Psicologia Solidária começa a ser referência em Ceilândia

Escolas e centros de saúde da rede pública indicam pacientes para a Ascap



A Psicologia Solidária — serviço prestado à comunidade de Ceilândia pela Ação Social Caminheiros de Antônio de Pádua, por meio de profissionais voluntários, — encerrou 2019 com 72 atendimentos. Mais da metade dos atendidos (58%) buscaram ajuda na rede pública de saúde, sem sucesso. Diante da dificuldade, eles recorreram à Ascap, por indicação de amigos, pacientes, instituições governamentais e não governamentais, além do Centro Espírita Caminheiros de Santo Antônio de Pádua, do qual a Ascap é braço social.  A internet, por meio das redes sociais, principalmente o Facebook, também ajudou algumas pessoas chegarem à instituição e serem acolhidas pela equipe de psicólogos.

A depressão, em quase todas as faixas etárias, foi o principal transtorno de 55,5% dos atendidos em 2019, decorrente, em 13% dos casos, de violência doméstica e urbana (assassinato de entes queridos), levando alguns à tentativa de autoextermínio. As mulheres e as adolescentes foram as que mais demandaram atendimento da Psicologia Solidária — 67,6%. As crianças (menores de 14 anos), somaram 20,8% dos atendidos, devido a bullying, deficit de atenção e outros transtornos. Os homens e os jovens do sexo masculino somaram 11,2%.

Reconhecimento

Em menos de um ano de trabalho, a Psicologia Solidária começou a ser notada pelas instituições públicas. Do total de atendimentos, 16,7% dos pacientes foram indicados por escolas da rede do Distrito Federal e postos de saúde, instalados em Ceilândia. Desse percentual, a maioria são crianças e adolescentes com transtornos de comportamento, com grave impacto no processo de aprendizagem e no relacionamento social e familiar. Um estabelecimento de ensino superior, com câmpus em Ceilândia, também recomendou a Psicologia Solidária para um dos seus alunos.

O primeiro balanço de consultas superou as expectativas do grupo de voluntários da psicologia, formado por 10 profissionais sensíveis e abnegados. Eles se importam com o sofrimento de mulheres, homens, jovens e criança decorrentes de traumas e agressões físicas e morais, que levam ao desequilíbrio emocional. Os transtornos, se não cuidados no tempo certo, podem se transformar em males físicos.

Parcerias

Na avaliação da equipe, o resultado alcançado em 2019 foi bastante positivo. Mas é preciso melhorar a estrutura de atendimento. A contribuição social dada pelos pacientes em melhor situação financeira custeia, com dificuldades, a passagem de ônibus, o lanche e uma refeição para os profissionais que dedicam um dia inteiro de trabalho ao projeto. A maioria dos pacientes não tem condições de arcar com a taxa social. O projeto se dá numa área do Distrito Federal, onde a população tem baixo poder aquisitivo e alta demanda pelo serviço prestado.

No entanto, há gastos com papel, toner de impressoras, pastas de prontuários, manutenção de computadores e outros pequenos gastos. Faltam testes e instrumentos necessários ao aprimoramento dos atendimentos. Diante da demanda crescente, ficou constatado que é preciso implantar mais um consultório para adultos e ampliar o espaço de atendimento infantil.

A principal fonte de renda da Ascap é o Bazar Solidário, que ocorre no segundo sábado de cada mês. O volume arrecadado é insuficiente para cobrir todas as despesas. Para superar essa dificuldade, a Ascap planeja fazer uma campanha para conquistar parceiros que façam doações mensais destinadas à manutenção do projeto e, inclusive, garanta uma  ajuda de custo aos profissionais voluntários da psicologia e da assistência social. A assistente social tem papel relevante no projeto. Ela  avalia a situação socioeconômica de pacientes carentes e oferece orientações para a solução de problemas burocráticos que eles encontram nos órgãos públicos e nas instituições privadas.

As atividades do projeto serão retomadas nesta segunda-feira (3 de fevereiro).  Boa parte dos 72 pacientes de 2019 seguirá, neste ano, em tratamento. Neste ano, mais três psicólogos  se somarão à equipe, que passará a ter 13 profissionais. Esse crescimento chega em boa hora para reduzir a demanda reprimida.

O que dizem os psicólogos solidários?

Iniciei os atendimentos em agosto de 2019 e, por mais que tenha sido pouco tempo, pude perceber o quanto me proporcionou crescimento. Pude perceber o quanto a psicologia pode ajudar a elevar a qualidade de vida das pessoas, tendo em vista que sempre busco oferecer um cuidado para além do consultório, possibilitando que as pessoas possam se tornar agentes de sua própria mudança e o fazer consciente. Tive retornos ótimos dos indivíduos no que tange ao processo psicoterápico. Em várias sessões, eles chegaram a agradecer o trabalho prestado e relataram  o quanto estava fazendo bem para eles. Acredito que o trabalhado solidário não somente proporciona aos usuários qualidade de vida (principalmente em se tratando de saúde mental), mas também ao profissional que pode exercer a profissão e ter contato com a transformação diariamente.
Carlos Eduardo Souza Limapsicólogo


“Atuar como voluntária é um enriquecimento. É um aprendizado constante, em que a gente tem a oportunidade de reconhecer a complexidade que envolve cada um de nós, humanos, com sua singularidade. Saímos do lugar comum e vamos de encontro a esse que está em sofrimento. A grande amálgama que gera sensação de pertencimento na escolha que fiz sete anos atrás. É quando vejo o quanto de potencial existe no humano em relação à tomada de decisão, que envolve também a liberdade de ele aceitar essa mudança. Uma frase especial me emocionou muito foi quando uma paciente expressou numa carta: ‘Hoje posso andar sem medo de cair’. A partir do contexto em que estava inserida, com traumas de infância (segredo guardado por mais de 20 anos), rupturas e sofrimento psíquico visível, ela se reconstruiu por meio da psicoterapia, no processo de encontro consigo mesma. Viktor Frankl, o fundador da logoterapia, destaca: "O sofrimento deixa de ser sofrimento quando ganha sentido". É exatamente no sofrimento extremo que buscamos ajuda psicológica e passamos a ressignificá-lo.”
Maria José Basílio, psicóloga, ex-voluntária da Ascap


“Iniciar meus atendimentos na Ascap em 2019 foi uma honra. Ascap é uma instituição que acolhe pessoas, sejam elas profissionais ou pacientes, onde todos que por ali passam se sentem acolhidos, amados e cuidados.  A maior parte do público da Ascap são pessoas em vulnerabilidade social , pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ter contato com o serviço de psicologia e poder proporcionar isso à elas é muito gratificante. Acredito que o que pode melhorar é a oferta de vagas, ter mais profissionais, mais salas, pois a demanda de pessoas que necessitam de acompanhamento psicológico é gigantesca. Mas são questões que com certeza vão evoluir com o tempo, a Ascap tem tudo pra crescer!”
Brenda Frazpsicóloga

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