O menino e a cesta de alimentos
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Luís Felipe, ao lado da mãe: superação |
LUÍS FELIPE É O MAIS novo dos três filhos de dona Luciana, desempregada e sem profissão
definida. Ele tem 13 anos, completados neste sábado (17/2) sofre com uma cardiopatia. Para surpresa da
equipe da Ação Social Caminheiros de Antônio de Pádua (Ascap), não esboçou
reação quando chegamos à sua casa de três cômodos, cheia de varais de roupa
pela sala e ainda sem reboco em um amontoado de moradias no Sol Nascente,
chamado de setor habitacional pelos mais otimistas. A casa foi construída pelo ex-marido,
que já não se faz presente na vida de Luís e seus dois irmãos, de 15 e 17.
Dona Luciana
padece de problemas de saúde, precariamente monitorados pelo serviço médico da
rede pública local. O inchaço das pernas e a crise no mercado de trabalho
agravam as dificuldades de locomoção da mulher. Nesse cenário, os visitadores
esperavam, durante a entrega da cesta de alimentos à família e de cadernos
escolares para ele e os irmãos, um ar surpreso e iluminado estampado no rosto
de um pré-adolescente cuja vida, até aqui, tinha tudo para dar errado. Isso não
ocorreu.
Ele se portou como um adulto introspectivo em corpo de menino de 13 anos.
A mãe estava
fora logo que a equipe chegou, o filho mais velho dormia e o do meio
perambulava pelas ruas estreitas do bairro marginal da Ceilândia. Luís Felipe recebeu
os representantes da Ascap, alertando
para o cocô de Pituca, o chihuahua dele, bem na entrada do portão. O menino,
envergonhado pelo cabelo desgrenhado, pediu que sentássemos no sofá, enquanto
corria ao banheiro para dar um trato na aparência, escovar os dentes, molhar e
pentear o cabelo, além de trocar a bermuda.
A equipe fez
as perguntas de praxe no acompanhamento das famílias beneficiárias do programa
social da Ascap e obteve informações precisas passadas pelo menino, o que ajudou
a compreender a vida dele na favela. Mas o que impressionou mesmo foi o
carisma, o olhar e o desejo de não ter, ele mesmo, que se preocupar com o seu
futuro e o da família.
Aluno do
sexto ano, o garoto estava por um fio para ser reprovado na avaliação escolar
e, sem que houvesse estímulo algum, a mãe se surpreendeu ao saber que no final
do ano passado, conseguiu se superar e “passar direto”, sem a necessidade de
recuperação. O esforço pessoal de Luís chamou a atenção. A mãe lamentou não
poder recompensá-lo pelo feito e, quando alguém brincou afirmando que aquele
êxito merecia um carro de presente, ele não hesitou: “Uma minimoto tá bom”,
devolvendo a brincadeira.
O otimismo
sereno de Luís Felipe, sua consciência do status socioeconômico da família e o
desejo de debelar as fragilidades que ele percebe na casa conduzem a uma
reflexão: A cesta de alimentos deve mesmo continuar apenas como um socorro
nutricional? A Ascap estuda o enfrentamento a esse desafio, acrescentando itens
que não se come, mas que podem ajudar a garantir vida digna, muito além da
sobrevivência.
Texto: SOLON DIAS | Jornalista e voluntário da Ascap
Texto: SOLON DIAS | Jornalista e voluntário da Ascap
Equipe:
Sandra Rita
(Conselho Fiscal)
Glaycon
Scofield Furletti (Conselho Fiscal)
Solon Dias
da Silva (voluntário)
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