serem seguidas, conseguiram manter seus templos abertos e agregando adeptos.

E como se não bastasse todo o preconceito enfrentado pelas mulheres, como já foi discutido no início deste artigo, as sacerdotisas da Umbanda, carregam um nível de impureza ainda maior, pois praticam uma religião popular de matriz negra, levam o rótulo de macumbeiras, que sempre é pejorativo, e geralmente são pobres.

Com essas mulheres, é que no meu entendimento, tanto a sociedade de forma geral, como a academia está em débito; não tiveram ainda a sensibilidade de perceber a importância de relatar a história destas sacerdotisas, histórias de suas lutas, suas derrotas e suas vitórias, pois além de mulheres, conseguem ser mães e além de mães, macumbeiras.

Mulheres humildes que agregam no seu hall de conhecimento a mais pura forma de sabedoria, aquela que adquirimos no nosso dia a dia, com os nossos avós, pais, vizinhos, amigos, etc.; são coisas simples na verdade se a observarmos separadamente, mas se observarmos o seu todo, não existe nenhum curso ou especialização que possa transmitir tais conhecimentos, pois estes são adquiridos através de experiências vividas e isso ninguém tem como transmitir de forma clara para que possa ser assimilado, por mais experiente que seja o educador.

A conclusão que chego depois de analisar as entrevistas realizadas e juntamente com as teorias colhidas nas bibliografias, é que as sacerdotisas da Umbanda são muito semelhantes á cultura popular, devido a forma de aglutinarem tudo o que as interessam e o que é benéfico as suas sobrevivências e simplesmente ignorarem o que não acham interessante. Sendo assim, tornam-se instrumentos imprescindíveis para a compreensão e estudos de gênero, bem como de cultura propriamente dita.

Minha saudação e o meu respeito a todas as sacerdotisas do Brasil pela garra, força e determinação e as religiões afro-descendentes por não qualificar o ser humano por seu sexo.

NOTAS:

1. Algumas obras encontradas: Terezinha BERNARDO, Negras, Mulheres e Mães: Lembranças de Olga de Alaketu,2003. / Cleo MARTINS & Raul LODY– Faraimará- O caçador traz Alegria: Mãe Estela 60 anos de iniciação, 2000./ Ruth LANDES, A cidade das Mulheres,([1940] 1967), dentre outras.

2.Robin SCHOTT, Eros e os Processos Cognitivos: Uma Critica da objetividade em filosofia, p.18.
3.Ibid., p.19.

4.Robin SCHOTT, Eros e os Processos Cognitivos: Uma Critica da objetividade em filosofia, p. 64.
5.O acscetismo órfico consistia de uma negação do valor do corpo, da sexualidade e da moralidade.

6.Robin SCHOTT, Eros e os Processos Cognitivos: Uma Critica da objetividade em filosofia, p. 85.

7.Jose Guilherme Cantor MAGNANI, Umbanda, p. 27.
8.Lísias Nogeuira NEGRÃO, Entre a Cruz e a Encruzilhada: Formação do Campo Religioso em São Paulo, p.67.
9.Eguns em alguns candomblés além de ser o nome dado aos espíritos dos ancestrais é também o nome dado ao espírito desencarnado a pouco tempo.

10.Expressão usada por seguidores de alguns candomblés para as sacerdotisas que sobrevivem única e exclusivamente das consultas e obrigações a consulentes e filhos de santo.
11.Entrevista realizada em 10/2005 com a sacerdotisa de Umbanda M.T.
12.Entrevista realizada em 08/2005 com a sacerdotisa de Umbanda B.O.

13.Entrevista realizada em 10/2005 com a sacerdotisa de Umbanda M.T.
14.Entrevista realizada em 10/2005 com a sacerdotisa de Umbanda M.T

15.Mãe Senhora, foi Ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá nas décadas de 50 e 60, faleceu em 1967.
16.Mãe Minininha, foi Ialorixá do Terreiro do Gantois, durante 64 anos, faleceu em 1986.
17.Olga de Alaketu, foi Ialorixá do Ilê Maroiá Láji, durante 65 anos, faleceu em 2005.
18.Antonieta Fratucello, foi fundadora da Tenda Espírita Pai João na cidade de Americana-SP, em meados de 1940, falecida em 02/11/1982
19.Mãe Ditinha dói fundadora do Terreiro de Umbanda São Jorge Guerreiro na cidade de Americana-SP em meados de 1945, faleceu em /2005.


Referencias Bibliográfica:

ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.
AMARAL, Adilson Rogério do. Tenda Espírita Pai João: relatos de sua história e do funcionamento ritualístico, místico e sincrético. Americana: Compacta, 2003.
AMARAL, Rita. Xirê! O modo de crer e de viver no candomblé. Rio de Janeiro: Pallas; São Paulo: EDUC, 2002.
BERNARDO, Teresinha. Negras, Mulheres e Mães: Lembranças de Olga de Alaketu. São Paulo: EDUC; Rio de Janeiro: Pallas, 2003.
CONCONE, Maria Helena Vilas Boas. Umbanda: Uma religião Brasileira. São Paulo: FFLCH/USP, CER, 1987.
HIGHWATER, Jamake. Mito e Sexualidade. Trad. João Alves dos Santos, 1 ed. São Paulo: Saraiva, 1992.
JOAQUIN, Maria Salete. O papel da liderança religiosa feminina na construção da identidade negra. Rio de Janeiro: Pallas; São Paulo: Educ, 2001.
LODY, Raul. O povo do Santo: religião, história e cultura dos orixás, voduns inquices e caboclos. Rio de janeiro: Pallas, 1995.
LUZ, Marco Aurélio. Agadá: Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira. 2ª edição, Salvador: EDUFBA, 2000.
MAGNANI, Jose Guilherme Cantor. Umbanda. São Paulo: Editora Atica S/A, 1986.
MARTINS, Cleo. LODY, Raul (Org.). Faraimará, O Caçador traz Alegria: Mãe Stella, 60 anos de iniciação. Rio de Janeiro: Pallas, 2000.
NEGRÃO, Lísias Nogueira. Entre a Cruz e a Encruzilhada: Formação do Campo Umbandista em São Paulo. São Paulo: Editora da USP, 1996.
PRANDI, Reginaldo. Segredos guardados: Orixás na alma brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
SANTOS, Maria Stella de Azevedo. Meu tempo é Agora. São Paulo: Editora Oduduwa, 1993.
SCHOTT, Robin. Eros e Os Processos Cognitivos: Uma critica da objetividade em filosofia. Tradução Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1996.






    Artigo 13   


Igualdade e desigualdade social do ponto de vista reencarnacionista 




Por Jorge Hessen

Acompanhamos pela Internet, através das redes sociais, os legítimos clamores populares em face do atual cenário político brasileiro. Observa-se pujante manifesto de reproche da massa, considerando os caminhos obscuros que representam para o futuro da Pátria do Evangelho o presumível hasteamento da bandeira afogueada do ideário extremista. O inconsciente coletivo está provido de fatos históricos contemporâneos em cuja ribalta a “universal” flâmula rubra do absolutismo materialista foi desfraldada sobre os entulhos cadavéricos de milhões de cidadãos chineses , soviéticos, cubanos, norte-coreanos, trucidados nos últimos 50 anos.

Nos dois últimos séculos, a violência ideológica engendrou o cenário vastíssimo de lutas inglórias. Todas as ciências sociais têm sido solicitadas para os grandes debates sobre o capitalismo e o comunismo. O Espiritismo se apresenta na discussão a fim de encorajar a luta pela paz, a fim de que não se perca os bons frutos dos que trabalharam e padeceram no esforço penoso da harmonia de todos. Com as comprovações da sobrevivência, o Espiritismo vem reabilitar o Evangelho, esparzindo, igualmente, os perenes preceitos do Mestre de Nazaré na intimidade do coração humano.

Sob o pilar da reencarnação, a Doutrina dos Espíritos elucida a incoerência das teorias do igualitarismo [comunismo], coopera no reparo do adequado caminho da evolução social. Emoldurando o socialismo nos apelos cristãos, não se deslumbra com as reformas exteriores, para rematar que a excepcional renovação considerável é a do homem interior, célula viva do organismo social de todos os tempos, pugnando pela ativação dos movimentos educativos da criatura, à luz eterna do Evangelho do Cristo.

O Espiritismo anuncia o regime da responsabilidade, em que cada Espírito deve enriquecer a catalogação dos seus próprios valores. “Não se engana com as utopias da igualdade absoluta [comunismo], em vista dos conhecimentos da lei do esforço e do trabalho individual, e não se transforma em instrumento de opressão dos magnatas da economia e do poder [capitalismo], por consciente dos imperativos da solidariedade humana”. 1

Não adota o princípio das revoluções por questões menores, porque exclusivamente a evolução é o seu anfiteatro de atividade e de experiência, afastado de todas as guerras pela compreensão dos laços fraternos que reúnem a comunidade universal, “ensina a fraternidade legítima dos homens e das pátrias, das famílias e dos grupos, alargando as concepções da justiça econômica e corrigindo o espírito exaltado das ideologias extremistas”. 2

Indagado sobre a desigualdade verificada entre as classes sociais, o Espírito Emmanuel esclareceu que “a desigualdade social é o mais elevado testemunho da verdade da reencarnação, mediante a qual cada espírito tem sua posição definida de regeneração e resgate. Nesse caso, consideramos que a pobreza, a miséria, a guerra, a ignorância, como outras calamidades coletivas, são enfermidades do organismo social, devido à situação de prova da quase generalidade dos seus membros. Cessada a causa patogênica com a iluminação espiritual de todos em Jesus Cristo; a moléstia coletiva estará eliminada dos ambientes humanos”.3

Refletindo sobre o ideário comunista, o mentor de Chico Xavier elucida o seguinte: “a concepção igualitária absoluta [comunismo] é um erro grave em qualquer departamento da vida. A tirania política poderá tentar uma imposição nesse sentido, mas não passará das espetaculosas uniformizações simbólicas para efeitos exteriores, porquanto o verdadeiro valor de um homem está no seu íntimo, onde cada espírito tem sua posição definida pelo próprio esforço”. 4

Allan Kardec pronuncia que “a desigualdade das riquezas é um dos problemas que em vão se procuram resolver, quando se considera apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é a seguinte: Por que todos os homens não são igualmente ricos? Por uma razão muito simples: é que não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar”.5 Para o Codificador “a pobreza é para uns a prova da paciência e da resignação; a riqueza é para outros a prova da caridade e da abnegação. Razão pela qual o pobre não tem, portanto, motivo para acusar a Providência, nem para invejar os ricos, e estes não o têm para se vangloriarem do que possuem. Se, por outro lado, estes abusam da fortuna, não será através de decretos, nem de leis suntuárias, que se poderá remediar o mal”. 6

Deus nos outorga a todos uma oportunidade idêntica ante a dinâmica do tempo. Todos temos os direito de conquistar a sabedoria e o amor pelo cumprimento do dever e do entusiasmo individual. Impregnamos o próprio mapa de méritos nas lutas do dia a dia. Sobre as questões proletárias, obviamente elas podem ser resolvidas sem violências, sobretudo quando forem categoricamente aceitos e aplicados os princípios abençoados do Evangelho. “Os regulamentos apaixonados, as greves, os decretos unilaterais, as ideologias revolucionárias, são cataplasmas inexpressivas, complicando a chaga da coletividade. Todos os homens são proletários da evolução e nenhum esforço de boa realização na Terra é indigno do espírito encarnado. Cada máquina exige uma direção especial, e o mecanismo do mundo requer o infinito de aptidões e de conhecimentos”. 7

A harmonia da sociedade não virá por decretos, nem de parlamentos que caracterizam sua ação por uma força excessivamente passageira. É desnecessário desviarmos o tempo com debates inócuos a fim de identificarmos o desengano das teses de Karl Marx. Reafirmamos que seus seguidores (sequer creem em Deus) “sonham com a igualdade irrestrita das criaturas, sem compreender que, recebendo os mesmos direitos de trabalho e de aquisição perante Deus [acreditem ou não!], os homens, por suas próprias ações, são profundamente desiguais entre si, em inteligências, virtude, compreensão e moralidade”. 8

Com magna acuidade o notável Leon Denis proferiu: “O Espiritismo é, ninguém se engane, um dos maiores acontecimentos da história do mundo.

Assim hoje, em face das doutrinas religiosas enfraquecidas, petrificadas pelo interesse material, impotentes para esclarecer o Espírito humano, ergueu-se uma filosofia racional, trazendo em si o germe de uma transformação social, um meio de regenerar a Humanidade, de libertá-la dos elementos de decomposição que a esterilizam e enodoam”. 9

Referências bibliográficas:
1 Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1977
2 Idem
3 Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, questão 55
4 Idem, questão 56
5 Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XVI, item 8, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1990
6 Idem
7 Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1999, questão 57
8 Idem, questão 234
9 Denis, Leon. Depois da Morte, capitulo 24, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1998

Fonte: Revista on-line de artigos espíritas



    Artigo 12   


Liberdade de expressão
ou discurso de ódio?
Por Ana Cláudia Mielki*

Religiosos/as do Candomblé e da Umbanda ocupam Brasília, hoje (10/6/14), para exigir respeito e tratamento digno às religiões de matriz africana. Vindos de várias regiões do país, o grupo denuncia a sistemática violação do direito de crença e liberdade das minorias religiosas, no Brasil.

A mobilização foi motivada pelo repúdio à decisão do juiz titular da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro, Eugênio Rosa de Araújo, que negou o pedido de retirada de vídeos com mensagens de intolerância contra religiões afro-brasileiras. Um dos vários episódios recentes trouxeram à tona a discussão sobre o direito à liberdade de expressão.

Ao negar pedido do Ministério Público Federal (MPF) para que fossem retirados do YouTube os vídeos que ostensivamente atacavam as religiões de matriz africana e ofendia diretamente seus praticantes, o juiz usou como argumento o direito à liberdade de expressão: “Tendo sido afirmado que tais vídeos são de mau gosto, como ficou expressamente assentado na decisão recorrida, porém refletem exercício regular da referida liberdade [de expressão]”, afirmou o texto da decisão publicado em 28 de abril.

Juristas e operadores do direito sabem que ponderar entre dois direitos fundamentais não é tarefa das mais fáceis. Isso porque direitos não são hierarquizáveis a priori. No caso em questão, contrapunham-se o direito ao livre culto religioso e o que garante a liberdade de expressão, ambos fundamentais e assegurados no Art. 5º da Constituição. O juiz optou pelo segundo em detrimento do direito ao culto para justificar uma posição claramente racista. O que me faz questionar: esses direitos são mesmos inconciliáveis? O que a primazia de um sobre o outro revela?

