Professor brasiliense lança livro sobre a Umbanda
Obra resulta de exaustiva pesquisa em 45 terreiros no DF, além de entrevista com os dirigentes da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, berço da primeira religião brasileira. O lançamento ocorre hoje, em escola do Guará I
Em 15 de novembro próximo, o surgimento da Umbanda
completará 108 anos. Hoje (16/7), essa
religião brasileira que agrega elementos de cultos africanos, indígenas e
doutrina espírita codificada pelo francês Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard
Rivaill) ganha novo capítulo, com o lançamento do livro Umbanda ㅡ
o transtorno de identidade de uma religião violentada, do professor Jorge
Caetano Júnior. O coquetel de lançamento será no Centro de Ensino Fundamental
(CEF) 4, situado na QE 12, Área Especial s/nº, do Guará I, ao lado do Posto de
Saúde, a partir das 20h.
Além de ampla bibliografia, a obra tem como fonte de
pesquisa 45 casas umbandistas, sediadas no Distrito Federal, e a Tenda Espírita
Nossa Senhora da Piedade, em Cachoeira de Macacu, no Rio de Janeiro, onde os
herdeiros preservam o legado deixado pelo médium Zélio Fernandino de Moraes,
criador da Umbanda em 1908. “Parti da premissa de fazer a pesquisa de campo em
Brasília, porque a cidade é uma espécie de mosaico da nação. Aqui, tem gente de
todos os cantos do país. Encontrei dirigentes das 27 unidades da Federação. Foi
uma mostra muito boa”, diz Jorge Caetano.
Após quase 8 meses de pesquisa bibliográfica e 1 ano e 7
meses de visitas aos terreiros e
entrevistas com os dirigentes das instituições, o escritor identificou quatro
vertentes de práticas da Umbanda e as descreveu de forma minuciosa na obra. No território candango, há a Umbanda tradicional, a esotérica, a africanista, que
se dividida em raiz e popular.
A umbanda tradicional é a que guarda maior proximidade com
os princípios e orientação emanados por Zélio Fernandino de Moraes. A esotérica
está ancorada no ensinamento kardecistas. Nessa vertente, “só se manifestam pretos velhos, caboclos e
crianças. Não tem sessão pública de exu. "Aliás, não trabalha com exu
definitivamente”, explica Jorge. Segundo ele, na comparação com as outras
tendências, a esotérica congrega o menor número de instituições.
A umbanda de raiz tem estreita relação com os culto
candomblecistas, com uma linha
doutrinária bem clara. A umbanda popular, por sua vez, é a mais disseminada,
apesar de não ter linha doutrinária consistente se comparada às demais
vertentes. Ela mistura elementos das outras vertentes, além daqueles próprios dos cultos de Jurema e Terecó. “É uma espécie de vale-tudo”, diz o escritor, ao
destacar que, no entanto, a popular atrai desde atrai seguidores de todos os
estratos socioeconômicas. “Desde os mais pobres aos mais ricos.”
Mineiro de Uberaba (MG), conterrâneo do grande médium
Francisco Cândido Xavier, Jorge Caetano assumiu o desafio de desvendar e
esclarecer a origem da Umbanda e as diferentes vertentes que essa prática tem
no Brasil e que lhe confere singularidade como religião genuinamente
brasileira. Ele chegou à Umbanda aos 16 anos e, ao mesmo tempo, se dedicava ao
espiritismo.
Hoje, aos 52 anos, Jorge conta que, embora tivesse certeza
de que seu caminho era a Umbanda, tinha discordâncias, “sobretudo em relação ao
rito, às coisas não explicadas e à falta de uma doutrina específica”. Na década
de 1980, não havia acesso à internet e era difícil conseguir fontes de
informações. A partir do início deste século, surgiram oportunidades de avançar
no estudo e na pesquisa sobre diversidade religiosa no país e, em especial, a
Umbanda.
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