Quando sentiremos paixão ardente pela Umbanda?
O inverno deste ano promete ser bem mais
rigoroso do que o de 2015. Mas observei, no último domingo, que o frio não
inibiu a disposição dos irmãos que buscam os Caminheiros pelas mais diversas
dificuldades de deixarem o aconchego do lar para irem ao centro e
compartilharem dos trabalhos espirituais. A assistência estava lotada. Apesar
dos atrasos de alguns médiuns de consulta — essa uma direta para mim —, as
pessoas estavam lá pacientes à espera do momento de conversar com os guias. Sem
inquietações, ou reclamações. Atentas. Olhar fixo no gongá. Achei bonito.
Bonito também foi o interesse de uma jovem
universitária do curso de fisioterapia sobre a poder curativo da religião. Ela
reconheceu que, antes de ingressar na Universidade de Brasília, tinha
preconceito em relação à Umbanda e, na esteira, pelas demais religiões de
matriz africana. Por sorte, uma das amigas dela é umbandistas e tratou dissolver
os elementos que induzem à discriminação e à satanização da nossa fé.
Esse envolvimento a fez escolher os Caminheiros
para fazer o trabalho pedido pela professora. Simpática, atenta a cada palavra
que ouvia e aprisionava na câmera do celular. A presidente dos Caminheiros
explicou os trabalhos que ali realizamos. Mais elementos para quebrar sofismas
e falsas informações sobre as práticas umbandistas.
Em seguida, informada da existência dos
trabalhos da Fonte das Rosas Brancas, a jovem quis conhecer o ambiente.
Interessante foi a forma respeitosa com a qual pediu licença para filmar espaço
e compreender o que ali é realizado às quintas-feiras. Compreendia que ali
estávamos em uma sala sagrada, onde a espiritualidade atua para o reequilíbrio
das energias materiais das pessoas.
Essa não é a primeira visita que chega
aos Caminheiros e tem curiosidade em saber que Umbanda praticamos — não
tenho dúvidas que mais visitantes chegarão à casa. Parece tudo muito simples, pois
somos despossuídos da capacidade de compreender a complexidade de cada
trabalho, a conjugação de energias movimentadas e por quais entidades em favor
de todos que buscam na Umbanda saídas para seus males físicos, emocionais,
psicológicos, materiais, angústias e aflições cuja origem não conseguem
identificar.
Emocionante é ouvir um "muito
obrigado" dirigido a uma das entidades pela graça alcançada. Não há como
negar — não seria humana se disse o contrário — que a emoção chega
acompanhada de uma pontinha de orgulho pela conquista do cliente, mas sobretudo por eu ser dos Caminheiros. A certeza das presenças das forças invisíveis aos
nossos olhos é comprovada no som do "muito obrigado, consegui vencer,
superar e estou aqui para agradecer". Que bom! A misericórdia de Zambi se
materializou pela intercessão da cúpula espiritual da casa. Gratidão eterna.
O apelo que sempre fazemos diante do
gongá para que nossos guias usem nosso corpo e sejamos, juntos, instrumento da
espiritualidade em favor dos que buscam auxílio foi plenamente atendido. Quem
diz isso não sou eu, mas a mensagem de agradecimento de quem teve seu pedido
conduzido à Espiritualidade Maior pela entidade com quem desabafou seus
problemas e rogou solução para eles.
Naquele momento, o que poderia aflorar o
rasteiro sentimento de vaidade se transforma e vivifica a fé que carregamos em
Zambi e nos Orixás. Reforça a nossa crença e nos damos conta que tantas horas
de trabalho em pé, as preces e cada elemento da Umbanda compõem caminho para
expressar carinho e apreço a quem não conhecemos, mas que é nosso
irmão, ainda que tenhamos chegado ao mundo material por ventres distintos.
Ao mesmo tempo, quando olhamos os bancos
vazios, participamos da prece de encerramento, nos damos conta de que mais um
dia ficou para trás. Missão cumprida — em parte. A alegria se mistura com o
lamento pelos irmãos médiuns que não foram à casa ou saíram antes mesmo de os
trabalhos começarem.
Imagino a frustração dos mentores com as
quais eles firmaram compromisso quando ingressaram no terreiro. Ante a ausência
do médium, eles não puderam incorporar e participar das atividades. Essa era
uma das cláusulas do acordo, que não exigiu documento passado em cartório, mas
foi sacramentado pela confiança, escriturado com sinceridade e carimbado pelo
amor e o respeito.
Para cumpri-lo, bastava dedicação. A
contrapartida seria o reconhecimento, traduzido em emanações de boas energias
ao médium, em forças para suportar as vicissitudes da vida e alegria do
reencontro nos dias combinados. O mentor estava lá esperando, mas o médium
amigo não deu sinal nem avisou que não poderia comparecer. Ou, então, foi e não
se dispôs a emprestar o seu corpo material para que o combinado se concretizasse.
A casa estava cheia e o mentor daquele
médium perdeu a oportunidade de protagonismo no desenrolar dos trabalhos.
Talvez, entre tantos que estavam na assistência, havia alguém à espera de um
médium com afinidade para o alivio de suas dores físicas ou não. Por ousadia, coloquei-me
no lugar daquele mentor, na reflexão que fiz, no trajeto dos Caminheiros até minha
casa, distante 45km.
E algumas questões vieram à mente: quando
todos terão compreensão mais clara da relação entre o médium e a espiritualidade
que lhe foi concedida como joia rara por Zambi? Quando compreenderemos que
zelar pelos nossos guias exige a mesma responsabilidade de cuidar de um filho? Quando
conseguiremos nos preocupar sinceramente com o contrato que aceitamos antes
mesmo de reencarnar? Quando nos colocaremos no lugar do outro e sentir a dor da
decepção?
Todas as repostas só ficarão claras
quando abrirmos mão dos nossos pequenos interesses os substitui-los por
dedicação; no momento em que sentirmos uma paixão ardente e incontrolável pela
Umbanda e pelos nossos mentores, e ela amadurecer e virar amor incondicional; e
quando, movidos por respeito e gratidão, tornamo-nos cúmplices dos nossos guias
na busca pelo crescimento espiritual.
(Rosane Garcia)
Comentários
Do restante, fato, todos os médiuns deveriam realizar essa reflexão a qual foi feita no texto.
Estudar é ciência .....a pessoa não teve nem a boa vontade/coragem de ler um artigo sério para desabafar ou no minimo fundamentar o que não sabe.
PS... A espiritualidade não depende do médium para realizar seu trabalho e é justamente o médium que precisa da espiritualidade para realizar seu trabalho.
De resto só "encheção de linguiça".