A liberdade de expressão é um direito assegurado em inúmeros tratados internacionais, entre eles a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (OEA, 1969) e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (ONU, 1966), dos quais o Brasil é signatário. O direito à liberdade de expressão aparece nesses documentos como um direito negativo, ou seja, ele não é provido pelo Estado, mas deve ser garantido por este.

No fundamento dessas ordenações está a premissa de que a garantia dessa liberdade deve favorecer os mais fracos, ou seja, garantir as vozes dissonantes, a multiplicidade de pensamentos, independente do establishment e das forças que operam o Estado. No caso em questão, os praticantes das religiões é que tiveram a liberdade de expressão negada. Vale ressaltar, inclusive, que a Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público teve como base uma representação feita pela Associação Nacional de Mídia Afro.

Ocorre que, no Brasil, tal premissa tem sido diariamente desvirtuada para garantir justamente o contrário, a saber, o domínio pela ordem do discurso. Em outras palavras, são justamente os conglomerados de mídia, dentre os quais os formados pelas igrejas evangélicas aqui mencionadas, que mais têm se utilizado do direito à liberdade de expressão para garantir seus próprios interesses e para garantir a manutenção de sua própria ordem.

Na defesa do direito dos ofendidos, dos atacados e dos aniquilados (sim, porque pessoas são assassinadas ou culturalmente massacradas em consequência de discursos), vale jogar luz ao fato de que a liberdade de expressão não é um direito absoluto a ser garantido em detrimento dos demais direitos.

Os mesmos instrumentos internacionais citados acima também dizem que os países signatários devem normatizar a proibição da propaganda em favor da guerra; e a apologia do ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à violência – o chamado discurso de ódio. O caso Sheherazade talvez seja o mais emblemático para exemplificar como esse discurso tem sido artificialmente confundido com a liberdade de expressão.

Diante dessas questões, fica claro que os países devem encontrar soluções normativas para assegurar a liberdade de expressão, mas também para evitar que ela infrinja outros direitos. O Pacto Internacional enumera, inclusive, passos para se realizar a restrição à liberdade de expressão nesses casos. Em geral, trabalha-se a partir da velha “máxima” que diz: “o direito de um termina quando começa o direito do outro”, que parece ter sido esquecida por aqui.

Por fim, vale lembrar que países como Estados Unidos da América (EUA), França e Inglaterra possuem, para além de normativas de contenção do discurso de ódio, órgãos reguladores e diretivas específicas voltadas ao monitoramento desse tipo de violação dos direitos humanos nos meios de comunicação eletrônica de massa, inclusive a radiodifusão (rádio e TV). No Brasil, esse debate ocorre de forma enviesada, sendo erroneamente tachado como censura. Isso quando não é sumariamente interditado.

O mundo (ou pelo menos a parte que compõe o sistema das Organizações das Nações Unidas) construiu, nas últimas décadas, um entendimento comum sobre a necessidade de se conter o discurso de ódio. Desde os horrores do Holocausto e da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, foram criadas políticas de contenção do discurso contra cidadãos de ascendência judaica, em especial nos países onde houve maior migração desse grupo étnico, caso dos EUA. Pergunto: se fossem os judeus ou mesmo os católicos o alvo dos ataques e ofensas deferidos pelas pregações evangélicas que estão no YouTube, a decisão teria sido por mantê-las na rede?

A decisão, além de débil do ponto de vista jurídico, também é abjeta do ponto de vista cultural. Isso porque contribui para o reforço à estigmatização das religiões de matriz africana (e daí vale lembrar que o mesmo juiz, no texto inicial da decisão, havia colocado que tais manifestações não deveriam ser consideradas como religiões) e de seus praticantes, colocando mais uma vez, a população negra, seus costumes e suas crenças, como algo do não-humano e do não-cultural, como se o “outro”, o “estranho” ou o “exótico” fôssemos nós – 51% da população desse país!

* Ana Cláudia Mielki é jornalista e integrante da Coordenação Executiva do Intervozes
10 de junho de 2014





    Artigo 11     


PARTE 3: CAUSAS DA OBSESSÃO


Em continuidade a série sobre Obsessão, hoje apresentamos um texto sobre as causas desse fenômeno espiritual, que afeta a muitas pessoas. Em algumas situações, ele se confunde com distúrbios mentais ou com graves problemas de saúde. Desvendar os motivos que provocaram o acicatamento espiritual. Confira o o artigo:


É de importância vital aos que lidam com o tratamento da obsessão, descobrir as causas que levaram o paciente a cair sob o domínio do Espírito obsessor que o atormenta. Sabemos, por meio dos ensinamentos de Allan Kardec, que no fundo de todas as perturbações espirituais residem as fraquezas morais do perturbado, as imperfeições da alma que são as portas de entrada para a influência estranha.

Algo parecido acontece com as doenças do corpo físico: quando elas se instalam no organismo, a causa está geralmente nas fraquezas da estrutura orgânica.Em estudos realizados no Grupo Espírita Bezerra de Menezes, na cidade de São José do Rio Preto, SP, onde foram examinados mais de 7 mil casos de anormalidades comportamentais, causadas por espíritos ou não, se classificou as causas da obsessão como sendo provenientes de quatro fontes distintas: Causa moral; Causa cármica; Contaminações; e Auto-obsessão.

Causa moral 

Há duas situações que podem levar um paciente a ser vítima da obsessão de fundo moral: o Espírito imaturo e o Espírito mal orientado. No primeiro caso, o da imaturidade espiritual, encontram-se pacientes poucos adiantados moralmente, com o psiquismo ainda dominado por pensamentos inferiores. A conduta dessas pessoas em torno de ações e pensamentos inferiores atrai Espíritos imperfeitos que se afinizam com elas.
No começo da relação, verifica-se tão somente uma interferência em algumas atitudes do indivíduo. Mais tarde, aparece um delicado mecanismo de interinfluência, em que as vontades e os desejos são trocados entre perturbado e perturbador.

A seguir, a vontade do obsediado vai aos poucos sendo substituída pela do obsessor, instalando-se o fenômeno obsessivo. Este tipo de obsessão é comum e há situações em que seus portadores nem percebem que dividem sua vida mental com um Espírito inferior. Nesse tipo de obsessão não há grande chance de sucesso no tratamento. O que se pode conseguir é uma melhoria relativa, pois não há como mudar bruscamente o estado evolutivo de uma pessoa, fazendo-a entender conceitos que ainda não tem condições de conceber.

Na segunda situação, o do Espírito mal orientado encontra-se os pacientes que tiveram educação deficitária no lar, na religião ou na escola. A inferioridade do mundo terreno, seus costumes e sistemas educativos estimulam no ser humano o desenvolvimento das paixões e o afastam de Deus. Estruturas psicológicas mal orientadas provocam nas pessoas condutas desregradas, levando-as a sintonizar com Espíritos inferiores. Pelo mesmo mecanismo citado acima, forma-se o processo obsessivo de fundo moral. Nesses casos, o tratamento será mais fácil, pois trata-se de um problema que uma simples orientação bem conduzida pode resolver.

Causa cármica 

Classificam-se como obsessões cármicas os casos obsessivos relacionados com as vidas passadas de um paciente em desequilíbrio. Carma é um termo que se refere à bagagem histórica do Espírito. É o produto de todas as encarnações vividas pela entidade. A palavra "carma" é de origem sânscrita (uma das mais antigas línguas da Índia), e significa "ação". Pode-se dizer, a grosso modo, que o carma é a ação do Espírito em toda sua trajetória evolutiva, desde sua primeira encarnação.

Denominam-se obsessões de "causa cármica", aquelas em que as perseguições observadas são oriundas do relacionamento entre obsediado e obsessor, ocorridas em vidas passadas, neste ou noutros mundos. É um tipo de obsessão provocada pela desarmonia de conduta entre duas ou mais criaturas, gerando ódios, ressentimentos e vinganças que podem se estender às suas vidas futuras. A lei de ação e reação, ou causa e efeito, regula estes processos de ajuste entre as partes envolvidas, permitindo que as consequências deste plantio mal feito deem seus frutos com vistas ao aprendizado de todos.

O comprometimento no passado, através das ligações vibratórias, atrai o desafeto desencarnado que, vendo consumida a fase de infância de seu inimigo, inicia sua influência maléfica sobre ele. No passar dos anos instala-se a obsessão, apresentando maior ou menor gravidade, segundo as circunstâncias que cercam cada caso.

Contaminações

Em A Gênese, Capítulo XIV, Allan Kardec fez um importante estudo sobre os fluidos espirituais. Examinando suas colocações, pode-se concluir que os ambientes materiais possuem uma espécie de atmosfera espiritual criada pelas pessoas que vivem em relação com eles.

Entende-se daí, que os centros espíritas, os terreiros de Umbanda, as Igrejas, os lares, os locais de trabalho e de diversões, constituem-se em verdadeiros núcleos de magnetismo espiritual, criados pelos pensamentos dos que os frequentam. Aprendemos que nesses ambientes constituídos por pessoas mais ou menos imperfeitas, associam-se Espíritos desencarnados com tendências afins.

Nas investigações em torno da obsessão, realizadas no Grupo Espírita Bezerra de Menezes, verificou-se que freqüentadores de ambientes espirituais onde predominam a presença de Espíritos inferiores (terreiros primitivos, centros espíritas desajustados ou templos de seitas estranhas), podem ficar contaminados com sua influência. Tal domínio se forma em virtude da sintonia mental dos freqüentadores, com os Espíritos que habitualmente vão ali. Denominou-se essas obsessões de "contaminações".

Nos casos dos terreiros ditos de Umbanda, os consulentes — como são chamados ali os necessitados — quase sempre vão solicitar ajuda para a solução de seus problemas materiais e amorosos. Nesses ambientes, geralmente predominam interesses imediatistas, ligados à vida material e ninguém costuma tratar das questões morais relativas ao futuro do indivíduo como Espírito imortal.

Os espíritos inferiores que militam nesses ambientes ajudam as pessoas interferindo em suas vidas, causando-lhes contrariedades ou efeitos materiais que iludem os que não possuem conhecimento da verdade ensinada pelo Consolador. Quando o freqüentador se afasta desses lugares, a influência dos maus Espíritos nem sempre cessa. Ao notarem que estão perdendo suas vítimas, podem instalar a desarmonia emocional e mesmo material na vida dos envolvidos.

As obsessões causadas por contaminações são mais freqüentes do que se imagina. Na região de São José do Rio Preto, SP, por exemplo, perfazem 40% do total dos casos examinados. As contaminações também podem ocorrer através das atividades de centros espíritas mal orientados. Quando pessoas novatas, sem estudo ou preparo, são colocadas em reuniões mediúnicas para exercitar suas faculdades, é muito comum caírem sob o domínio de Espíritos inferiores, terminando como vítimas da obsessão. Grupos espíritas dominados por entidades ignorantes e malévolas são verdadeiros focos de contaminação espiritual, que prejudicam os que ali vão buscar ajuda e orientação para suas vidas.

Auto-obsessão 

Na auto-obsessão, a mente da pessoa enferma encontra-se numa condição doentia semelhante às neuroses. É uma situação onde ela atormenta a si mesmo com pensamentos dos quais não consegue se livrar. Há casos mais graves em que o paciente não aceito que seu mal resida nele mesmo.

As causas deste tipo de obsessão residem nos problemas anímicos do paciente, ou seja, nos seus dramas pessoais, dessa ou de outras encarnações. São traumas, remorsos, culpas e situações provindas da intimidade do seu ser, que prejudicam-lhe a normalidade psicológica.

Quando se examina esses casos mediunicamente, podem-se encontrar Espíritos atrasados ou sofredores associados à vida mental dos doentes. Mas, as comunicações indicam que eles estão ali por causa da sintonia mental com o obsedado. Agravam seu mal, mas não são os causadores dele.

A causa central desse tipo de obsessão reside no paciente, que se auto-atormenta, numa espécie de punição a si mesmo. A mente de um auto-obsediado é fechada em si mesma e é preciso abri-la para a vida exterior, se quisermos ajudá-lo.

A psicoterapia convencional pode e deve ser utilizada no tratamento da auto-obsessão. Juntando-se a ela a terapia espírita, fundamentada na evangelização e no ascendente moral, pode-se obter resultados satisfatórios. O tratamento abrirá a prisão psíquica em que o indivíduo vive, libertando-o da escravidão mental.



    Artigo 10     


O que é a obsessão

No Movimento Espírita existe muita confusão a respeito do que seja a obsessão e de como se caracteriza. Um dos obstáculos para a sua cura está na dificuldade que se tem para identificá-la.Frequentemente, ela é confundida com a simples influência de Espíritos sofredores ou com as influenciações negativas que todo ser humano recebe. Pode-se comparar este erro mais ou menos como o do médico que, ao examinar o paciente, confundiu resfriado com tuberculose. Há aqueles que confundem obsessão com mediunidade a ser desenvolvida. A obsessão, afirmam, deve ser curada com o desenvolvimento da mediunidade ou com o trabalho do paciente no campo da assistência social.

Eis um grave erro que pode levar a consequências danosas. É o mesmo que um médico prescrever para a cura de uma doença, que seu paciente estude medicina ou trabalhe no hospital.

A obsessão é uma doença de fundo moral que deve ser tratada por métodos lógicos e racionais ensinados pela Doutrina Espírita. Se vai haver atividade mediúnica ou não na vida do paciente, isto será definido depois do tratamento, pois dependerá de uma série de fatores que deverão ser avaliados pelo dirigente de sessões ou responsável pela orientação da casa.

É necessário ao observador deter-se em alguns detalhes para identificar corretamente o processo obsessivo. Só assim, poderá tratá-lo com sucesso.
"A obsessão apresenta características diversas que precisamos distinguir com precisão, resultantes do grau de constrangimento e da natureza dos efeitos que este produz" – (Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, capítulo 18:237)

"A palavra obsessão é portanto um termo genérico pelo qual se designa o conjunto desses fenômenos, cujas principais variedades são: a obsessão simples, a fascinação e a subjugação" – (Idem, acima).

Definição clássica:

Allan Kardec, o codificador, assim define a obsessão:

"A obsessão é a ação persistente de um Espírito mau sobre uma pessoa. Apresenta características muito diversas, desde a simples influência de ordem moral, sem sinais exteriores perceptíveis, até a completa perturbação do organismo e das faculdades mentais" – (O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 28:81).

"Trata-se do domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas. São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominar, pois os bons não exercem nenhum constrangimento. ...Os maus, pelo contrário, agarram-se aos que conseguem prender. Se chegam a dominar alguém, identificam-se com o Espírito da vítima e a conduzem como se faz com uma criança" – (O Livro dos Médiuns, capítulo 28:237).

