Você é mesmo um umbandista?


Rosane Garcia


As atividades da Ascap estão crescendo. Estamos enveredando por caminhos que vão além da entrega de cesta de alimentos. Hoje, entre as muitas preocupações estão as de garantir a ascensão social e econômica das famílias e pessoas atendidas ou que chegam à instituição em busca de ajuda, e não necessariamente alimentos.

A dimensão da construção de uma cultura de paz está muito presente em todas as ações. Agora, essa dimensão ganha um novo e importante viés: o atendimento de vítimas de violência e um olhar mais atencioso para crianças e jovens.

Ficamos assustados com o aumento da violência. Temos medo de sair às ruas. Olhamos com desconfiança para meninos e meninas mal vestidos que se aproximam de nós. Julgamos pela aparência — um grande defeito. Não saímos do conforto de casa para mudar essa realidade que tanto incomoda. Esperamos que o governo resolva, e ele não resolve, pois se o Estado fosse a solução as cenas de horror do nosso cotidiano não existiriam.

Vivemos num país em que os cidadãos são apenas fonte para arrecadação de impostos por um Estado insaciável e que não oferece serviços de qualidade na saúde, na educação, na segurança e em muitos outros setores indispensáveis à qualidade de vida. Ou seja, pouco se importa com o bem-estar das pessoas. Os escândalos de corrupção estão aí para mostrar o quanto isso é verdade.

A revolta e a indignação contaminam nosso coração quando sabemos de casos de estupro, espancamento de mulheres pelos companheiros, agressões gratuitas aos homossexuais e aos negros. Mas não nos dispomos a ser o ombro amigo dessas vítimas.

Não nos colocamos no lugar delas nem nos preocupamos em saber como poderíamos ajudar para amenizar a dor dessas moças, mulheres, homens e jovens agredidos. “Isso não é da minha conta”, raciocinamos, e a indiferença é a resposta que damos a situações tão cruéis, que poderíamos ajudar a mudar.

Pior: muitas vezes condenamos a vítima: “Por que estava com uma saia tão curta ou estava com aquele decote provocante?” Por que não abandonou aquele homem horrível?” São muitas perguntas, mas não nos damos ao trabalho de saber qual é a realidade dessas pessoas. Negamos o direito de a jovem tem se vestir como bem desejar. Enfim, fortalecemos a cultura do machismo, tão perniciosa à harmonia entre os gêneros.

O machismo não atinge somente as mulheres, mas também os trans e homossexuais. É deturpação do processo educacional e cultural, preservado pela ideia equivocada de que os homens são superiores às mulheres e aos outros gêneros, com repercussões negativas em todas as relações sociais e trabalhistas.

Nós, umbandistas, nos comportamos assim: no dia e horário marcados, estamos no terreiro. Rezamos e pedimos para que haja paz, harmonia entre as pessoas. Que saibamos amar o próximo como a nós mesmos. Mas na hora “H”, quando o próximo, não importa quem ele seja chega mais perto, necessitando de ajuda, lhe viramos as costas.

Isso é vivenciar a Umbanda? Isso é trazer para a vida material os ensinamentos os ensinamentos da Umbanda? Não. É a negação da orientação dos caboclos, dos pretos velhos e de outras entidades, às quais sempre pedimos ajuda e misericórdia para as nossas dificuldades pessoais. Não estamos amando o outro como a nós mesmos. Ao contrário. Estamos desprezando o outro, como não gostaríamos que fizessem conosco.

Queremos uma sociedade diferente, mais harmoniosa, solidária e fraterna, sem violência. Mas o que estamos fazendo para que tenhamos um mundo melhor? Nada. Absolutamente nada. A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado na semana passada, revelou que mais de 7 milhões de brasileiros se voltaram para atividades voluntárias. Isso ainda é muito pouco, considerando que a população do país chega a que 210 milhões de habitantes. Ainda assim é sinal de que muita gente está se movimentando para ajudar as outras pessoas.

Então, o que você está esperando para engrossar esse movimento de voluntariados?

A equipe da Ascap é pequena. O próprio estatuto limita o número de diretores. Então, o voluntariado é uma força muito grande e importante para que possamos expandir as ações da instituição. As atividades da Ascap são um dos meios para praticar a Umbanda no plano material em que vivemos. Ajudar ao próximo. Entendê-lo como um igual a gente e que precisa de apoio, auxílio e carinho  para superar as adversidades da vida. E isso nos é passado, repetidas vezes pela doutrina umbandista: estender a mão a quem precisa, não importa quem seja esse alguém, não só dentro, mas também fora do terreiro.

Venha participar, colaborar com nas atividades da Ascap, braço social dos Caminheiros de Santo Antônio de Pádua. Seja um voluntário. Há muita gente que precisa de você. Não se negue a expressar sua capacidade de ser fraterno e de amar o próximo, como você deseja ser amado.

ASCAP:
EQNO 1/3, Lote A, Área Especial, Setor "O", Ceilândia
E-mail: ascap.cecsap@gmail.com

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