Vândalos fundamentalistas depredam Praça dos Orixás
Crime ocorreu a menos de uma semana das homenagens
a Iemanjá na virada do ano novo
a Iemanjá na virada do ano novo
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O opaxorô (cajado) de Oxalá foi quebrado e uma testemunha do vandalismo o amarrou à estátua |
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Logunedé: escultura foi atacada com blocos de cimento |
De acordo com um morador de rua, acampado no local, a violência ocorreu, há cerca de três dias. Dois homens e uma mulher que ocupavam um carro branco tentaram arrancar o opaxorô (cajado) de Oxalá e apedrejaram a Iemanjá e o Logunedé. Quando os vândalos se deram conta da presença do morador de rua, saíram correndo e, na fuga, quase atropelaram a testemunha com o veículo.
O vandalismo dos neopentecostais não é nenhuma novidade para os adeptos da umbanda e candomblé no Distrito Federal e no Entorno. Só este ano, 15 casas foram destruídas na capital da República e nos municípios goianos vizinhos ao Distrito Federal. As autoridades são lenientes.
Inaugurada em 2000, as imagens de 16 orixás foram feitas pelo escultor baiano Tatti Moreno. Desde então, a praça se tornou alvo preferencial dos fundamentalistas. Em julho de 2007, os intolerantes religiosos foram mais agressivos: depredaram as 16 esculturas, sendo cinco arrancadas dos pedestais de concretos — Nanã, Xangô, Oxalá, Oxóssi e Iemanjá, que foi decapitada e incendiada. Outras três — Exu, Ibeji e Iansã —, entortadas e tombadas. Em 2009, praça foi restaurada e reaberta ao público. O investimento totalizou R$ 730 mil.
A Praça dos Orixás é espaço vulnerável à fúria dos fundamentalistas. O local, ao lado da Ponte Honestino Guimarães, não conta com câmeras de segurança, vigilantes ou quaisquer outras formas de proteção. É único local, em todo o DF, destinado às religiões de matriz africana. Os pedidos dos líderes religiosos às autoridades por mais segurança no local são ignorados. O poder público é omisso diante das agressões, movidas pelo racismo e pelo preconceito dos fundamentalistas. A leniência do Estado, na prática, assegura a impunidade e serve de estímulo à violência contra as divindades dos povos tradicionais de matriz africana.
Praça dos Orixás inaugurada em 2000: esculturas do artista plástico Tatti Moreno |
PRECONCEITO INSTITUCIONAL
Não só esculturas são agredidas. O racismo institucional está presente no Legislativo do Distrito Federal. O líder religioso Alexandre de Oxalá sentiu na pele o preconceito patrocinado pela instituição. Integrante do Fórum em Defesa da Liberdade Religiosa, ele foi impedido de acessar o plenário da Câmara Legislativa, no último dia 15, quando foi votada a lei de regularização dos templos da capital federal.
“A presidente da Câmara, Celina Leão, não permitiu o meu ingresso porque eu não estava de terno e gravata. Segundo ela, eu não estava adequadamente trajado, embora eu vestisse indumentária africana”, contou Alexandre. Ele acrescentou que foi constrangedor. “Nem mesmo diante dos apelos dos parlamentares, ela (Celina), que conduzia a sessão, cedeu e ainda pediu aos seguranças que me retirassem do local.”.
De acordo com o líder religioso, depois de quase quatro horas e da insistência de vários parlamentares, Celina Leão permitiu que ele fosse para o espaço destinado aos repórteres fotográficos, mas não entrasse no plenário. O projeto em votação resultou de acordo com o governo do DF cujas negociações contou com a participação de Alexandre de Oxalá. Segundo ele, o desagradável episódio na Câmara Legislativa foi todo registrado.
(Texto: Rosane Garcia. Fotos das esculturas depredadas de Luiz Alves)
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