A obsessão é o domínio que os Espíritos inferiores adquirem sobre algumas pessoas, provocando-lhes desequilíbrios psíquicos, emocionais e orgânicos. Esta é a definição básica que Allan Kardec deu a ela. Como causa fundamental da obsessão, o Codificador apontou certas fraquezas do organismo moral dos pacientes.

A Doutrina Espírita ensina que todos nós recebemos a influência dos bons e dos maus Espíritos, explicando que trata-se de um processo natural, por meio da qual a criatura é estimulada à experiência evolutiva quando está encarnada. No entanto, quando um Espírito atrasado se apega a uma pessoa e sua influência perniciosa torna-se constante, então se pode classificá-la como obsessão.

Os sintomas que caracterizam a obsessão variam de caso para caso, desde simples efeitos morais, passando por manias, fobias, alterações emocionais acentuadas, mudanças na estrutura psíquica, subjugação do corpo físico, até a completa desagregação da normalidade psicológica, produzindo a loucura.

No tratamento da obsessão é preciso saber distinguir seus efeitos, daqueles outros causados pelas influências naturais (mais ou menos passageiras) e das alterações emocionais oriundas do próprio psiquismo do paciente.

Existem pessoas que procuram o Centro Espírita portando desequilíbrios psicológicos que, embora possam se beneficiar dos ensinamentos da Espiritualidade, também necessitam do apoio de terapeutas.

A relação com a vida atual, a própria educação que recebeu ou seu passado reencarna tório trouxeram-lhes traumas e condicionamentos que os fazem sofrer.

O estudo da Doutrina e as palestras públicas poderão ajudar esses indivíduos na recuperação da normalidade almejada, mas o entrevistador ou orientador não deve dispensar a competente orientação profissional, quando achar isso necessário.

É evidente que o entrevistador ou dirigente do Centro Espírita têm de saber diferenciar a obsessão das outras anomalias psíquicas. Existem algumas regras gerais que podem ser observadas, mas o que vai ajudá-los em profundidade, será a experiência em torno dos casos examinados.

O fenômeno obsessivo apresenta sinais morais, psicológicos ou físicos característicos, que o trabalhador deve aprender a identificar. Na obsessão, observa-se um constrangimento da vontade do paciente, um incômodo que parece não ceder a nenhuma providência. Na simples influência de sofredores, isso não ocorre. Nela, só se observa a tristeza apática, a melancolia, às vezes crises de choro, sem maior gravidade. Alguém pode estar alterado emocionalmente, influenciado por um Espírito sofredor, sem com isso estar obsediado.

Os sintomas relacionados abaixo podem ser indicadores de processos obsessivos já desenvolvidos ou em fase de desenvolvimento. Se permanecerem constantes em uma pessoa, pode-se suspeitar com grande margem de acerto que esteja sob o império da obsessão. São eles:

Depressão, angústia e tristeza.
Pesadelos constantes.
Tendência ao vício.
Práticas mundanas.
Agressividade além do normal.
Abandono da vida social ou familiar.
Ruídos estranhos à própria volta.
Visão freqüente ou esporádica de vultos.
Impressão de ouvir vozes.
Manias e tiques nervosos

Uma pessoa, vez por outra, pode ter um pesadelo, entrar num estado de tristeza ou sentir qualquer dos sintomas citados acima, sem que esteja sendo vítima da obsessão. O que caracterizará a fenomenologia obsessiva é a insistência desses estados mórbidos em incomodar a pessoa desajustada.

Ainda no campo dos sintomas, pode-se afirmar que nas simples influências espirituais, as entidades envolvidas normalmente são Espíritos sofredores ou ignorantes, que podem ser afastados facilmente do campo psíquico do paciente através de passes e evangelização. Nas obsessões provocadas por Espíritos maus é diferente. Os sintomas apresentam-se com tendências agravantes e doentias.

Observa-se uma insistência da entidade em agredir o obsediado ou interferir na sua mente, afetando a normalidade.Com o tempo, o responsável pelo atendimento na casa espírita adquirirá a experiência suficiente para detectar a obsessão e providenciar seu tratamento com relativa segurança.




 Artigo nº  9   



PARTE 1 - OBSESSÃO



Introdução


As informações existentes neste estudo têm como finalidade levar o trabalhador ou dirigente espírita que lida com a obsessão, a um melhor entendimento acerca dos métodos pelos quais se é possível identificá-la e tratá-la com relativa segurança.


Sabe-se que a obsessão é uma disfunção mental de fundo espiritual, que sempre esteve presente na vida do homem terreno. Seu tratamento foi mistério em todos os tempos. Com o advento do Espiritismo, conseguiu-se uma explicação racional para o fenômeno, demonstrando suas causas, classificando seus efeitos e apontando caminhos para sua cura.

Nos tempos atuais, devido ao crescimento desmedido da população, sua decadência moral e os inúmeros problemas sociais que enfrenta o mundo, a obsessão tornou-se um verdadeiro flagelo, provocando desentendimentos, vícios, anomalias psicológicas, suicídios e outros males do gênero. A ciência humana continua não aceitando os conceitos espíritas a respeito do assunto, deixando de oferecer oportunidade de cura a inúmeros pacientes que a procuram. A Doutrina Espírita ainda é a única saída para o alívio e cura da obsessão, principalmente os casos mais graves.

Frente a essa situação de emergência por que passa a humanidade, nós espíritas, que somos os trabalhadores da última hora, temos que nos esforçar para termos um bom entendimento das causas da obsessão e dos métodos que podemos utilizar para cuidarmos dos que são vitimados por ela.

A obsessão é ainda um dos maiores entraves para a prática da mediunidade. Allan Kardec afirmou que nunca seriam demais as providências destinadas a combater sua influência daninha.
A prática do Espiritismo, por uma série de fatores, passa por um período onde sua produtividade terapêutica é baixa. Essa situação de pouca produção precisa ser questionada para se promover o progresso.
A Doutrina Espírita nos ensina que tudo deve progredir. E para sabermos se a ajuda espiritual ministrada em nossa casa está sendo suficientemente útil basta controlarmos os tratamentos que vêm sendo feitos pela equipe de desobsessão. Os dados pessoais do obsedado, bem como os principais sintomas da perturbação, devem ser anotados em fichas de informações. Depois de algum tempo, 30 ou 60 dias, por exemplo, faz-se uma comparação com o período anterior ao tratamento. Se houve melhora de sintomas em mais de 50% dos casos, o atendimento está em bom nível. Abaixo deste índice, é preciso melhorar a metodologia utilizada.

O que se tem observado num considerável número de sociedades é a necessidade urgente de se aperfeiçoar o método de tratamento utilizado. Isso, quando ele existe. Inclui-se nesse aperfeiçoamento, a melhoria das atividades mediúnicas, com o desenvolvimento de médiuns seguros e flexíveis para tratarem das evocações, doutrinações e pesquisas.

Na literatura espírita temos vários trabalhos falando do tema "desobsessão". Porém, em maioria foram escritos por autores desabituados com as lides diárias da obsessão. São teóricos que pouco entendem do lado prático do tratamento. Esses estudos deixam a desejar quanto à realidade prática das instituições espíritas. Repetem antigos e mal interpretados conceitos, teses redundantes que pouco acrescentam ao conhecimento de quem precisa mudar.
Fizemos esse trabalho com a finalidade de colaborar para minimizar essa deficiência. Queremos, com ele, contribuir para que o tratamento da obsessão nas casas espíritas seja mais organizado e apresente resultados mais satisfatórios.








 Artigo nº  8   


Refeições com carnes, ou vermelhas ou brancas, provocam sempre uma discussão. Em março do ano passado, publicamos um artigo do médico Ricardo Di Bernardi, de Florianópolis (SC) sobre o tema. Ele aconselhava, com base em orientação dos espíritos,  evitarmos a ingestão de carne principalmente nos dias de trabalhos mediúnicos (ver http://oscaminheiros.blogspot.com.br/2012/03/porque-evitar-carne-vermelha-antes-nos.html)
Hoje,  voltamos com o tema por meio de um artigo de Fernanda Veira, espírita vegetariana, doutoranda em bem-estar anima. Ela se apoia no Livro do Espíritos (LE), de Allan Kardec , e também em declarações do médium Francisco Cândio Xavier, para tecer uma série de considerações que reforçam o entendimento do médico Ricardo Di Bernardi.
Será que devemos abolir totalmente a carne do nosso cardápio ou não ingerir produtos de origem animal somente nos dias de trabalhos espirituais?


O ESPÍRITA DEVE SER VEGETARIANO?
Por Fernanda Vieira*

Amigos, no estudo sobre a espiritualidade de nossos irmãos animais, não é sempre que se encontra bons materiais. Na minha concepção, material bom é aquele que possui informações com bons argumentos, ou seja, justificativas lógicas.

Quando o assunto em pauta é a alimentação sem carne, a divergência, mesmo no meio espírita, é grande. Há alguns dias, deparei-me com um vídeo sobre a espiritualidade dos animais. Gostei. Entretanto, quando o palestrante começou a abordar sobre vegetarianismo, os argumentos foram fracos e diversas vezes equivocados.

Diante disto, gostaria de abordar o tema de maneira saudável e dividi-lo com vocês. A matéria abaixo foi publicada na revista Animais Doutrina e Espiritualidade – nº7 (Editora Mythos).

Assunto muito polêmico e de pouca reflexão no meio espírita é o vegetarianismo. Quando digitado “vegetarianismo e espiritismo” em sites de busca, são dezenas de milhares de resultados encontrados. Por outro lado, contam-se nos dedos das mãos os centros espíritas que trazem esta reflexão ao público.Há

É interessante saber que o vegetarianismo é dividido em 4 grupos, sendo que nenhum desses consomem carne:
1) Ovo-lacto vegetariano: não consome nenhum tipo de carne, consome ovos e leite;
2) Lacto-vegetariano: não consome nenhum tipo de carne e ovos, consome leite;
3) Vegetariano restrito ou puro: não consome carne, leite, ovos, mel e derivados;
4) Vegano (do inglês vegan): não consome carne, ovos, leite, mel e derivados; não utilizam vestuários com material de origem animal e nem produtos testados em animais.

Diante da procura por este assunto, pode-se concluir que muitos são os interessados nesta reflexão, mas poucos são os coordenadores espíritas que se submetem a estudar profundamente o assunto e levar a posição do ESPIRITISMO aos espíritas.

Muitos questionariam: o espírita é obrigado a seguir o vegetarianismo? A resposta, obviamente, é não. O Espiritismo nada obriga e é, acima de tudo, uma filosofia de vida, não aplica o dogma como base religiosa.

Talvez, a pergunta mais sensata seria: o espírita deve refletir sobre a possibilidade de tornar-se vegetariano? A resposta, logicamente, é sim.

O Espiritismo muito nos instrui sobre esta possibilidade desde Kardec: “Será meritório abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação? Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros” (questão 724 do Livro dos Espíritos – LE).

Hoje, a maioria dos espíritas é onívora (consome tanto seres do reino animal como do vegetal), ou por falta de oportunidade de reflexão, ou por apoiar-se na famosa máxima “a carne nutre a carne” (questão 723 do LE).

A pergunta é simples e direta: por quanto tempo mais o espírita apoiar-se-á apenas nesta frase, e quanto tempo mais levará para tirar conclusões sensatas sobre o tema diante de tantas obras espíritas que revelam a realidade sobre o assunto?

Claramente, a frase citada serve aos espíritas que se colocam a favor de uma alimentação em que a carne tenha lugar garantido, e só! Não se leva em conta a época em que foi escrito, qual era a situação do homem em termos de conhecimentos nutricionais em comparação aos dias de hoje.

Tanto esta frase de 1857, quanto a participação de Chico Xavier no programa Pinga Fogo, extinta TV Tupi, em 1971, em que ele parecia instruir uma alimentação com carne para a maioria das pessoas, são justificáveis para a época. Seria leviano da parte dos Espíritos afirmar que o Espiritismo condenava o consumo de carne, pois eram escassas as informações sobre as alternativas nutricionais em substituição à carne; o que não mais se aplica nos dias de hoje.

Nos dois exemplos citados, está fortemente evidenciada a NECESSIDADE do consumo de carne para a manutenção da vida saudável, o que não é mais justificado, pois existem diversas pesquisas científicas provando ser possível uma vida saudável sem o consumo de animais. São diversos exemplos de pessoas, atletas, crianças e idosos vegetarianos e saudáveis. Então, por que ainda comer carne?

Kardec sempre nos instruiu ao estudo científico, filosófico e doutrinário, e ainda citou que fé inabalável é aquela que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade. (KARDEC, citado por Nardi). Nós, espíritas, não podemos mais justificar o consumo da carne dos animais, porque “a carne nutre a carne”, pois segundo a ciência e o próprio Espiritismo, isto não serve mais como argumento nesta discussão.

Se em 1971 Chico Xavier parecia aconselhar o consumo dos outros animais, em 1943, André Luiz em Missionários da Luz já dava indícios de que a nossa inteligência podia trabalhar em prol de uma alimentação vegetariana e esclarecia:

“(…) esquecíamos de que a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto, teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os suprimentos protéicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte.”

Esquecemos que em O Consolador em 1997 (26 anos após a participação de Chico Xavier, juntamente com Emmanuel no programa Pinga Fogo em 1971), Emmanuel foi incisivo ao CONDENAR o consumo de carne:

“A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivaram numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante situação, mesmo porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade ABSOLUTA dos matadouros e frigoríficos.”

Sob justificativas antigas, em que os conhecimentos eram quase nulos sobre a nutrição vegetariana, muitos espíritas ignoram os mais recentes relatos mediúnicos que apontam o atraso espiritual da humanidade em comer carne de irmãos “menores”.

Parece que a maioria dos espíritas lendo obras como as citadas, consideram e guardam em seus corações o que lhe é útil; o que não é, como a causa dos animais para grande parte, é como se descartasse imediatamente após sua leitura. Afinal, não lhe interessa. É como aquele que se diz espírita, buscando o Centro apenas para tomar o passe e não participa dos estudos, palestras, ações de solidariedade. Vive-se superficialmente o Espiritismo, utilizando-se apenas do que lhe parece agradável.

O vegetarianismo entre os espíritas é uma semente que até pouco tempo atrás não possuía a terra fofa e preparada para seu cultivo, mas que agora começa a encontrar condições para ser semeada.

