Umbanda e a sua rica diversidade
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A pluralidade étnica, religiosa e cultural permite ao brasileiro estabelecer formas singulares de dialogar com o sagrado |
Em alguns debates nos Caminheiros, falei da diversidade
que existe na Umbanda, resultado da influência da cultura que caracteriza cada
estado do país e que dá traços singulares às regiões. Embora não tenha feito
uma pesquisa profunda sobre as diferentes formas de Umbanda, pude
observar, em contato com pessoas e autores de diferentes regiões, que as
práticas umbandistas são profundamente influenciadas pela cultura regional. Eis que encontro, no
grupo “Umbanda Minha Vida”, um texto que, em grande parte corrobora meu
entendimento, e que merece ser compartilhado com todos os caminheiros de Santo
Antônio de Pádua e leitores deste blogue. De forma simples, o texto, intitulado O pequeno universo do umbandista, cujo autor não é mencionado, explica o fato de a
Umbanda não ser codificada, como ocorre com Espiritismo e com outras religiões seculares, como o catolicismo. Assim, compartilho com todos esse achado, que
pode estimular um debate positivo e
acrescentar mais informações sobre a nossa Umbanda, sem qualquer demérito às diferentes
forma de dialogar com o sagrado por meio de rituais diferenciados de praticar a
Umbanda, cumprindo, a meu ver, o seu mais importante dogma: fazer o bem sem
olhar a quem, dando de graça o que de graça recebemos, com a eterna de
preocupação de não fazer ao outro que não queremos que façam conosco.
O pequeno universo do umbandista
"A riqueza da Umbanda é incontestável. Essa riqueza é
percebida nas liturgias, festividades, pontos cantados e tantas outras
manifestações encontradas nos terreiros espalhados pelo Brasil. A imensa
diversidade constitui — ou deveria constituir um fator de enriquecimento da
Umbanda enquanto religião e do umbandista enquanto ser pensante e atuante, no
entanto (e paradoxalmente), esse mesmo fator tornou-se um problema que exige
cautelosa reflexão, já que gera controvérsias e desentendimentos internos.
Tanto quanto o Brasil, a Umbanda apresenta diferenças
regionais, e não poderia ser diferente, já que dentro de um país continental é
natural e até enriquecedor que essa diversidade toda exista – e é possível
notá-la até nos menores detalhes: linguagem (em alguns casos parecem surgir
verdadeiros dialetos), comidas típicas, costumes etc.
O universo cultural é vasto, porém quando não compreendido,
constitui um problema, e é justamente isso que ocorre quando falamos do
universo do umbandista. O fanatismo religioso não é privilégio de nenhuma seita
ou denominação, podendo estar presente em todos os meios sociais, como uma
viseira intelectual que impede o seu portador de olhar para os lados ou para o
óbvio que descortina diante de si.
Todo sectarismo é burro e todo sectário é cego e apenas
repete, feito um autômato, supostas verdades que lhe foram ditadas um dia. Cada
templo ou terreiro de Umbanda é único e possui a identidade de seu dirigente e
também das entidades que ali atuam, por determinação do astral.
O universo da Umbanda é colossal, mas o universo do
umbandista é minúsculo quando ele não se permite olhar além das quatro paredes
do seu terreiro. Nessa situação ele se torna pequeno, sectário, fundamentalista
e ignorante, pois despreza a possibilidade de enriquecimento do seu
aprendizado, renegando tudo que não seja comum às suas práticas habituais, como
se somente elas fossem verdadeiras e válidas perante a espiritualidade.
Certamente existem diferenças litúrgicas entre os milhares
de terreiros de Umbanda espalhados pelo país. Um determinado ritual realizado
no Sul pode, sem problema algum, encontrar diferenças de um ritual praticado do
Nordeste, e nem por isso será “menos umbandista”. O umbandista que não entende
isso não entende também a rica diversidade da sua religião.
Sendo assim, poderia se dizer mesmo umbandista? A resposta,
nesse caso, deve vir após uma reflexão sobre a própria postura diante da
religião e diante do se apresenta como novo diante dos olhos habituados a não
ver nada além das paredes do templo que frequenta.
O advento da internet, que possibilita uma comunicação e
troca de informação maior entre as pessoas de diferentes regiões revelou um
fato inusitado. Por meio dos vários fóruns de discussão sobre Umbanda, ficou
claro que o umbandista, de uma forma genérica, tem dificuldades em aceitar
aquilo que não conhece.
E naturalmente não existe aquele que tudo conhece, visto que
a diversidade, como já foi dito, é enorme e varia de acordo com as diferentes
regiões. Não conhecer essa diversidade em sua grandeza não é o problema. O real
perigo consiste na dificuldade de aceitar aquilo que não reconhece como
verdadeiro, como se apenas o seu pequeno universo fosse detentor da verdade
absoluta sobre a prática da Umbanda.
Tornou-se comum presenciar nos citados fóruns, a troca nada
gentis de farpas entre pessoas que não defendem apenas convicções, mas sim a
visão limitada que juram de pés juntos constituir a mais pura verdade sobre a
religião, como se possuíssem uma procuração de Aruanda, atestando que a sua Umbanda
é mais Umbanda que a do outro e tivessem autoridade para afirmar isso.
Adjetivos nada polidos para quem deveria divulgar a Umbanda
por meio do exemplo são proferidos contra irmãos de fé, que por não temer expor
aquilo que conhecem e tomam como verdadeiro, sofrem verdadeiras humilhações e
até perseguições por parte de alguns poucos que se valem da facilidade com que
manipulam as palavras para agir dessa forma. Não percebe, este xiita do seu
próprio terreiro, que nada mais faz do que expor a fragilidade e a limitação de
seus conhecimentos, além de dar munição àqueles que tentam a todo custo
denegrir a imagem da Umbanda.
Não se trata, em hipótese alguma, de defender a ideia de uma
codificação da Umbanda, longe disso, mas é necessário que se estabeleça uma conduta
ética, que pode (e deve) transcender a temática umbandista, partindo para a tão
falada e pouco praticada lição do respeito às diversidades.
Reconhecer “o
outro”, em todas as suas diferenças é praticar a ética, e não temos o direito
de reclamar tanto da intolerância das demais religiões se somos intolerantes
com aqueles que deveríamos chamar de irmãos.
É óbvio que não devemos generalizar, mas notamos que,
infelizmente, muitos umbandistas ainda estão presos ao seu pequeno universo,
não aceitando sequer ouvir o que o outro umbandista tem a dizer. São pobres
seres isolados em redomas de vidro que chamam de terreiros, universos que
deveriam ser tão ricos, tendo em vista a bagagem cultural característica dessa
manifestação espiritual, mas que se tornam pequenos como as mentes que não
conseguem enxergar além de suas paredes.
A Umbanda é maior que
tudo isso, maior que as mentes cegas e maior que os pequenos universos,
inversamente proporcionais à prepotência daqueles que advogam verdades
supostamente absolutas."
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