SEMANA DA MULHER: O masculino e o feminino na Umbanda

Falar de papéis masculinos e femininos na Umbanda em dias de liberação feminista e livre opção sexual pode ser faca de dois gumes, pois há  grande ocorrência de falsos liberalismos cercados de hipocrisia e ignorância aos fundamentos da religião.

Quando falamos de papéis masculinos e femininos suscitamos as mais diversas indagações, mas muitas dessas indagações têm origem, na verdade, em uma confusão recorrente: a do ato de confundirmos essência e sexo.

Se falássemos de papéis do homem e da mulher, não falaríamos de religião e sim de convenção social, isto é, coisas que são mais aceitas se realizadas ou vividas por homens e não por mulheres e vice-versa. Contudo, estamos falando de essência, isto é, a energia primordial que polariza nossos comportamentos de gênero.

A essência é constituída pelas propriedades imutáveis do gênero, descartado tudo aquilo que é mutável. Podemos remeter a bom exemplo se falarmos de  laranja, que é formada por propriedades químicas contidas em fluídos energéticos de partículas próprias da sua constituição molecular.

A existência precede e governa a essência. Durante a nossa existência, à medida que experimentamos novas vivências, redefinimos nosso pensamento, adquirimos novos conhecimentos a respeito da nossa essência, caracterizando-a sucessivamente. Por isso, ao falarmos de papéis dentro de uma casa de Umbanda, falamos, na verdade, daqueles a ser realizados por diferentes essências, polarizadas em feminino e masculino.

Vamos aos exemplos práticos disso, e, para tanto, colocaremos em pauta quatro situações distintas: a primeira, de que apenas mulheres podem cozinhar, isto é, ocupar o cargo de iabassê; a segunda, de que apenas mulheres podem ser cambones específicos para acompanhar os Orixás e entidades em suas danças; a terceira, de que apenas homens podem tocar atabaque; a quarta e última, de que apenas homens podem cuidar do quarto ou casa das almas ou de egun.

Sobre o primeiro ponto: apenas mulheres podem cozinhar e comandar as atividades na cozinha. Em geral, esse fato é seguido na maioria das Casas, embora, via de regra, todos devam saber preparar a comida dos Orixás e dos guias. Isso porque a mulher carrega em si a capacidade de gerar a vida e, cada vez que ela cozinha, ela coloca na comida um pouco desta capacidade, faz parte de sua essência, de sua energia primeira.

O mesmo para a questão da dança. Entre os seres humanos, a dança por si só é um ato de libertação da essência de maneira a expandir a energia sexual, a fim de atrair um parceiro, assim, a fêmea mostra sua essência por esse meio. No caso de danças sagradas e não profanas, como as ritualísticas, caso em questão, a dança, por expandir a essência feminina e geradora da vida, alinha-se mais com a dos Orixás que são pura essência natural e divina.

Por motivo complementar é que apenas homens pode tocar atabaque: a energia deles é mais disposta à musica que libera a sua essência e o faz agir como sua própria natureza designa.

Da mesma forma, o homem, por não gerar a vida, que é frágil e delicada, possui uma resistência maior a energias como as de egun e outros, além de ser a própria figura da constância de Exu, cujo tridente simbologia a virilidade masculina.

Mas ao falarmos a respeito da essência de gênero, isto é, feminino ou masculino, percebemos que, diferentemente do que argumentam certas linhas mais conservadoras, elas nem sempre correspondem diretamente ao sexo oposto em questão. Não raro é que nos deparemos com homens e mulheres que possuem essência equilibrada entre os dois polos, masculino e feminino, e casos de pessoas que são de um determinado sexo, mas emanam e concentram energia de polaridade oposta àquilo que deveria ser.

Exemplos disso são, para o primeiro caso, sacerdotes que nascem com o dom de polarizar suas essências e, portanto, podem cumprir papéis tanto de uma coisa quanto de outra (mulheres que podem cuidar de eguns e homens que têm boa mão para cozinhar) e, no segundo caso, homens com trejeitos femininos e mulheres com trejeitos masculinos e viris.

Essas definições não têm, em absoluto, coisa alguma a ver com opção sexual, mas é o raciocínio usado por muitos sacerdotes para justificar a livre aceitação da homossexualidade e da pluralidade sexual dentro das Casas e Templos.

Contudo, muitos também preservam que, homem dentro da casa de santo deve portar-se “como se espera de um homem” e o mesmo para mulheres, desconsiderando casos como citados anteriormente.

Do ponto de vista da religião, não há nada que realmente direcione o discurso social nesse sentido: a questão está dentro das comunidades e de como cada uma lida com sua realidade e seus membros.

Afinal todos somos iguais perante a Deus e ao Universo, e o que deve ser considerado é a essência da pessoa para realizar certas atividades e não o sexo.

Fonte: Tudo o Que Você Precisa Saber Sobre Umbanda – Vol. 1
Editora: Universo dos Livros

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