Umbanda e Páscoa

Embora a Páscoa seja uma celebração cristã, dela é possível extrair algumas boas lições que se aplicam a quaisquer denominações de fé, ainda que muitas tenham em seus valores civilizatórios ensinamentos muito semelhantes


Quando os cristãos festejam a ressurreição de Jesus Cristo — sincretizado com o orixá Oxalá, filho de Deus,  Zambi  (bantu) ou de Olodumaré (iorubá) —, temos um exemplo da infinitude da vida, seja de forma material (corpo humano), seja como energia da consciência, que perpetua a existência do indivíduo no universo. A morte é a perda da energia vital, que deixa o corpo e segue para o espaço infinito. Ou seja, o ser se transforma em energia — algo que sabemos que existe, mas não conseguimos  tocar a sua materialidade.


Na Umbanda, esse espaço infinito é constituído de camadas, que vão desde o umbral até a da espiritualidade maior (a energia refinada e pura), por elas estariam distribuídas as energias dos desencarnados. Por meio dessa visão, todos os seres são imortais, que se transformam para chegar ao espaço etéreo.


O acesso da energia vital (consciência) às diferentes camadas está relacionado ao nosso comportamento, enquanto corpo material. É a nossa consciência que dita e orienta nossas atitudes, sentimentos e decisões ante o próximo — desde o amor desinteressado até o ódio letal: extremos de humanidade, que nos dignificam e exaltam-nos como seres humanos, ou nos reduz à condição de seres irracionais.


A pluralidade de visões sobre a morte entre as diferentes religiões e também entre os céticos é tão antiga quanto a humanidade.  O químico francês Antoine Lavoisier, do século 18, ajudou-nos a compreender melhor a imortalidade. Por meio de experimentos, ele constatou que não é possível criar nem destruir a energia, mas, sim, transformá-la. Igualmente, não é possível criar ou destruir os átomos. Porém, pode-se transformar os átomos. Se somos composto por átomos, então, somos feitos de pura energia, portanto, a inação do corpo é a transformação.


Assim, podemos entender que o homem Jesus Cristo, que pregou o amor, a paz, a tolerância, o respeito às diversidades e à natureza, a equidade, a solidariedade entre os humanos , e condenou a mesquinhez, a ganância, o ódio e a violência, ao ressuscitar nos passou a mensagem da transformação e da imortalidade. Tornou-se o mais sublime ser da espiritualidade maior. Ele não pregou religião nem condenou as diferentes formas de diálogo entre os humanos e o sagrado e seus deuses. Pelo contrário, fez apologia da fé em Deus, o ser supremo, matriz de todas as energias do universo.


Por defender um Deus único, Jesus foi sentenciado a morrer crucificado. Guardadas as devidas proporções, impostas pelos séculos, umbandistas e candomblecistas, hoje, são vítimas do desrespeito e da perseguição dos cristãos e, mais agressivamente, dos fundamentalistas, que ignoram os ensinamentos do seu  mestre Jesus. Incoerência incompreensível. Mas seguimos em marcha neste plano material, tentando, a cada dia, agir de acordo com os ensinamentos daquele homem de Belém, a fim de transformar nossas energias. Quando elas deixarem o nosso corpo material, que a nossa consciência possa repousar nas camadas mais iluminadas do universo, como nos orientam as entidades que chegam às casas de Umbanda e aos outros espaços afrorreligiosos.


O mundo ocidental se apossou da sabedoria e dos ensinamentos de Jesus, que nasceu em Belém, distante cerca de 8km de Jerusalém, capital de Israel, país do Oriente Médio, vizinho ao Continente Africano. Difundiu seus ensinamentos por meio do antigo e Novo Testamento. As leituras das chamadas "escrituras sagradas" pelos cristãos têm variações múltiplas, dependendo da denominação de fé. Mas nada suprime a essência dos ensinamentos de Jesus, que propagou a paz, o amor e o respeito entre os humanos (homens e mulheres), e à vida.


Esse respeito ao próximo, bem como a paz e o amor entre os seres humanos e também a todos os animais e vegetais da natureza, é defendido na Umbanda e nas demais vertentes da afrorreligiosidade.  Esses princípios são os elos que unem todas as expressões religiosas. Mas, em sua maioria, são ignorados pela humanidade, que não consegue renascer para viver em harmonia e construir um mundo melhor. 


Feliz e doce Páscoa, com muito axé! (boas energias e felicidade)

Comentários

Unknown disse…
Quando um texto traduz: fé, paz e amor so próximo, impossível não nos envolvermos.
Márcia Brandão disse…
Este texto representa o grande sonho de fraternidade universal. Uma reflexão que precisa ser feita por todas as religiões. Gratidão.

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