Convive e Ascap farão encontro no Sol Nascente
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Roda de Conversa: dirigentes do Convive e da Ascap colhem relatos de violência no Sol Nascente |
A ideia é ouvir mais
moradores, entre o primeiro e o segundo fim de semana de março, sobre os problemas locais e elaborar documento a ser entregue às
autoridades do Distrito Federal, visando a construção de soluções que garantam qualidade
de vida às pessoas
O PONTO DE ÔNIBUS mais próximo fica a um quilômetro das residências. Escola? Também não há perto de casa. Os pais e as crianças têm que
percorrer uma distância ainda maior para chegar ao colégio. Centro de saúde não
existe nas proximidades. A iluminação nas ruas é muito precária. Viver na
região da Chácara 6 e da Quadra 209 do Setor Habitacional do Sol Nascente é se
expor, durante o dia ou à noite, à violência de traficantes, usuários de drogas
e outras formas de agressão. O perigo é tão grande que os policiais não se
atrevem a fazer uma ronda ostensiva no local. O clima de insegurança não é
diferente entre os que moram em alguns trechos da Expansão do Setor “O” de
Ceilândia.
“Até a polícia tem medo de descer”, diz uma moradora, entre
as mais de 15 pessoas participantes da Roda de Conversa. O encontro mensal,
voltado ao debate da violência e os danos causados à vida das pessoas, começou
em outubro de 2017, em uma parceria entre a Ação Social Caminheiros de Antônio
de Pádua e o Comitê Nacional de Vítimas da Violência (Convive).
Próxima reunião
Na reunião, realizada na tarde de sábado (3/2), na sede da
Ascap, estavam a coordenadora, Valéria de Velasco, e o presidente do Convive,
Francisco Régis, que foi participar pela primeira vez e conhecer a instituição.
Diante dos relatos das mulheres, muitas acompanhadas dos maridos, que também
participaram ativamente do trabalho, Valéria propôs a elaboração de um
documento, enumerando as dificuldades das famílias que têm a qualidade de vida comprometida
ante a insegurança do local em que vivem.
As reivindicações da comunidade serão organizadas e entregues
aos órgãos competentes do governo do Distrito Federal a fim de que as
providências necessárias sejam adotadas. Mas, antes, a próxima Roda de Conversa
será, entre o primeiro e o segundo fim de semana de março, em uma das quadras
da Chácara 6, para que mais pessoas sejam ouvidas e as histórias registradas
pelos representantes do Convive e da Ascap.
A proposta teve amplo apoio de todos os participantes, que
nunca são ouvidos pelos representantes do poder público. Reclamar a quem,
quando nem mesmo a polícia atende aos apelos em situações críticas? Os
depoimentos mostram que são pessoas invisíveis ao Estado. Vivem de trabalho
precário, com renda ínfima, insuficiente para uma vida digna, em uma área
cercada pela insalubridade do lixo não recolhido regularmente.
“Há poucos dias, colocaram um contêiner para depositarmos o
lixo”, diz Antônia. Ela considera a iniciativa do governo insuficiente. O local
precisa de muito mais: coleta regular, limpeza das ruas — grande parte ainda
sem pavimentação —, e, principalmente, segurança pública, além de transporte.
Os veículos clandestinos cobram R$ 2,50 para percorrer pouco mais de um
quilômetro e deixar o passageiro no supermercado Trem Bom, ponto de referência dos
moradores. Na véspera do encontro (2/2), o estabelecimento comercial foi assaltado.
“Levaram uns R$ 10 mil e teve até tiroteio”, afirmou ela.
A única quadra de esportes virou território de traficantes e
usuários de drogas. Crianças e jovens não podem frequentar o espaço para
brincar, jogar bola ou outra atividade. “Se tivesse polícia, não haveria
malandros”, diz Antônia, ao lado do companheiro, Pedro. Ele diz que crianças e
adolescentes, além de serem usuários, são usados no comércio dos entorpecentes:
maconha, cocaína e crack.
Os criminosos, admite o casal, não mexem com os moradores,
desde que não infrinjam a regra imposta por eles. “Quando andamos pela rua, não podemos encarar
nenhum dos jovens e adultos envolvidos com tráfico”, relata Antônia.
Desobedecer à regra é colocar a vida em risco.
Criançada
Na área externa, os filhos dos participantes também tiveram
o próprio encontro. A professora Alessandra, voluntária da Ascap, propiciou à
criançada brincadeiras. Nem mesmo um filme infantil foi capaz de mantê-las na
cadeira diante do convite da professora. Em todos os encontros realizados,
Alessandra oferece diversas atividades de lazer à meninada. Isso permite que os
pais possam discutir seus problemas com tranquilidade, tendo a certeza que os
filhos estão em boas mãos.
No salão ao lado do de reunião, dirigentes da Ascap e
voluntários tratavam de arrumar o lanche — cachorro quente, pipoca, suco e
refrigerante — e organizar a entrega de cestas de frutas e verduras, garantidas
por parceiros solidários do comércio do Setor “O”. Encerrado o encontro, os
adultos puderam escolher roupas oferecidas em doação pela Ascap, que não têm
valor comercial para compor o bazar mensal da instituição.
PARTICIPANTES DO ENCONTRO
Convive:
Francisco Régis e Valéria de Velasco
Ascap: Andrea
Bequiman, Matheus Mendes, Rosane Garcia, Sandra Rita Pontes, Glaycon Scofield,
Alessandra, Daniela, Grazziely, Luiz, Sumara, Valéria Mesquita
Representantes das
famílias convidadas: Antônia Mendes, Manoel Alves, Eunice Paz, Ana Beatriz,
Kamila Alves, Claudene Moura, José Antônio Ferreira, Kátia Pereira, Reinaldo
Santos, Walquíria Santos, Josélia Silva, Maria de Lourdes Souza, José Alves da
Silva, Jânio da Silva Santos, Antônia Lopes, Maria Zuíla
Crianças: Bruno, Gabriel,
Ana Beatriz, Matheus Pereira, Henrique, Ana Vitória, Maria Eloá, Josiane,
Alícia, Letícia e Julie Gabrieli
Francisco Régis (abaixo), presidente do Convive, e Valéria de Velasco, coordenadora, conversam individualmente com os participantes da Roda de Conversa


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