Como disse o sábio Chico Xavier no programa Pinga Fogo, há aproximadamente 40 anos:

“Se nós estamos ainda subordinados à necessidade de valores protéicos que recebemos da carne, nós não devemos entrar em regimes vegetarianos de um dia para outro e sim educar o nosso organismo para realizarmos essa adaptação (…). Para dispensarmos este tipo de concurso dos animais, precisamos tempo (…)”

E ainda sugeriu o auxílio de um profissional para aqueles que gostariam de abster-se da carne, sinalizando que, já naquela época, era possível a alimentação sem o massacre que, ainda hoje, acontece nos matadouros e frigoríficos, por vontade do ser humano.

Deixemos bem claro que ser vegetariano não implica em ser bom, e não ser, não implica em ser ruim. Entretanto, sem dúvidas, quando se deixa de comer nossos irmãos, a sintonia com energias elevadas se dá mais facilmente. Lembrando uma citação de Babajiananda, um sábio irmão: "Não é deixando de comer carnes que o ser se espiritualiza, é se espiritualizando que ele deixa de comer carnes.”

Tudo na vida é adaptação. Segundo A Gênese em 1868, “(…) à medida que o senso moral predomina, a sensibilidade se desenvolve, a necessidade da destruição diminui; termina mesmo por se extinguir e por tornar-se odiosa; então, o homem passa a ter horror ao sangue.”

Já temos muita informação sobre o assunto em epígrafe, sendo cada um capaz de discernir o certo do errado, o bom do ruim. Cada ser é único e responde a novas revelações de maneiras diferentes. Muitos estão preparados, muitos ainda não. Segundo Jesus Cristo, “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, aqueles que ainda não, certamente um dia terão. Aí está o que chamamos de progresso e evolução espiritual.

Segundo o Irmão X, psicografado por Chico Xavier:
“Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição. O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.”


*FERNANDA VIEIRA: Espírita, vegetariana por filosofia de vida, doutoranda em bem-estar animal; membro da União dos Atletas Vegetarianos (UNAVEG); estudiosa da espiritualidade dos animais não-humanos. Coordenadora do blog Animais e o Espiritismo.


Referência Bibliográficas
Allan Kardec. A Gênese. Federação Espírita Brasileira, 1987.
Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Instituto de Difusão Espírita, 1992.
Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Irmão X. Cartas e Crônicas. Federação Espírita Brasileira, 1967.





 Artigo nº  7   



Quantas vezes, devido às nossas fraquezas, nos indagamos sobre a presença de Deus e a sua obra. Somos tomados por dúvidas sobre a existência Dele, principalmente diante das tantas diferenças que existem em todos os cantos que o nosso olhar alcança. Questionamos a vida, o nosso próprio corpo pela tamanha complexidade. Frente às nossas fragilidades, apelamos para Ele implorando a sua generosidade. Não foram poucas as vezes que nos perguntamos: "O que eu estou fazendo nestse mundo?". Em outros momentos, temos convicção inabalável de que esse plano é apenas uma passagem para outros em uma escala de evolução, cuja dimensão nem sequer temos a menor ideia. 

Nesta semana trazemos um artigo do filosófo e teólogo Leonardo Boff. Há anos, ele deixou a vida eclesiástica, como frei, e segue ensinando a todos. Diferentemente daqueles que têm formação religiosa em práticas de matriz europeia, Boff é admirador e nutre profundo respeito pela Umbanda. Essa não é a primeira vez que publicamos um dos seus muitos artigos no Blog dos Caminheiros. 

O artigo dessa semana, intitulado Como Deus emerge no processo evolucionário? pode nos ajudar a alargarmos nosso entendimento sobre as ações das forças divinas e compreender que, passados milhões de anos, nossa morada terrena ainda está em desenvolvimento e todos nós seguimos no mesmo compasso. Confira e, não fique acanhado, deixe o seu comentário no blog. Boa leitura.


Como Deus emerge no processo evolucionário?

Leonardo Boff

A nova cosmologia, derivada das ciências do universo, da Terra e da vida, vem formulada no arco da evolução ampliada. Esta evolução não é linear. Conhece paradas, recuos, avanços, destruições em massa e novas retomadas. Mas, olhando-se para trás,  o processo   mostra uma direção: para frente e para cima.

Somos conscientes de que renomados  cientistas se recusam a aceitar uma direcionalidade do universo. Ele seria simplesmente sem sentido. Outros, cito apenas um, como o conhecido físico da Grã-Bretanha Freeman Dyson que afirma:”Quanto mais examino o universo e estudo os detalhes de sua arquitetura, tanto mais evidências encontro de que ele, de alguma maneira, devia ter sabido que estávamos a caminho”.

De fato, olhando retrospectivamente o processso evolucionário que já possui 13,7 bilhõs de anos, não podemos negar que houve uma escalada ascendente: a energia virou matéria, a matéria se carregou de informações, o caos destrutivo se fez generativo, o simples se complexificou, e de um ser complexo surgiu a vida e da vida a consciência. Há um propósito que não pode ser negado. Efetivamente, se as coisas em seus mínimos detalhes, não tivessem ocorrido, como ocorreram, nós humanos não estaríamos aqui para falar destas coisas.

Escreveu com razão o conhecido matemático e físico Stephen Hawking em seu livro Uma nova história do tempo (2005):”tudo no universo precisou de um ajuste muito fino para possibilitar  o desenvolvimento da vida; por exemplo, se a carga elétrica do elétron tivesse sido apenas ligeiramente diferente, teria destruído o equilíbrio da força eletromagnética e gravitacional nas estrelas e, ou elas teriam sido incapazes de queimar o hidrogênio e o hélio, ou então não teriam explodido. De uma maneira ou de outra, a vida não poderia existir".

Como emerge Deus no processo cosmogênico? A ideia de Deus surge quando colocamos a questão: o que havia antes  do big-bang? Quem deu o impulso inicial? O nada? Mas do nada nunca vem  nada. Se apesar disso apareceram seres é sinal de que Alguém ou Algo os chamou à existência e os sustenta no ser.

O que podemos sensatamente dizer, é: antes do big bang existia o Incognscível e vigorava o Mistério. Sobre o Mistério e o  Incognoscível, por definição, não se pode dizer literalmente nada. Por sua natureza, eles são antes das palavras, das energia,da matéria, do espaço e do tempo.

Ora, o  Mistério e o Incognoscível são  precisamente os nomes que as religiões e também o Cristianismo usam para significar aquilo que chamamos Deus. Diante dele mais vale o silêncio que a palavra. Não obstante, Ele pode ser  percebido pela razão reverente e sentido pelo coração como uma Presença que enche o universo e faz surgir em nós o sentimento de grandeza, de majestade, de respeito e de veneração.

Colocados entre o céu e a terra, vendo as miríades de estrelas, retemos a respiração e nos enchemos de reverência. Naturalmente nos surgem as perguntas: Quem fez tudo isso? Quem se esconde atrás da Via-Lactea? Como disse o grande rabino Abraham Heschel de Nova York: “Em nossos escritórios refrigerados ou entre quatro paredes brancas de uma sala de aula podemos dizer qualquer coisa e duvidar de tudo. Mas inseridos na complexidade da natureza e imbuidos de sua beleza, não podemos calar. É  impossível desprezar o irromper da aurora, ficar indiferentes diante do desabrochar de uma flor ou não quedar-se pasmados ao contemplar uma criança recém-nascida”. Quase que espontaneamente dizemos: foi Deus  quem colocou tudo em marcha. É Ele a Fonte originária e o Abismo alimentador de tudo.

Outra questão importante é esta: que Deus quer expressar com a criação? Responder a isso não é preocupação apenas da consciência religiosa, mas da própria ciência. Sirva de ilustração o já citada Stephen Hawking, em seu conhecido livro Breve história do tempo (1992): “Se encontrarmos a resposta  de por que nós e o universo existimos, teremos o triunfo definitivo da razão humana; porque, então, teremos atingido o conhecimento da mente de Deus”(p. 238). Até hoje os cientistas estão ainda  buscando o desígnio escondido de Deus.

A partir de uma perspectiva religiosa, suscintamente, podemos dizer: O sentido do universo e de nossa própria existência consciente parece residir no fato de podermos  ser o espelho no qual Deus mesmo se vê a si mesmo. Cria o universo como desbordamento de sua plenitude de ser, de bondade e de inteligência. Cria para fazer outros participarem de sua suberabundância. Cria o ser humano com consciência para que ele possa ouvir as mensagens que o universo nos quer comunicar, para que possa captar as histórias dos seres da criação, dos céus, dos mares, das florestas, dos animais e da próprio processo humano e religar tudo à Fonte originária de onde procedem.

O universo está ainda nascendo. A tendência  é acabar de nascer e mostrar as suas potencialidades escondidas. Por isso, a expansão significa também revelação. Quando tudo tiver se realizado, então se dará  a completa revelação do desígnio do Criador.



Leonardo Boff é autor de Tempo de Transcendência: o ser humano como projeto infinito, Vozes 2005.








 Artigo nº 6   


As Sete Linhas de Umbanda

Pesquisando sobre a nossa religião encontrei esse texto escrito por Manoel Lopes, irmão na fé, que elucida alguns pontos por muitos ainda desconhecido. Esse texto originalmente se encontra no site do Núcleo Mata Verde.

Cantamos e ouvimos falar muito sobre as sete linhas da umbanda, mas poucas pessoas compreendem e conhecem a origem histórica das sete linhas da umbanda.

Neste artigo iremos nos aprofundar no estudo da origem das sete linhas da umbanda e também apresentaremos a visão doutrinária do Núcleo Mata Verde sobre as sete linhas.

Sabemos que a Umbanda, como um culto organizado, começou em Niterói/RJ no início do século XX, tendo como data oficial da primeira reunião o dia 16 de Novembro de 1908.
Todos os documentos históricos indicam que o jovem Zélio de Moraes foi o responsável pelo início da umbanda.

Zélio fundou a primeira Tenda de Umbanda do Brasil, a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e as primeiras sete Tendas de Umbanda que teriam a responsabilidade de divulgar e ampliar a religião em solo brasileiro; criou o primeiro jornal de Umbanda, a primeira Federação de Umbanda e também foi um dos organizadores do primeiro congresso de umbanda realizado em 1941.

Em sua vida teve oportunidade de divulgar a Umbanda de norte a sul do nosso país.

Neste artigo não vamos entrar em maiores detalhes sobre a origem da Umbanda, mas todas as informações acima são fundamentadas em livros, atas, estatutos registrados em cartório, gravações de vídeo e áudio.

A origem da Umbanda com Zélio de Moares, não é somente um mito, um “achismo”, como alguns afirmam, mas fruto de pesquisa de muitos estudiosos, escritores, pesquisadores e umbandistas sérios.

Sabemos que a Umbanda teve seu inicio em 1908, mas e as sete linhas da Umbanda?
Elas sempre existiram?
Quem elaborou as sete linhas da Umbanda, foram os Orixás, os espíritos, os dirigentes umbandistas, os escritores?
Qual foi a primeira apresentação (codificação) das sete linhas da Umbanda?
Quais as visões existentes?
Quais são as sete linhas da Umbanda segundo a doutrina dos Sete Reinos Sagrados que nos foi ensinada?

Estas são algumas das perguntas e esclarecimentos que pretendemos desenvolver neste texto doutrinário.  

O INÍCIO

Sabemos que foi o Caboclo das Sete Encruzilhadas o espírito responsável pela organização da Umbanda, orientando logo na primeira reunião como seria esta nova religião, como seriam os trabalhos espirituais, o uniforme utilizado, o horário de início e término, os estudos etc.

Era o Caboclo quem orientava e dava todas as determinações, por isso era chamado pelos integrantes da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade de CHEFE.

Além do Caboclo das Sete Encruzilhadas, logo na primeira reunião se manifestou outro espírito chamado Pai Antônio, um Preto Velho. Estes dois espíritos foram os iniciadores do que conhecemos hoje como religião de Umbanda, um CABOCLO e um PRETO VELHO.

Somente em 1913 (passados cinco anos do inicio da religião) é que Zélio de Moraes começou a trabalhar com a entidade conhecida como Orixá Mallet. É importante deixar registrado que até esta data (conforme gravação de áudio do próprio Zélio de Moraes) o nome da nova religião era ALABANDA. Segundo Zélio de Moraes nome original da religião foi Alabanda, onde Alá é uma palavra árabe que significa “Deus” e banda significando “do lado de”. Logo, Alabanda significa ao lado de Deus. Esse nome foi dado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, como uma homenagem ao Orixá Mallet, que era malaio e muçulmano. (Alá é a forma como os muçulmanos chamam Deus). Portanto até esta data não se falava em “SETE LINHAS DA UMBANDA”, também não existia na umbanda crianças, exus, pomba-gira, ciganos, baianos e outras linhas conhecidas atualmente.

QUAL FOI A PRIMEIRA DAS SETE LINHAS DA UMBANDA? 

Somente em 1925 (passados dezessete anos do início da umbanda) é que o senhor Leal de Souza em entrevista a um jornal do Paraná, chamado “Mundo Espírita” apresenta pela primeira vez uma codificação das Sete Linhas da Umbanda.

Leal de Souza era escritor, jornalista e redator chefe do jornal “A Noite” do Rio de Janeiro; foi um participante ativo e dedicado, durante 10 anos, da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e amigo de Zélio de Moraes. Afastou-se da Tenda Nossa Senhora da Piedade, sob as ordens do Caboclo das Sete Encruzilhadas, para fundar a Tenda Nossa Senhora da Conceição. Em 1932 é convidado para escrever uma série de artigos sobre Espiritismo e Umbanda e novamente apresenta as Sete Linhas da Umbanda. Em 1933 publica o primeiro livro a falar sobre a umbanda: “O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas da Umbanda”.

O arquivo (PDF) deste livro: 
http://tepma.files.wordpress.com/2011/08/o-espiritismo-a-magia-e-as-sete-linhas-de-umbanda-leal-de-souza1.p

Segundo Leal de Souza, que vivia a Umbanda em sua origem, as Sete Linhas da Umbanda eram:
OXALÁ;
OGUM;
OXOSSI;
XANGÔ;
IANSÃ;
IEMANJÁ;
AS ALMAS.

Em 1941 (passados 33 anos da fundação da Umbanda) foi  realizado no Rio de Janeiro o Primeiro Congresso Brasileira de Umbanda e neste congresso é ratificado as Sete Linhas da Umbanda.

As linhas são chamadas de “Pontos da Linha branca de Umbanda” ou graus de iniciação e são:

1º grau de iniciação – ALMAS;
2º grau de iniciação – XANGÔ;
3º grau de iniciação – OGUM;
4º grau de iniciação – IANSÃ;
5º grau de iniciação – OXOSSI;
6º grau de iniciação – IEMANJÁ;
7º grau de iniciação – OXALÁ.

