Celda não será esquecida
Hoje, o Centro Espírita Caminheiros de Santo Antônio de Pádua celebrará uma prece especial, às 20h, em memória de Iracelda Paixão, a Celda, morta brutalmente, no último dia 4, em sua casa, no bairro Pinheiro 2, em Águas Lindas de Goiás. Todos os irmãos da casa, frequentadores e amigos estão convidados a participar a cerimônia. Os caminheiros estão consternados ante a violência que ceifou a vida dessa irmã de fé. Uma pessoa alegre, plena de jovialidade e alegria. Mesmo diante das vicissitudes da vida, Celda brindava a todos com um sorriso franco e alegre. Rogamos a Deus e à espiritualidade que a abrace com carinho e muito amor.
O corpo de Celda foi sepultado dia 13 último, Barreiras (BA), no mesmo campo santo onde está um jazigo da família.
Abaixo, um texto-homenagem escrito por irmão dos Caminheiros, que vem acompanhando o caso de Celda, a fim de que a impunidade não prevaleça e os responsáveis sejam, exemplarmente, punidos pelas leis deste plano material. Que prevaleça a Lei do Retorno a fim de que os algozes de Celda recebam o esclarecimento que for necessário ante a perversidade dos seus atos.
Celda não será
esquecida
» Um irmão de Fé
Domingo de carnaval e
a programação já estava garantida: um churrasco em família para celebrar a
vida! No trajeto até o sítio, um acidente grave com carros do Samu, helicóptero
e no coração o pedido de que não fosse nada grave, as vítimas fossem amparadas.
Mudei a rota e segui ao meu destino. As crianças brincavam no pula-pula, os
adultos se distraiam com o bingo, os mais preguiçosos dormiam nas casinhas da
árvore. O domingo perfeito, dizia o discurso de agradecimento do anfitrião: “A
família é a base de tudo”.
Tomei o caminho de
volta, cheguei em casa, liguei a tevê e entre um programa e outro, conversava
com membros da minha outra família, a família de fé, pelo zap falávamos do BBB
em que se formava mais um paredão, até que um silêncio se estabeleceu no grupo
e uma mensagem rasgou a tranquilidade: “Nossa irmã Celda desencarnou”.
O que houve? O que
aconteceu? Fale o que aconteceu? Perguntas repetidas e sem respostas. Passados
alguns minutos a verdade se confirmou: Foi assassinada! As lágrimas começaram a
sair dos olhos, involuntariamente. Como? Por quê? Quando? O desejo de ajudar, o
desejo de abraçar, o desejo de socorrer, o desejo de que aquilo fosse um
pesadelo falava mais alto em todos.
Uns queriam ir ao
local do crime por não acreditar no que liam. Já eram 21h40 e, para quem não
sabe, o Entorno do Distrito Federal, Águas Lindas de Goiás, mais precisamente
no bairro Pinheiro 2, é local onde o tráfico de drogas e a violência são comuns
na vida daqueles que ali residem. A maturidade tomou o lugar da dor, e eu disse
não estamos autorizados a ir lá agora. Recomendei a todos que ficassem em casa.
Mais calmo e tentando
acalmar os demais irmãos, pensei que precisava comunicar a família? Mas quem?
Tantos anos convivendo com aquela irmã tão dedicada e nunca havia me atentado
em perguntar sobre sua família, onde morava, quem era... Alguma referência
sequer. Entrei no Facebook e passei a buscar por pessoas com o mesmo sobrenome dela
e a questionar se conheciam Iracelda Paixão, logo recebi a resposta de uma
pessoa que disse: “Boa noite, sou sobrinha dela”.
— Boa noite. Tem
alguém próximo a você e algum telefone em que eu possa ligar?
— Não, estou em
Barreiras e aqui não temos telefone — respondeu a sobrinha.
— Posso te ligar pelo
aplicativo do Messenger? — perguntei.
— Sim pode sim! Boa
noite, infelizmente, a Iracelda faleceu e estamos atrás de parentes ou membros
da família para auxiliar nos trâmites burocráticos.
A essa altura,
milhares de pensamento povoavam a cabeça de todos os nossos irmãos de fé. A
dor, a tristeza, a angústia pela falta de notícias corretas, lágrimas e mais
lágrimas. Uma reunião foi agendada para as 9h, de segunda-feira (12/2), na sede
de nossa casa espiritual, para decidirmos como ajudar. Pelo celular, segui em
contato com a família da Celda, contribuindo com tudo que sabíamos e orientando
quanto aos procedimentos necessários.
