Mediunidade na adolescência


 
 Veridiana Mataji

Hormônios e mediunidade são uma combinação explosiva. Na fase em que estamos tentando compreender quem nós somos, em um momento de transição e de muitas descobertas, neste período delicado da vida ter de lidar com a mediunidade não é fácil.

Eu como jovem, na época, não achava legal ser médium, achava horrível porque já me sentia muito diferente de todos e mais essa para encarar? Foi pesado para mim e acredito que também seja assim para milhares de adolescentes que estão passando por isso, além de ser um grande transtorno para a família, que nem sempre sabe lidar com a situação.

Digo isto, porque mesmo sendo de uma família espiritualista e havia umbandistas na família, foi difícil.O pai e mãe muitas vezes vão esperar daquele filho que ele saiba usar a sua mediunidade como um adulto que tem anos de terreiro, mas não é assim que funciona, pois até nós adultos, muitas vezes ficamos perdidos em algum momento de nosso processo de desenvolvimento mediúnico.

Aos pais e mães, muita paciência e muita informação, buscar conhecimento sobre o que é mediunidade é importante. Não vamos reproduzir nas “crianças” o que nós ouvimos, o que eu ouvi: “Se você não trabalhar viverá doente” ou o contrário “Nunca vi a vida de ninguém que mexe com isso ir para frente”. Sem contar os pareceres médicos que contribuíram bastante para que eu me sentisse cada vez mais constrangida em relação a mim mesma e aos outros.

Como adolescente, é barra ter de lidar com um “poder” desse tamanho, é complicado viver tendo que guardar segredo sobre sua relação com os espíritos, é terrível se sentir diferente, excluído, não-pertencente, justamente em uma fase em que todo mundo quer ser parte de um grupo que seja importante para si. Penso que ser médium é um presente, e somo nós quem escolhemos se e quando vamos usar este presente.

Não cabe ao outro nos dizer quando fazê-lo, essa é uma vontade que brota do fundo do coração, mas para isso, é preciso ter uma série de questões pessoais minimamente esclarecidas, para que o conflito externo e interno não reverbere negativamente no processo de desenvolvimento, e isso demanda tempo. Se você que tem trinta anos ou mais se considera um bom médium espere para ver do que serão capazes os nossos jovens de hoje. Por uma mediunidade de livre escolha e sem o peso de um fardo, apoie, converse, indique boas leituras, mas não coloque mais peso aonde já está pesado.
Fonte: Jornal de Umbanda Sagrada (JUS_setembro/2016)

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