Reparem que os Sete Pontos ou Graus de iniciação confirmados no Primeiro Congresso Brasileira de Umbanda (1941) são as Sete Linhas da Umbanda apresentadas por Leal de Souza em 1925.

É neste primeiro congresso de umbanda que a Tenda Mirim apresenta um trabalho sugerindo que o nome da religião seria Aumbandã.

Em 1942 Lourenço Braga publica sua tese chamada “Umbanda e Quimbanda”, na qual apresenta o primeiro esquema formulado e pensado das Sete Linhas da Umbanda com sete legiões para cada linha, também marca seu pioneirismo na apresentação da LINHA DO ORIENTE e das sete linhas da Quimbanda:

Linha de Santo ou de Oxalá – dirigida por Jesus Cristo;
Linha de Iemanjá – dirigida por Virgem Maria;
Linha do Oriente – dirigida por São João Batista;
Linha de Oxossi – dirigida por São Sebastião;
Linha de Xangô – dirigida por São Jerônimo;
Linha de Ogum – dirigida por São Jorge;
Linha Africana ou de São Cipriano – dirigida por São Cipriano.
Em 1952 (após 44 anos do inicio da religião) o Primado de Umbanda, ente federativo que tem como seu Primaz o Senhor Benjamim Figueiredo, responsável pela Tenda Mirim apresenta sua doutrina e os Sete Seres Espirituais responsáveis pela luz espiritual emanada de Deus, o primeiro elo entre Deus e as outras hierarquias espirituais.
Em nosso sistema solar, os chamados Orixás Maiores regem as Sete Linhas da Umbanda:

ORIXALÁ;
OGUM;
OXOSSI;
XANGÔ;
YORIMÁ (IOFÁ, OBALUAÊ);
YORI (IBEJI – ERÊS – CRIANÇAS);
IEMANJÁ.
Em 1955 Lourenço Braga publica o livro “UMBANDA E QUIMBANDA – VOLUME 2”, onde apresenta a seguinte distribuição, onde atribui a cada linha um Arcanjo como responsável e relaciona com os planetas:

Linha de Oxalá ou das almas – Jesus – Jupiter;
Linha de Yemanjá ou das águas –Gabriel – Vênus;
Linha do Oriente ou da Sabedoria – Rafael – Urano;
Linha de Oxossi ou dos vegetais – Zadiel – Mercurio;
Linha de Xangô ou dos minerais –Oriel – Saturno;
Linha de Ogum ou das demandas – Samael – Marte;
Linha dos Mistérios ou encantamentos – Anael – Saturno.
Em 1956 W.W.Mata e Silva apresenta no livro “Umbanda de Todos Nós” as Sete linhas da Umbanda:

ORIXALÁ;
IEMANJÁ;
YORI (CRIANÇAS );
XANGÔ;
OGUM;
OXOSSI;
YORIMÁ (LINHA DAS ALMAS, PRETOS VELHOS).
Notamos que foi a partir da década de cinquenta que os estudiosos retiram das sete linhas a vibração de Iansã e substituem pela Yori (Crianças).

Em 1964 no livro “Okê Caboclo – Mensagens do Caboclo Mirim”, de Benjamim Figueiredo fundador da Tenda Mirim, os Orixás se dividem em menores e maiores, sendo estes últimos os regentes das sete linhas:

OXALÁ – INTELIGÊNCIA;
IEMANJÁ – AMOR;
XANGÔ CAÔ – CIÊNCIA;
OXOSSI – LÓGICA;
XANGÔ AGODÔ – JUSTIÇA;
OGUM – AÇÃO;
IOFÁ – FILOSOFIA.
Em 2003, Rubens Saraceni, apresenta uma nova organização no livro “Sete Linhas da Umbanda – A Religião dos Mistérios”:

OXALÁ – essência cristalina – FÉ;
OXUM – essência mineral – AMOR;
OXOSSI – essência vegetal – CONHECIMENTO;
XANGÔ – essência ígnea – JUSTIÇA;
OGUM – essência aérea – LEI;
OBALUAIÊ – essência telúrica – EVOLUÇÃO;
IEMANJÁ – essência aquática – GERAÇÃO/VIDA

Em 2009 no livro “Manual Doutrinário, Ritualístico e Comportamental Umbandista”, Rubens Saraceni, traz a seguinte ordenação:
OXALÁ;
OGUM;
OXOSSI;
XANGÔ;
OXUM;
OBÁ;
IANSÃ;
OXUMARÉ;
OBALUAÊ;
OMULU;
NANÃ;
OIÁ TEMPO;
EGUNITÁ;
EXU;
POMBA-GIRA.

Em 2010, Janaina Azevedo Corral, no livro “As Sete Linhas da Umbanda”, traz a seguinte apresentação:
Linha de OXALÁ;
Linha das ÁGUAS;
Linha dos ANCESTRAIS (YORI E YORIMÁ);
Linha de OGUM;
Linha de OXOSSI;
Linha de XANGÔ;
Linha do ORIENTE

Além das codificações citadas acima, existem outras. Estas codificações tentam explicar ou justificar como e porque, os espíritos se manifestam com determinadas características, porque possuem preferência por determinadas cores, nomes, regiões da natureza (praia, montanhas, matas, cemitérios etc.) e demais afinidades. Todos estes escritores e pesquisadores umbandistas, inspirados por seus mentores, observaram, estudaram e de acordo com suas observações agruparam as entidades espirituais em linhas, que foram em determinadas épocas separadas em falanges, legiões etc. 

Bibliografia:

1)Umbanda Os Sete Reinos Sagrados – Manoel Lopes – Ícone Editora
2)Umbanda Um Século de História – Diamantino Fernandes Trindade – Ícone Editora
3)História da Umbanda – Alexandre Cumino – Madras Editora
4)Umbanda de Todos Nós – W. W. Matta e Silva
5)Curso Essencial de Umbanda – Ademir Barbosa Junior – Universo dos Livros
6)Curso EAD do Núcleo Mata Verde – http://www.mataverde.org/ead




 Artigo nº 5   


Na terra dos crentes, o diabo tem nome africano

Por James Mytho


Quer mais na terra dos crentes, o diabo tem nome africano? 
Objetivos do artigo: 
— Mostrar como houve a construção do mito do diabo cristão e sua associação com os orixás;
— Mostrar a ojeriza que várias igrejas cristãs têm pela religiosidade africana;
— Mostrar o racismo que está por detrás disso;
— Mostrar o quão intolerante ainda é o cristianismo.

OBS: O termo “crente”, neste contexto, refere-se aos religiosos em geral, e não apenas aos evangélicos.

“Houve, com o decorrer dos séculos, um sincretismo religioso, ou seja, uma mistura curiosa e diabólica de mitologia africana, indígena brasileira, espiritismo e cristianismo, que criou ou favoreceu o desenvolvimento de cultos fetichistas como a umbanda, a quimbanda e o candomblé”. (Orixás, Caboclos & Guias – deuses ou demônios?, 15° edição, cap. 1, pág. 13).

 No livro “Orixás, Caboclos e Guias – deuses ou demônios ?”, Edir Macedo expõe a sua visão, e a de muitos cristãos, sobre o que representam as religiões afro-brasileiras em nossa sociedade. Mas, engana-se quem pensa que foi Edir Macedo o primeiro a demonizar essas religiões. Diversos outros pregadores, protestantes e católicos, já travaram lutas contra as “forças das trevas”.

Os cristãos, e em especial os evangélicos, geralmente, reivindicam para si a exclusividade da “comunhão com Deus”, desconsiderando os ensinamentos das outras religiões e filosofias. Contudo, o curioso é que o “diabo” nunca tem um nome grego, romano, escandinavo ou mesmo árabe ou chinês. É quase sempre um nome africano a designação dos espíritos das “trevas”. E este “diabo” é idealizado com as histórias mitológicas africanas, simbolizado com elementos litúrgicos africanos, e personificado em figuras místicas e antropomórficas também africanas.

Os deuses gregos não representam perigo algum aos ditos “cristãos”: “Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo. Está Cristo dividido?” (1 Coríntios 1: 12,13) Mas, as divindades africanas são uma “ameça”: “Para evitar atritos com a Igreja Católica, os escravos que praticavam a macumba, inspirados pelas próprias entidades demoníacas, passaram a relacionar os nomes dos seus deuses ou, para ficar mais claro, demônios, com os santos da Igreja Católica. Assim, podiam escapar à grande perseguição que a própria Igreja Católica moveu contra eles (...)” (Orixás, Caboclos & Guias – deuses ou demônios?, 15° edição, cap. 5, pág. 44). Apolo: referência bíblica em 1 Coríntios 1: 12,13.

CULTO A IEMANJÁ: ALGO “DEMONÍACO” PARA MUITOS CRISTÃOS

É certo que há uma rivalidade entre evangélicos, umbandistas e candomblecistas. Esta rivalidade é fomentada pelas pregações proselitistas de boa parte dos evangélicos. Os evangélicos, em especial os pentecostais, parecem ter elegido as religiões afro-brasileiras como seus principais adversários. Algumas igrejas pentecostais parecem ter isso como meta prioritária, não se cansando de “combater” aquilo que consideram como o “culto aos demônios”.

Os pentecostais usam de todas as formas possíveis para reprimir os cultos afros usando, inclusive, de preconceitos mesquinhos. Os mesmos preconceitos que, num passado recente, também eram vítimas. É que os pentecostais têm o seu projeto de poder (tal como a Igreja Católica no passado), e para validá-lo precisam eliminar qualquer adversário. E como eles não se acham fortes o suficiente para enfrentar a Igreja Católica, destinam toda a sua intolerância sobre a umbanda, o candomblé, etc... Contudo, não podemos deixar de falar da repressão religiosa empreendida pela Igreja Católica no Brasil até o início do século 20.

A CONSTRUÇÃO DO MITO

O diabo, na concepção cristã, é o ser espiritual que representaria o mal absoluto. Ele seria a origem de todas as desgraças existentes no mundo. O diabo também poderia ser compreendido como a antítese de cristo (ou o próprio anticristo). De qualquer forma, sua estratégia seria corromper a humanidade seduzindo os seres humanos de todas as formas possíveis. Portanto, teríamos uma espécie de “’batalha espiritual”, numa perspectiva mais fundamentalista. Por conseguinte, o cristão autêntico deveria combater o maligno de todas as formas, bem como não ceder às possíveis tentações. A ideia de um diabo, como um ser espiritual (ou transcendental), não é exclusividade do cristianismo. Contudo, esta religião moldou de uma forma bem peculiar esse “diabo”.

O diabo cristão não só tem formas antropomórficas, mas desejos, sentimentos, atitudes, e até ideais. Para justificar os possíveis intentos do demo, criam-se mitos, propagam-se lendas, e consolidam-se superstições. E este diabo cristão foi elaborado a partir das características dos deuses pagãos do “Velho Mundo”. Nas antigas religiões, os deuses tinham os seus mitos, e a sua justificativa social. Na mitologia grega, por exemplo, Hades era o deus do mundo subterrâneo, lugar onde todas as almas, as “boas” e as “ruins”, teriam o seu derradeiro destino.

Na Terra de Hades, havia um lugar chamado de “Campos Elíseos” para onde iriam as almas “boas”, era o caso heróis, dos adoradores mais dedicados, dos seres tidos como “mais evoluídos”. Mas, havia outro lugar chamado “Tártaro” para onde iriam as almas “ruins”. O Tártaro era semelhante ao inferno cristão, um lugar, portanto, de trevas, medo e sofrimento eterno.

Nas antigas religiões da Pérsia, Egito e Índia também havia a crença na imortalidade da alma, bem como um lugar reservado para os considerados pecadores. Entre os povos do norte da Europa (rotulados pelos romanos como “bárbaros”), a crença na reencarnação era mais comum. Todos estes povos tinham suas próprias representações iconográficas (imagens) acerca de suas divindades. Eram construídas estátuas e monumentos, quadros eram pintados, e ambientes eram decorados com motivos religiosos para o culto aos deuses antigos. Estes deuses podiam ser representados com uma imagem humana ou de algum animal dito especial.

Alguns dos deuses antigos tinham uma representação bem peculiar, tais como Cernunnos, o deus cornífero. Cernunnos tinha cifres em sua forma humanóide, e podia ter também a forma de um touro (ou algum animal forte e portador de chifres). Ele era um deus do panteão celta (povo europeu antigo), considerado como protetor e senhor das florestas.

Com o crescimento do cristianismo, os cristãos, outrora perseguidos, passaram a ser os perseguidores. Para justificarem os seus preconceitos, começam a demonizar os deuses das antigas religiões pagãs. Pouco a pouco, o diabo passou a ser vinculado aos antigos deuses. O diabo, antes um ser sem forma definida, passa a ter uma forma física, a saber: pés de animal, asas de morcego, rabo de boi, garras afiadas, enormes dentes, olhos grandes e ameaçadores, chifres, e uma cor quase sempre avermelhada, amarronzada, ou enegrecida.

O diabo também ganha alguns objetos de “ofício”, tais como o tridente, tumbas, caveiras, um cetro fálico, dentre outras coisas. Além disso, poderia ser representado numa carruagem de fogo puxada por bestas feras. Com o tempo, cresce a crença de que o diabo era o “senhor” da noite, dos prazeres “carnais”, e da morte.
É interessante dizer, portanto, que a imagem do diabo foi elaborada a partir dos elementos representativos de vários deuses ditos pagãos. Nada foi original, pelo contrário, o diabo enquanto ser mitológico cristão é um plagio de uma coleção de mitos, símbolos, e superstições dos povos da Antiguidade.

O ENTENDIMENTO DO MITO

Ora, no Novo Mundo não seria diferente, pois o diabo cristão também adotou as feições dos deuses das religiões nativas antagônicas ao cristianismo. A principio, foram os deuses indígenas os primeiros a serem demonizados, tais como Anhangá (ou Anhanguera), um deus do panteão tupi-guarani, erroneamente identificado como um “espírito malfazejo”. Com a entrada maciça dos povos africanos, em substituição a mão de obra escrava indígena a partir do século XVII, foi a vez dos deuses africanos serem renegados.

Os europeus, em sua maioria, viam os povos primitivos (indígenas e africanos), como seres “inferiores”. Contudo, alguns europeus não se demoraram a tentar disseminar a sua religião, e consequentemente a sua cultura, entre os povos nativos. Ora, qualquer forma de discriminação se torna completa quando o discriminado adere à ideologia do colonizador. Não foi uma atividade missionária ingênua e desinteressada que introduziu o cristianismo (em especial, o catolicismo) em nosso continente. 
Mas, sim o poder das armas bélicas, e uma descaracterização cultural dos povos dominados, com um posterior processo de aculturação e dominação socioeconômica. 