A noite passou em
branco, a pior dos últimos tempos. Aquilo de fato não era um pesadelo. Era real.
Entre pensamentos, revezavam preces, orações e pensamentos de luz para a nossa
irmã onde quer que ela esteja. Às 8h, antes mesmo do horário combinado, meu telefone
tocava. “Estamos lhe aguardando aqui”, anunciada um irmão da casa. Ninguém
havia dormido nem tomado café. Juntos e reunidos em nossa casa, nosso lar espiritual,
fizemos um café amargo e tomamos.
Defumador aceso, sala
preparada, fomos à sala do senhor Ogum da Floresta, mentor da fundadora de
nossa Casa, e suplicamos à espiritualidade por nossa irmã, a prece daquelas dez
pessoas ali reunidas foi um bálsamo. As lágrimas cessaram. A certeza de que a
espiritualidade se fazia presente acalmou os nossos corações.
Precisávamos ir à
delegacia, dois carros cheios se dirigiram ao local, no trajeto percebemos a
distância de carca de 80 km (ida e volta) que era percorrida por nossa irmã
todas as quartas e todos os domingos, somente uma pessoa com muito amor e com
muita fé, seria capaz de manter essa rotina com tanto esmero.
Na delegacia tomamos
nota de todo o ocorrido, a família pegou a documentação para realizar os
procedimentos necessários ao funeral, marcado para terça-feira (13/2), em
Barreiras, no mesmo local onde estava sepultado o pai de Celda.
Retornamos para
Brasília. Na bagagem, a tristeza que vai demorar a desapegar de nossos
corações. Mas como nós, médiuns, podemos sofrer assim? Pois, somos acima de
tudo humanos, de carne e osso, mesmo tendo fé na perenidade da vida, não tivemos
a oportunidade de dizer o nosso último até logo para nossa querida Celdinha. Não
pudemos dar nela o nosso último abraço.
Talvez ela tenha partido
sem ter a certeza absoluta do quanto ela era importante e única para a nossa
Casa, sem saber do orgulho que nutríamos por ela, que mesmo tendo um dia morado
na rua, passado fome e tantas necessidades, se manteve íntegra, amorosa,
trabalhadora e sempre sorridente. Celdinha se levantava todos os dias às 4h da
manhã, tomava o ônibus às 5h e ia fazer faxina em casa de família.
Tão honesta que, um
dia, a Ascap, braço social da casa, propôs a beneficiá-la com cesta básica de
alimentos, e ela deu como resposta: “Não posso aceitar. Existem pessoas que
precisam muito mais que eu. Graças a Deus, meu pouquinho ainda está sendo
suficiente”.
Hoje, a certeza que
acalenta nosso coração é a de que nenhuma folha cai sem o consentimento de
nosso pai Zambi, Deus, Jeová, Alá... — como queiram chamar. Todo resgate faz
parte de uma missão única que nos é conferida. A violência nos deixa, sim,
cicatrizes que demoram a ser curadas. Medo, a angústia... Mas, acima disso tudo,
está a nossa fé e o nosso amor ao próximo que nos permite perdoar, recomeçar e o
ressignificar os episódios, colher flores onde só vemos espinhos.
Uma mensagem que
podemos dizer é: ame hoje, valorize hoje, abrace hoje, mesmo a vida sendo eterna,
o reencontro muitas vezes demora e ficamos aqui com a lacuna da palavra não
dita, do abraço não dado, do agradecimento não feito.
Celda, mesmo que sua
partida tenha sido assim, dolorosa, queremos que você receba de seus irmãos de
fé todo o nosso carinho, o nosso orgulho pela sua história de vida, de suas
abdicações, de sua disciplina e do seu amor para com sua casa, sim, nossa casa
é sua e seguirá sendo assim.
Agora, no invisível,
rogamos a todos os mentores da Fonte das Rosas Brancas, aos seus irmãos
espirituais e aos mentores com os quais trabalhou em sua jornada mediúnica, que
a ampare e a receba nos braços do Pai, onde não haverá dor nem violência.
Obrigado!
por tornar a nossa casa um lugar maior,
melhor, onde as diferenças unem, onde as desigualdades aproximam. Obrigado
minha irmã, obrigado por tudo.
Te amamos muito!
Um irmão de fé
Comentários
Uma pessoa cheia d muita paz .
Q o nosso pai ogum t receba e t d muita paz amiga