Religiosidade afro e as eleições de outubro
Em outubro próximo, haverá eleições municipais. Uma ampla
movimentação ocorre nos quatro cantos do país e envolve candidatos a vereadores
e a prefeitos. O Congresso Nacional segue em ritmo lento. A maioria dos
deputados e senadores está empenhada em eleger o maior número possível de
concorrentes e, assim, ampliar os apoios nos municípios e estados, de olho na
disputa eleitoral de 2014.
Mas não são somente os políticos que têm essa preocupação.
Nas redes sociais afinadas com as religiões de matriz africana, de combate ao
racismo e em defesa da equidade de gênero e raça, acontece uma ampla
mobilização em defesa dos candidatos que compartilham do mesmo pensamento e
estão engajados nessa luta secular contra toda e qualquer forma de
discriminação. O intuito é direcionar o voto dos eleitores aos que se dizem
dispostos a devotar o mandato à defesa dos direitos e interesses das
comunidades de terreiro.
Há pouco mais de um ano, algumas instituições, entre elas o
Centro de Tradições Afro-Brasileiras (Cetrab), ensaiaram a criação de um
partido político, que expressasse os diferentes matizes das religiões de matriz
africana e aglutinasse todos os adeptos da Umbanda e do Candomblé. A ideia não
prosperou no formato original. Mas, hoje, diante do elevado número de candidatos
aos cargos eletivos em disputa em outubro, percebe-se que a proposta segue outro
caminho, que permitirá aos adeptos dos cultos afros permearem o tecido político
e interferir nas decisões que afetam a vida de milhares de brasileiros.
A vitória desses candidatos pode ser uma opção para mudar a
correlação de forças políticas que conspiram contra os interesses das
comunidades de terreiro, que reforçam estigmas e processos discriminatórios,
com impactos diretos na religiosidade dos afrodescendentes e dos que comungam
da mesma fé. É uma forma de estabelecer o bom combate frente a outras
expressões religiosas que atuam afinadas com a intolerância religiosa e buscam
estabelecer uma artificial hegemonia em nosso país por meio de atitudes
fundamentalistas, incompatíveis com a pluralidade étnica, cultural e de culto
que caracterizam o perfil brasileiro.
Essa disposição dos
que se apresentam para o pleito de outubro, no entanto, não elimina a
necessidade de uma pesquisa sobre o comportamento do candidato, seus
antecedentes e compromissos com o
coletivo. O fato de ele ou ela apresentar uma plataforma de campanha voltada
aos interesses das comunidades de terreiro não significa que será fiel ao discurso.
Assim, é fundamental saber se as propostas são coerentes com a sua vida
pregressa, a fim de evitar que sejamos enganados,como tantas vezes o fomos, ao
apostar nesse ou naquele candidato cujo discurso estava alinhado com os nossos
anseios. É preciso ter cautela e pensar duas vezes antes de dar o nosso voto de
confiança. É importante impedir que oportunistas usem as comunidades e os filhos de fé
como massa de manobra para ações menores, dissociadas do interesse coletivo. Os aspectos negativos da política têm total relação com o nosso voto. Se elegemos maus candidatos seremos cúmplices das decisões contrárias aos interesses coletivos.
Votar bem é defender o seu direito e a qualidade de vida para todos.
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