Houve um processo de sincretismo religioso no Brasil, e em outras partes da América Latina. Mas, limitando-nos ao contexto brasileiro, podemos dizer que os negros africanos foram forçados a camuflarem as suas práticas religiosas para evitarem maiores hostilidades. Com isso, os orixás passaram a ser associados aos deuses católicos. O problema não é o sincretismo em si, pois é possível que duas religiões se complementem, tal como acontece com o xintoísmo e o budismo, no Japão. A questão é que a igreja católica sempre discriminou as religiões africanas, sempre as demonizou, de tal forma que não é coerente afirma-se, ao mesmo tempo, afro religioso e católico, pelo menos enquanto a igreja não rever seus conceitos.

Da mesma forma como várias entidades indígenas foram demonizadas, os orixás africanos também foram alvos de um estigma, e que foi imposto não por simples  ignorância ou fundamentalismo religioso. Houve um processo de desumanização dos povos africanos que foram escravizados. Os europeus acharam que deveriam “civilizar” os povos nativos, mas, claro, impondo a eles a sua própria visão de mundo. O problema é que esta visão de mundo só agravou a discriminação, pois introjetou nos povos ditos primitivos um auto preconceito. Estes povos passaram a se ver como “pecadores”, destituídos de uma “graça” divina, e em casos extremos como “sujos” e dignos de uma punição.

A independência do Brasil não representou uma autonomia cultural e ideológica, pois as elites dirigentes se viam como uma extensão – uma filial da metrópole, digamos assim - dos antigos colonizadores, vendo-os como um modelo a ser seguido. Logo, a estrutura social continuou a mesma, e consequentemente a escravidão. Com o tempo, o povo passou a elaborar os seus princípios e a codificar os seus valores morais e sócio-culturais tendo por base o ponto de vista europeu. Isto em si não é de todo ruim, pois de fato os europeus fazem parte da composição étnica de nosso país. Porém, esta aculturação se deu num processo opressor e penoso para muitos brasileiros.

EXÚ: DE ORIXÁ MENSAGEIRO A DIABO CRISTÃO

Segundo especialistas no assunto, dentre os vários orixás cultuados pelo povo nagô, aproximadamente, cinqüenta se consolidaram no Brasil. Convém destacar que a crença nos orixás é específica das populações nagô, que compartilhavam da mitologia iorubá. Havia etnias africanas com outras cosmovisões, inclusive alguns muçulmanos, estes, porém, em quantidade bem reduzida. Contudo, os orixás são as deidades africanas mais populares no Brasil.

Dentre os orixás mais incompreendidos está Exú (também conhecido como Legbá ou Elegbara entre outros nomes). Este orixá foi erroneamente associado ao diabo cristão ou Satanás. Tal equívoco foi fruto de uma incompreensão dos religiosos cristãos quando descobriram a religiosidade dos povos da África Ocidental.

Exu é o orixá mensageiro entre o orun (mundo espiritual) e o aiye (mundo material), e que era encarregado de levar as oferendas para os outros orixás, e trazer aos fiéis os recados deles. Exú também tinha a função de proteger os fiéis contra possíveis infortúnios. De acordo com o que se conhece da mitologia ioruba, Exú era um ser brincalhão, irreverente e astuto. Além disso, era o deus da fertilidade, o que lhe conferia uma certa sensualidade. Podemos traçar um paralelo entre Exú e o deus grego Hermes.

Hermes era um dos deuses do Olimpo, filho de Zeus e irmão de Apolo. Hermes tinha como uma de suas atribuições conduzir as almas até o rio Aqueronte (ou Estige, em algumas versões), lugar onde se encontrariam com o barqueiro Caronte para, então, as almas serem conduzidas ao reino de Hades. Portanto, Hermes era um deus mensageiro que mostrava o caminho entre o mundo material e o mundo espiritual, podia inclusive transitar entre os dois mundos. Exú, por sua vez, promovia o intercâmbio entre os dois mundos (apesar de não conduzir almas ao mundo dito subterrâneo). Exú não tinha qualquer ligação mitológica com lugares ”infernais”. Contudo, o deus grego é encarado como uma mera mitologia escolar, enquanto Exú ainda é visto como um “demônio”. Outra associação é possível: entre Exú e o deus grego Príapo.

Príapo era o deus da fertilidade, sendo representado por um falo humano. Segundo a mitologia, Príapo era filho de Dionísio e Afrodite (na versão mais aceita), e foi alvo dos ciúmes de Hera (uma deusa que não admitia que Afrodite fosse mais admirada do que ela). Hera fez com que Príapo nascesse com uma deformidade: um falo muito grande e desproporcional ao corpo. Exú, por sua vez, também era deus da fertilidade, e apesar das diferenças mitológicas, tinha uma representação fálica. Tal representação em si não é maligna nem benigna, sendo adotada, inclusive, por outras culturas. Logo, a possível conotação sexual de Exú não o torna indigno.

A LIBERTAÇÃO DO MITO

Atualmente, vemos pregadores evocando os orixás em cultos exorcistas como se estivessem evocando o próprio Satanás. Pessoas em transe psicótico embravejam dizeres que teriam como autores “entidades” como Exu, Oxossi, Olorun, etc... Milhões de pessoas ainda acreditam que as religiões afro-brasileiras são religiões “satânicas”, e que devem as suas precariedades e sofrimentos às suas origens africanas. No aurora do século XXI, assistimos ao recrudescimento do preconceito em relação a religiosidade africana. Isto é, um grande aumento, e com uma aversão que é desproporcional a capacidade de defesa dos praticantes afro-brasileiros.

A aversão às religiões de matriz afro extrapola as barreiras religiosas porque ela está impregnada do racismo contra as populações africanas. Esta aversão é o resultado dos mais de 300 anos de escravidão, e de um processo de aculturação que fez com que os brasileiros elaborassem seus princípios e valores tendo como modelo o que era mais aceito pelos antigos colonizadores europeus. Logo, para ser aceito era necessário se parecer com os europeus, viver como os europeus, e crer nos deuses europeus. Não podemos entender o sincretismo religioso como uma mera camuflagem. Mas, também, e principalmente, como uma tentativa de fuga de uma possível opressão perpetrada pela sociedade. É o medo da reprovação social que faz com que as pessoas se digam católicas “não praticantes”.

Foi a instituição religiosa Igreja Católica Apostólica Romana quem primeiro demonizou as crenças nativas africanas. E, atualmente, são as igrejas pentecostais as que mais se dedicam ao combate às religiões afro. Existem religiões pentecostais que têm na completa eliminação dos cultos afro um ideal a ser seguido. Evidentemente, isto não é uma generalização, pois há cristãos evangélicos tolerantes e sem preconceito. Contudo, é inegável que para muitos evangélicos o “diabo” tem nome africano. O curioso é que nas religiões pentecostais há grande percentual de afrodescendentes (pardos e negros), o que revela que a aversão aos orixás também extrapola as barreiras de classificação “racial”.

O futuro para as religiões afro-brasileiras parece ser incerto. Há algumas iniciativas de valorização e autodefesa, porém nada que seja um consenso entre os seguidores dessas religiões. Diante de uma perspectiva de futuro não muito animadora, o que poderia ser feito para acabar com um estigma secular ?

Penso que a melhor resposta só pode ser dada pelos praticantes dessas religiões, e que deveriam ser os principais interessados na valorização de sua religiosidade. No entanto, poderia tecer algumas considerações pessoais. 

Entendo que as religiões afro-brasileiras, em especial o candomblé, deveriam passar por uma ampla reformulação de suas liturgias. Eles deveriam fazer um resgate da cosmovisão africana original, fazendo as devidas adaptações à sociedade atual (quem se prestaria melhor a este papel seria o Candomblé, pois a Umbanda já nasceu sincrética). Eles deveriam também adotar uma nova linguagem, tornando o seu culto mais compreensível – e simpático - para um público mais amplo e secular. Além disso, dar uma nova roupagem ao culto afro, tirando-lhe o seu aspecto tribal, e dando-lhe uma feição mais moderna. Os seguidores deveriam perder a vergonha da religião, assumindo- a integralmente (obviamente, sem perder o bom senso). São mudanças simples, mas altamente eficazes.

Os pentecostais até os anos 70 eram uma pequena minoria, e alvo de estigma e desvalorização. Hoje, os pentecostais são o segundo agrupamento religioso do país, obtendo um crescente poder político. Isto poderia acontecer com as religiões afro-brasileiras ? Só os praticantes dessas religiões poderão dizer...

Referências bibliográficas:
Prandi, Reginaldo. “Exú, de mensageiro a diabo – sincretismo católico e demonização do orixá Exú”. São Paulo, Revista USP, 2001.


  Artigo nº 4    


Doutrina e cultura umbandista

Mônica Berezutchi

Toda a pessoa que escuta esta frase: “Você tem que vestir bran­co, e precisa de­sen­volver a sua mediunidade”.  Pronto! Aí vem o medo e ao mesmo tempo a ansiedade, imaginando-se vestido de branco e já incorporando “seus guias”, ele julga que após poucas semanas já estará apto a “trabalhar” dando  “consulta”… Será que é só colocar o médium “novo” no meio da gira e girar?  Ou será que ele precisa primeiro de atenção, carinho, ajuda e esclarecimento neste momento único e delicado de transição dos seus valores reli­gio­sos, e principalmente de doutrina, acrescido de tempo e humildade de ambos os lados, seja do dirigente para com o filho pequeno (que nasce para a espiritualidade) e precisa ser cuidado com amor. Ou por parte do filho que precisa de conhecimento e isto só é con­seguido através do estudo, movido pela paciência, humildade e fé, pois só assim conseguirá de fato ser um filho de fé da Umbanda Sagrada. Como as giras de desenvolvimento fazem parte deste processo mediúnico comentarei sobre os recursos rituais: atabaques, cantos, defumações, danças, roupa branca etc.


Defumações: descarregam o cam­po mediúnico e sutilizam suas vibra­ções, tornando-o receptivo às energias de ordem positiva. Ela é essencial para qualquer tra­ba­lho num terreiro, pois certas cargas se juntam (agregam) ao nosso corpo astral durante nossa vivência cotidiana, ou seja, pensamentos e ambientes de vi­bração pesada, rancores, preocupa­ções, pen­samentos negativos etc, tu­do isso produz (ou atrai) certas formas-pensamentos que se aderem ao nosso campo eletromag­nético, bloqueando trans­missões energéticas. Pois bem, a defumação tem o poder de desagregar estas cargas, através dos elementos ar, fogo e vegetal que a compõe, pois interpenetra o campo as­tral, mental e a aura, tornando-os no­va­mente “libertos” de tal peso para pro­duzirem  seu funcionamento normal.

Palmas: se cadenciadas e ritma­das, criam um amplo campo sonoro cujas vibrações agudas alcançam o centro da percepção localizada no mental dos médiuns. Com isso, os predispõem a vi­brarem orde­nadamente, facilitando o tra­balho de reajus­tamento de seus pa­drões magnéticos.

Cantos: a Umbanda recorre aos can­­tos ritmados que  atuam sobre al­guns ple­xos, que reagem aumen­tando a velo­cidade de seus giros. Com isso, cap­tam muito mais energias etéricas, que sutilizam rapidamente todo o campo mediúnico, facilitando a incorporação. Os pontos can­tados  são uma das primeiras coisas que afloram a quem vai a um ter­reiro de Um­ban­da pela pri­mei­ra vez. Os pontos canta­dos são, den­tro dos ri­­tuais, um dos aspec­tos mais im­por­tantes para se efetuar uma boa gira. São louvações e orações canta­das, para chegada  dos Orixás e guias, tam­bém para descarga e limpeza fluí­dica, bem como para a subida dos Orixás e guias. Um verdadeiro ponto cantado nos atin­ge lá den­tro do coração e da emo­ção, nos trazendo paz, fé, pela pureza e firmeza desses pontos maravilhosos.

Atabaque: as vibrações sonoras têm o poder  de adormecer o emocional, estimulando a sensibilidade, modifi­can­do as irradiações  energéticas, atuando  sobre o padrão  vibratório do médium, após esta mudança o mentor aproveita esta facilidade e adentra no campo ele­tromagnético, igualando-se  ao padrão  e  fixando-o no mental de seu médium, direcionadamente. Em pouco tempo o médium, entra em sintonia magnética para a incor­poração.
Existem vários tipos de toques:
• suaves e cadenciados (renovação afetiva e amorosa);
• vibrantes (descarrega);
• sons alegres (predispostos ao bom humor) .

Danças: A Umbanda recorrem  às “danças ri­tuais” pois, durante seu transcorrer, os médiuns se desligam de tudo e se concentram intensamente numa ação onde o movimento cadenciado facilita seu en­volvimento mediúnico. Nas “giras” (danças rituais), as vibrações médium-mentor se ligam de tal forma, que o espírito do médium fica adormecido, já que é paralisado momentanea­mente. No princípio, o médium sente ton­turas ou enjôos, mas estas reações cessam se a entrega for total e não houver tentativa de comandar os movi­mentos, já que seu mentor quem o comandará. Nada é por acaso. Se o ritual de Umbanda optou pelo uso de atabaques, cantos e danças ritual, há todo um comando pelos senhores do alto dando amparo e sustentação.

Roupa branca: O branco é a cor de Oxalá, que é o regente da Fé, da religiosidade dos seres da pureza, da humildade, da benevolência, da paciência da fraternidade da união e da caridade… O simbolismo da veste branca é bem visível, além de permitir uma uniformidade na apresentação do corpo mediúnico. Mas, se alguém se veste de branco e assume o grau de médium, dele também se exige que purifique seu íntimo, reformule seus conceitos a respeito da religiosidade e porte-se de acordo com o que dele esperam os Orixás Sagrados, pois estes que o ampararão daí em diante. O fato é que a Umbanda como uma religião possui seus próprios rituais ,suas próprias característica, e suas práticas.

Desenvolver a mediunidade não significa dar algo a quem não está habilitado para recebê-lo, mas sim, em habilitar alguém a assumir conscientemente o dom com o qual foi ungido.
Saravá Umbanda!

Fonte:http://estudoreligioso.wordpress.com



   Artigo nº 3   


A doutrina umbandista

1. Aspectos básicos da Doutrina Umbandista:
Uma visão geral dos vários tipos de ritual encontrados nos terreiros de Umbanda não mostra prontamente a Doutrina de Umbanda. Isto se deve à presença do sincretismo que mascara a verdadeira Doutrina, de forma a se adaptar às necessidades da população que freqüenta os templos afins. Os princípios que servem de base para todo o Movimento Umbandista são sensíveis, especialmente, nos Templos Iniciáticos e nos rituais internos de alguns terreiros, onde se percebe um interesse maior na busca da evolução espiritual, sem os véus da ilusão ditados pelo mito.

Partindo desta observação, podemos obter duas informações preciosas: A primeira é que, se fôssemos tentar compor uma Doutrina consistente, a partir das manifestações sincréticas, seria impossível atingir um quadro coerente, e mesmo que fosse possível, o mesmo ainda estaria absolutamente distante dos ensinamentos transmitidos pela “corrente iniciática”. A segunda informação importante é a de que, excluindo-se as manifestações do sincretismo nos diversos terreiros de Umbanda, é possível isolar determinados pontos de semelhança e conceitos compartilhados, que apontam para um sistema lógico, inicialmente insuspeitado, que encontra-se velado pelo caos aparente.

Dentre as semelhanças existentes entre os diversos terreiros ressalta-se a presença de Seres Espirituais da Corrente Astral de Umbanda que se manifestam pela incorporação nas formas de “Caboclos“, “Pretos-velhos” e “Crianças“. Este pode-se considerar o ponto básico que serve até como qualificador da doutrina professada por determinado núcleo espiritualista. A homogeneidade no encontro deste fator que eclodiu em coletividades distintas e fez surgir o Movimento Umbandista , leva à conclusão que a Doutrina de Umbanda é fruto da revelação destas entidades através de seus médiuns e não o resultado de uma miscigenação de cultos afro-ameríndios.

As entidades que se apresentam na Umbanda vêm personificar a Simplicidade, a Pureza e a Sabedoria, em nome de Oxalá – o Cristo Jesus – o Tutor Máximo do Planeta Terra. Através de seus conselhos, exemplos e mesmo da movimentação das forças naturais, conseguem acender a chama da Fé no coração dos consulentes que procuram os templos de Umbanda. A partir da Fé e da Razão incutem, gradualmente, na coletividade planetária, a compreensão dos mecanismos da reencarnação, das Leis Cármicas, das atrações por afinidade e sintonia e ensinam-nos os meios para caminhar seguramente em direção da nossa própria essência espiritual.

Com essas informações podemos deduzir que hoje, dentro da Umbanda, encontramos diversas interpretações e costumes. Os cultos seguem algumas influências comuns, mas são fortemente influenciados pelos seus componentes, pelos dirigentes locais que, sem uma base única e clara, permitem distorções, múltiplas facetas e ritos diversos. A Umbanda sofre o risco de se tornar conhecida pela religião, pelo culto no qual, qualquer dirigente que se diz conhecedor e com influências espirituais, abre a sua “Umbanda”, a sua moda e satisfação.

A Umbanda deve crescer pelo conhecimento e prática de bases mais sólidas, da busca da verdade e do conhecimento da Aumpram, da Lei Divina. A divulgação, estudo e compreensão da Lei Divina fortalecerá a Umbanda, eliminando mistificações e vaidades, atraindo ainda mais os verdadeiros interessados pela evolução espiritual.

2.   Em que a Umbanda acredita?
Vamos encontrar bases comuns para os que estudam, praticam ou são atendidos na Umbanda. Vamos criar um foco de convergência e a partir dele tentar compreender a Umbanda de todos. Como princípios deste foco convergente entendemos que a Umbanda acredita: em Deus, no amor, na natureza, no espírito e na evolução.

Em Deus
Principio e fim. Único e todo.
Deus está fora do limite de nossos entendimentos. Apesar das dificuldades e figuras de interpretações usadas por muitos, todos tem um sentimento comum de Deus, um sentimento bom, um sentimento de Amor e isto é o importante. Quando imaginamos nosso Deus, quando os mulçumanos, judeus, católicos, budistas imaginam o “seu” Deus, podemos divergir em várias idéias, mas certamente convergimos que o Amor é a grande força de Deus.

No amor
O Amor é a força da união, é o meio de se atingir ao grande objetivo universal. Como podemos imaginar Umbanda sem o Amor. Amor é:
Meio para nosso crescimento;
Força de União Universal;
O único caminho para evolução;
O único caminho para nos encontrar;
O único caminho para chegar a Deus.

Na natureza
Natureza e o estudo pela ciência.
Somos natureza. Não acreditamos em nós?
Nosso universo é regido por leis naturais e o homem busca compreendê-las ao longo de sua evolução. A busca deste entendimento é denominada de ciência. A ciência evolui, muda seus princípios a medida de novas descobertas, de novas revelações. Muitos mistérios que se encontravam além das fronteiras do místico, do religioso, foram substituídos, foram esclarecidos pela ciência sem deixar de existir o fato de que antes era místico ou oculto. O limiar da ciência e do desconhecido é uma questão de tempo e não de verdades absolutas.

Precisamos da ciência para evoluir, para compreender fenômenos muitas vezes ainda inexplicáveis em nosso momento. Se acreditamos em nós, acreditamos na natureza e usamos a ciência para compreendê-la melhor.

A Umbanda não conflita com a ciência. Precisamos fazer uma leitura do estágio científico atual e acompanhar sua evolução, aceitando os princípios de suas teorias, aplicando nos conceitos da Umbanda. A ciência é dos homens e suas revelações acompanham sua própria evolução. Devemos utilizar as ferramentas que dispomos no momento, evoluindo e revisando nossas bases.

Dentro da natureza os seres pensam, tem inteligência e a Umbanda tem um princípio que é um processo mental, a Magia, que pode ser definida como força atuante ou influenciadora de caráter mental, criada pelo pensamento, pela vontade do ser e que também não deixa de ser também um processo natural.

No espírito
De forma simplificada podemos entender que o “Espírito” é um dos elementos da natureza que compõe um ser . O ser não está limitado ao seu corpo físico. Talvez as explicações científicas ainda não tenham chegado a uma conclusão definitiva sobre espíritos, não significando que não existam simplesmente porque a ciência do homem de hoje não conseguiu elucidá-lo completamente. As forças atômicas, os elétrons e muitos outros exemplos não eram explicados pela ciência e não por isto não existiam ou eram inverdades, eram simplesmente não atingidos pela evolução científica da época.

Um ser tem sua existência, mesmo não tendo um de seus corpos. Chamamos então de desencarnado o ser que não está utilizando ou não utiliza um corpo físico.

A Umbanda acredita na comunicação com seres, com entidades, que não estão com seus corpos físicos, vulgarmente denominada de comunicação com espíritos ou com desencarnados dos mais diversos graus de evolução. A Umbanda acredita no ser extra corpóreo e na interação entre estes seres e o nosso mundo físico, seja através da comunicação, ou efeitos e influências diversas.
Veremos que de fato, o ser é composto ou dividido em vários “corpos” ou veículos de consciência, sendo a denominação “espírito”, dada pelos espiritualistas, uma simplificação de um grupo ou conjunto de “veículos de consciência”

Na evolução
Sabemos que o Universo está em mutação, está mudando todos os momentos. Sabemos que mudamos, envelhecemos, a natureza se altera, nosso planeta sofre várias alterações desde sua formação. Tudo está se modificando a todo o momento.
Estas modificações poderiam ser denominadas de evolução. Então tudo estáem evolução. O Universo, os seres que o compõe, o conhecimento, enfim tudo. Os processos são diferentes para cada um, para cada natureza, mas o evoluir é comum a todos.

Para nós a evolução ocorre ao longo de nossa vida presente e nas próximas. Evoluímos em ciclos sucessivos, em diversas vidas, comumente chamadas de reencarnações. A evolução só pode acontecer se for de alguma forma orientada, guiada por alguma lei ou princípio. O caos não levaria ao visível processo evolutivo. A lei maior que rege o processo evolutivo de todos os seres e até mesmo de todo o Universo é a Lei do Carma, onde causa e efeito estão definitivamente relacionados.

A lei do Carma ou simplesmente Carma, em sua ação no homem, só pode ser compreendida pelos que vêem o conjunto de suas vidas, de suas reencarnações. Nossa evolução só pode ocorrer através de nossas ações. Somos seres inteligentes capazes de determinar nossas ações, a Lei do Carma trará os efeitos causados pelas causas que criamos com nossas ações.

3.   Princípios:
Acreditamos que nossas ações devam ter como princípios:
PUREZA – A busca da Verdade;
HUMILDADE – O fim das vaidades e personalismos;
SIMPLICIDADE – Tentar levar ajuda a todos (Universalismo).
Forma gráfica:
Fonte:http://www.cantinhodefrancisco.com.br



   Artigo nº 2  

Atividade noturna do espírito (desdobramento)

Aluney Elferr Albuquerque Silva

Durante o sono o Espírito desprende-se do corpo; devido aos laços fluídicos estarem mais tênues. A noite é um longo período em que está livre para agir noutro plano de existência. Porém, variam os graus de desprendimento e lucidez. Nem todos se afastam do seu corpo, mas permanecem no ambiente doméstico; temem fazê-lo, sentir-se-iam constrangidos num meio estranho (aparentemente).

Outros movimentam-se no plano espiritual, mas suas atividades e compressões dependem do nível de elevação. O princípio que rege a permanência fora do corpo é o da afinidade moral, expressa, conforme a explanação anterior, por meio da afinidade vibratória ou sintonia.

O espírito será atraído para regiões e companhias que estejam harmonizadas e sintonizadas com ele através das ações, pensamentos, instruções, desejos e intenções, ou seja, impulsos predominantes. Podendo assim, subir mais ou se degradar mais.

O lúbrico terá entrevistas eróticas de todos os tipos, o avarento tratará de negócios grandiosos (materiais) e rendosos usando a astúcia. A esposa queixosa encontrará conselhos contra o seu marido, e assim por diante. Amigos se encontram para conversas edificantes, inimigos entram em luta, aprendizes farão cursos, cooperadores trabalharão nos campos prediletos, e, assim, caminhamos.

Para esta maravilhosa doutrina, conforme tais considerações, o sonho é a recordação de uma parte da atividade que o espírito desempenhou durante a libertação permitida pelo sono. Segundo Carlos Toledo Rizzini, interpretação freudiana encara o sonho como apontando para o passado, revelando um aspecto da personalidade.

Para o Espiritismo, o sonho também satisfaz impulsos e é uma expressão do estilo de vida, com uma grande diferença: a de não se processar só no plano mental, mas ser uma experiência genuína do espírito que se passa num mundo real e com situações concretas. Como vimos, o espírito, livre temporariamente dos laços orgânicos, empreende atividades noturnas que poderão se caracterizar apenas por satisfação de baixos impulsos, como também, trabalhar e aprender muito. Nesta experiência fora do corpo, na oportunidade do desprendimento através do sono, o ser, poderá ver com clareza a finalidade de sua existência atual, lembrar-se do passado, entrevê o futuro, todavia a amplitude ou não dessas possibilidades é relativa ao grau de evolução do espírito.

Verifiquemos três questões do Livro dos Espíritos, no capítulo VIII, perguntas: 400, 401 e 403.

P-400 “O Espírito encarnado permanece de bom prazer no seu corpo material? - É como se perguntasse a um presidiário, se gostaria de sair do presídio. O espírito aspira sempre à sua libertação e tanto mais deseja ver-se livre do seu invólucro, quanto mais grosseiro é este.

P-401 “Durante o sono a alma repousa como o corpo? - Não, o espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços entre corpo e espírito e, ele se lança pelo espaço e entra em relação com os outros espíritos sintonizados por ele.

P-403 “Como podemos julgar a liberdade do espírito, durante o sono? - Pelos sonhos.

O sono liberta parcialmente a alma do corpo, quando adormecido o espírito se acha no estado em que fica logo a morte do seu corpo.

O sonho é a lembrança do que o espírito viu durante o sono. Podemos notar, que nem sempre sonhamos. Mas, o que isso quer dizer? Que nem sempre nos lembramos do que vimos, ou de tudo o que havemos visto, enquanto dormimos. É que não temos ainda a alma no pleno desenvolvimento de suas faculdades. Muitas vezes somente nos fica a lembrança da perturbação que o nosso Espírito experimentou.

Graças ao sono os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos. As manifestações, que se traduzem muitas vezes por visões e até mesmo, “assombrações” mais comuns se dão durante o sono, por meio dos sonhos. Elas podem ser: uma visão atual das coisas, futuras, presentes ou ausentes; uma visão do passado e, em alguns casos excepcionais, um pressentimento do futuro. Também muitas vezes são quadros alegóricos que os Espíritos nos põem sob as vistas, para dar-nos úteis avisos e salutares conselhos, se se trata de Espíritos bons, e para induzir-nos ao erro, à maledicência, às paixões, se são Espíritos imperfeitos.

O sonho é uma expressão da vida real da personalidade. O espírito procura atender a desejos e intenções inconscientes e conscientes durante esse tempo de liberdade temporária. Conforme o grau, tipo de sintonia e harmonia gerada pela afinidade moral com outros Espíritos, direciona-se automaticamente para a parte do mundo espiritual que melhor satisfaça essa sintonia e suas metas e objetivos, ainda que não lícitos; e aí conta com amigos, sócios, inimigos, desafetos, parentes, “mestres” etc.

Contamos ainda com mais dois tipos de sonhos. O primeiro é o premonitório, quando se toma algumas informações ou conselhos sobre algum acontecimento futuro. O segundo é o pesadelo, ou seja, o sonho ansioso, em que entra o terror. É também uma experiência real, porém, penosa; o sonhador vê-se pressionado por inimigos ou por animais monstruosos, tem de atravessar zonas tenebrosas, sofrer castigos, que de fato são vivências provocadas por agentes do mal ou por desafetos desta ou de outras vidas.

Preparação para o Sono

Verificando o lado físico da questão, vamos ver a importância do sono, pelo fato de passarmos 1/3 de nosso dia dormindo, nesta atividade o corpo físico repousa e liberta toxinas. Para o lado espiritual, o espírito liga-se com os seus amigos e intercambia informações, e experiências.

Façamos um preparo para o nosso repouso diário:

Orgânico – refeições leves, higiene, respiração moderada, trabalho moderado, condução de nosso corpo quanto a postura sem extravagâncias.

Mental Espiritual - leituras edificantes, conversas salutares, meditação, oração, serenidade, perdão, bons pensamentos.

Todavia não nos esqueçamos que toda prece se fortifica com atos voltados ao bem, pois então, atividades altruístas possibilitam uma melhor afinidade com os bons espíritos.

Perispírito e Desdobramento

Embora, durante a vida, o Espírito seja fixado ao corpo pelo perispírito, não é tão escravo, que não possa alongar sua corrente e se transportar ao longe, seja sobre a terra, seja sobre qualquer outro ponto do espaço. (Allan Kardec , A Gênese, Cap. XIV, It 23).

Gabriel Delanne, em “O Espiritismo perante a Ciência”, conclui: A melhor prova de existência do perispírito é mostrar que o homem pode desdobrar-se em certas circunstâncias.

Desdobramento

É o nome que se dá o fenômeno de exteriorização do corpo espiritual ou perispírito.

O perispírito ainda ligado ao corpo, distancia-se do mesmo, fazendo agora parte do mundo espiritual, ainda que esteja ligado ao corpo por fios fluídicos. Fenômenos estes, naturais que repousam sobre as propriedades do perispírito, sua capacidade de exteriorizar-se, irradiar-se, sobre suas propriedades depois da morte que se aplicam ao perispírito dos vivos (encarnados).

Os laços que unem o perispírito ao corpo temporal, afrouxam-se por assim dizer, facultando ao espírito manter-se em relativa distancia, porém, não desligado de seu corpo. E esta ligação, permite ao espírito tomar conhecimento do que se passa com o seu corpo e retornar instantaneamente se algo acontecer. O corpo por sua vez, fica com suas funções reduzidas, pois dele foram distanciados os fluidos perispirituais, permanecendo somente o necessário para sua manutenção. Este estado em que fica o corpo no momento do desdobramento, também depende do grau de desdobramento que aconteça.

Os desdobramentos podem ser:

a) Conscientes: este, caracteriza-se pela lembrança exata do ocorrido, quando ao retornar ao corpo o ser recorda-se dos fatos e atividades por ele desempenhadas no ato do desdobramento. O sujeito é capaz de ver o seu “Duplo”, bem próximo, ou seja, de ver a ele mesmo no momento exato em que se inicia o desdobramento. Facilmente nestes casos, sente-se levantando geralmente a cabeça primeiramente e o restante do corpo, depois. Alguns flutuam e vêem o corpo carnal abaixo deitado, outros vêem-se ao lado dos corpos, todavia esta recordação é bastante profunda e a consciência e altamente límpida neste instante. Existe uma ligação ainda profunda dos fluidos perispirituais entre o corpo e o perispírito, facilitando assim, as recordações pós-desdobramento.

b) Inconscientes: ao retornar o ser de nada recorda-se. Temos que nos lembrar que na maioria das vezes a atividade que desempenha o ser no momento desdobrado, fica como experiências para o próprio ser como espírito, sendo lembrado em alguns momentos para o despertar de algumas dificuldades e vêem como intuições, idéias.

Os fluidos perispirituais são neste caso bem mais tênues e a dificuldade de recordação imediata fica um pouco mais árdua, todavia as informações e as experiências ficam armazenadas na memória perispiritual, vindo a tona futuramente.

Em realidade a palavra inconsciente, é colocada por deficiência de linguagem, pois, inconsciência não existe, tendo em vista o despertar do espírito, levando consigo todas as experiências efetivadas pelo mesmo, então colocamos a palavra inconsciente aqui, é somente para atestarmos a temporária inconsciência do ser enquanto encarnado.

c) Voluntários: se a própria pessoa promove este distanciamento. Analisemos algo bastante singular, nem todos os desdobramentos voluntários há consciência, pois como dissemos acima poderão haver algumas lembranças do ocorrido, existem ainda muitas dificuldades, no momento em que o espírito através de seu perispírito aproxima-se novamente de seu corpo, pela densidade ainda dos órgãos cerebrais é possível haver bloqueio dessas experiências. É necessário salientar que o ser encarnado na terra, ainda se encontra distante de controlar todos os seus potenciais, e por isso também há este esquecimento. Haja vista, algumas pessoas até provocarem o desdobramento e no momento de consciência terem medo e retornarem ao corpo apressadamente, dificultando ainda mais a recordação.

Os desdobramentos podem também ocorrer nos momentos de reflexões, onde nos encontramos analisando profundamente nossos atos e cuja atividade nos propicia encontrar com seres que nos querem orientar para o bem, parte de nosso perispírito expande-se e vai captar as experiências e orientações devidas.

d) Provocados: através de processos hipnóticos e magnéticos, agentes desencarnados ou até mesmo encarnados podem propiciar o desdobramento do ser encarnado. Os bons Espíritos podem provocar o desdobramento ou auxiliá-los sempre com finalidades superiores. Mas espíritos obsessores também podem provocá-los para produzir efeitos malefícios. Afinizando-se com as deficiências morais dos desencarnados, propiciamos assim, uma maior facilidade para que os espíritos mal-feitores possam provocar o desligamento do corpo físico atraindo o ser encarnado para suas experiências fora do corpo. A lei que exerce esta dependência é a de afinidade.

e) Emancipação letárgica: decorre da emancipação parcial do espírito, podendo ser causada por fatores físicos ou espirituais. Neste caso o corpo perde temporariamente a sensibilidade e o movimento, a pessoa nada sente, pois os fluidos perispiríticos estão muito tênues em relação a ligação com o corpo. O ser não vê o mundo exterior com os olhos físicos, torna-se por alguns instantes incapaz da vida consciente. Apesar da vitalidade do corpo continuar executando-se.

Há flacidez geral dos membros. Se suspendermos um braço, ele ao ser solto cairá.

e) Emancipação cataléptica: como acima, também resulta da emancipação parcial do espírito. Nela, existe a perda momentânea da sensibilidade, como na letargia, todavia existe uma rigidez dos membros. A inteligência pode se manifestar nestes casos. Difere da letárgica, por não envolver o corpo todo, podendo ser localizado numa parte do corpo, onde for menor o envolvimento dos fluidos perispirituais.

Fonte: http://www.espirito.org.br



   Artigo nº 1  
A crença na vida futura


Clara Lila Gonzalez de Araújo


Abraão lhe respondeu: Meu filho, lembra-te de que recebeste bens em tua vida e de que Lázaro só teve males; por isso, ele agora é consolado, e tu és atormentado.” (Lucas, 16:25.)

 A crença na vida futuraA parábola evangélica do Rico e Lázaro serve de exemplo para melhor interpretar as considerações a serem tecidas sobre o tema em questão. O Mestre, ao formular essa alegoria, comparando as privações da pobreza com as facilidades oferecidas pela riqueza, quis demonstrar que muitos ricos de bens materiais são egoístas ou duros de coração:

O rico vestia-se de púrpura e linho finíssimo. Vivia banqueteando-se esplendidamente. Lázaro, enfermo e paupérrimo, mendigava o pão de cada dia. Recostado aos portais do rico, esperava, em vão, que se lembrassem de lhe mitigar a fome.

O rico, na embriaguez dos prazeres, não no via.

[...] É assim que os cães, condoídos de Lázaro, vinham acariciá-lo, lambendo-lhe as feridas.

Eis que certo dia a morte bate às portas de ambos [...].

[...] Lázaro é feliz, fruindo [...] a doce paz de uma consciência tranquila [...] e entra na posse dos louros da vitória.

[...] E o rico, tendo falido na prova por que viera de passar, sente-se confuso e humilhado com a derrota. Ralado de remorsos lembra-se do seu passado [...].1

Ao chamar a atenção para as condições dos dois Espíritos após o traspasse, Jesus mostra claramente a importância do cultivo dos legítimos valores, que devem ser preservados, a cada existência, na preparação do nosso futuro. Os Espíritos superiores esclarecem de que maneira o Espiritismo ajuda o homem a se melhorar:

Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente, lhe é dado preparar o seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos.2

No entanto, mesmo compenetrados desses ensinamentos, ainda enfrentamos excessivos entraves no trato de certas questões morais, principalmente as que nos impedem de fazer o bem, de modo incondicional:

O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem esforço e quando nada custe.

Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra, disse-o Jesus, a propósito do óbolo da viúva.3

Todos, sem exceção, podem ajudar o próximo. Apenas os egoístas não encontram meios para praticar a caridade em favor de seus semelhantes.

Ao nos relacionarmos com as outras pessoas, teremos sempre o ensejo de fazer alguma coisa por elas, mesmo por meio de simples gestos de gentileza ou quando pudermos ser úteis, na medida do possível, nas ocasiões em que nosso concurso venha a ser solicitado.

O Evangelho segundo o Espiritismo, ao destacar o problema que surge do desinteresse em promovermos ações que beneficiem o próximo, alerta-nos:

Cada época é marcada, assim, com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral. [...]4

Desconhecendo a necessidade de se preparar para a vida futura, o homem centraliza seus pensamentos na vida terrestre, acumulando expectativas sobre tudo o que possa significar a conquista de proveitos temporais, os únicos que lhes avivam os interesses.

“[...] torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos.

[...] A perda do menor deles lhe ocasiona causticante pesar [...].”5 A despeito de acumular haveres, sente-se confuso sobre a sua utilização e procura, no desperdício, satisfazer as ambições de toda ordem, sem nenhuma preocupação ética que o possa nobilitar em ideais edificantes.

O que fazer para alijar das criaturas a enganosa ilusão de que a conquista da felicidade está condicionada aos recursos perecíveis? A crença no Espiritismo firma as ideias sobre certos pontos do futuro e torna possível aceitar a vida após a morte em todas as circunstâncias, constituindo-se no aspecto primordial dos preceitos doutrinários, o qual deve ser objeto dos maiores cuidados do homem na Terra. Os axiomas espíritas se remetem, por inteiro, a esse vasto princípio.

Ao regressarmos à pátria espiritual, assemelhamo-nos, geralmente, ao rico da parábola, em questão, descobrindo que as consequências das nossas faltas cometidas na vida terrena nos acompanham onde quer que estejamos.

A lei de ação e reação é inadiável e nada pode suspender o seu curso, compelindo-nos ao reajuste do próprio rumo para a edificação da felicidade real. Emmanuel, generoso benfeitor, adverte-nos sobre o estado espiritual que amealhamos no regresso ao plano do Espírito:

[...] em plena festa de luz, quase sempre desempenhamos o papel do conviva de cérebro deslumbrado, trazendo espinhos no coração.

Por fora, é o carinho que nos reúne.

Por dentro, é o remorso que nos fustiga.

Vanguarda que fulgura.

Retaguarda que obscurece.

Êxtase e dor.

Esperança e arrependimento. Reconhecidos às mãos luminosas que nos afagam, muitos de nós sentimos vergonha das mãos sombrias que oferecemos.6

A incerteza sobre o porvir faz com que o homem apenas se volte para a realidade material, tomado de uma espécie de excitação, na obtenção de tudo o que o possa satisfazer.

A responsabilidade dos nossos atos é o resultado do que cultivamos na existência atual. Com efeito, que nos importaria usufruir somente de bens temporais se o senso moral a ser alcançado houvesse de perder-se no espaço infinito das vivências futuras?

[...] Com o Espiritismo, a vida futura deixa de ser simples artigo de fé, mera hipótese; torna-se uma realidade material, que os fatos demonstram [...] a descrição da vida futura é tão circunstanciadamente feita, são tão racionais as condições, ditosas ou infortunadas, da existência dos que lá se encontram, quais eles próprios pintam, que cada um, aqui, a seu mau grado, reconhece e declara a si mesmo que não pode ser de outra forma, porquanto, [...] patente fica a verdadeira justiça de Deus.7

Essas revelações, pois, deixaram de ser coisas imprecisas, tornando-se verdades absolutamente explicáveis.

Evidências que constituem a verdadeira essência da Doutrina Espírita e que estimulam o processo de despertar os poderes latentes dos Espíritos encarnados, fundados na crença da vida no Além e do retorno ao corpo carnal, e de como poderão aproveitá-los em prol do seu progresso moral. Importa, primeiramente, estender esses ensinamentos às crianças e aos jovens para que tenham uma visão correta sobre a realidade espiritual e o futuro do ser.

O problema do suicídio, direto ou indireto, assume dimensões maiores na adolescência, se o jovem não recebeu ajuda na fase infantil e os conhecimentos próprios para a sua maturidade. O Espírito Joanna de Ângelis nos alerta quanto ao perigo de não prepararmos adequadamente os filhos:

[...] A desinformação a respeito da imortalidade do ser e da reencarnação responde pela correria alucinada na busca do suicídio.

[...] E essa falta de esclarecimento é maior no período infantojuvenil [...] facultando a fuga hedionda da existência carnal [...].8

Não transmitir essas noções aos seres que acolhemos como filhos, ou que estejam sob a nossa responsabilidade, como educandos, é negar a eles o mais importante legado concedido pela misericórdia divina, que é o de conhecer e aplicar os valores espírita-cristãos, permitindo-lhes desenvolver o entendimento moral e as noções mais ou menos justas do bem e do mal.

A compreensão da vida futura influencia o homem, incessantemente, para “[...] uma realidade que ele toca e vê, por assim dizer, a cada passo e de modo que a dúvida não pode empolgá-lo, ou ter guarida em sua alma”.9  A esse resultado, conduz o Espiritismo, afastando a incredulidade que se possa ter sobre o que concerne aos nossos destinos de Espíritos imortais. É uma luz que nos guia e que nos faz suportar as provas com resignação e fé inabalável, a única “que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.10

Referências:

1- VINÍCIUS (pseudônimo de Pedro de Camargo). Em torno do mestre. 9. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. Lázaro e o Rico, p. 148.
2- KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 92. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 799.
3- ______. ______. Q. 646.
4- ______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed. de bolso. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 9, it. 8, p. 175.
5- ______. ______. Cap. 2, it. 5, p. 70.
6- XAVIER, Francisco C. Justiça divina. Pelo Espírito Emmanuel. 13. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. Bom Combate, p. 13-14.
7- KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed. bolso. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 2, it. 3, p. 69.
8- FRANCO, Divaldo P. Adolescência e vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 4. ed. Salvador (BA): LEAL Editora, 1997. Cap. O adolescente e o suicídio, p. 131-135.
9- KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Trad. Manuel Quintão. 60. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2012. Pt. 2, cap. 1, it. 14, p. 186.
10- ______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 25. ed. bolso. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 19, it. 7, p. 323.

Fonte: http://www.sebemnet.org.br

Comentários

Anônimo disse…
Muito bom o 4 artigo
Os novos na casa devem ser instruídos a lê-lo, mesmo antes da primeira participação no Desenvolvimento
Haia Almeida disse…
Eu diria que este espaço do blog, foi perfeito.
Todos os artigos postados até agora (artigo 5), foram muito interessantes e de cunho de aprendizado muito grande. Creio que não somente os novos na casa deveriam ter o hábito da leitura, e este espaço veio como uma boa opção para aqueles que não tem muito tempo da leitura de livros.
Vamos divulgar a leitura no blog.
Unknown disse…
é maravilhoso eu amei ler esse blog e ele nós encina e orienta muito um bom axé a tds

Postagens mais visitadas deste blog

A diferença entre incorporação na umbanda e transe de orixá

Salmo 23 na versão da Umbanda

O fundamento da casinha de Exu