FANATISMO: sobrou para as festas juninas


Átila Alexandre Nunes *


Confesso que ao lado de meu pai e de meu saudoso irmão, Átila Nunes Neto, já vi (e li) de tudo em matéria de fanatismo.

Lembro-me da tentativa de uma prefeita que tentou proibir referências à capoeira nas escolas, por julgar que era uma dança em homenagem à “satanás” e das acusações ridículas de que as canções de Xuxa escondiam mensagens demoníacas.

Em matéria de fanatismo, contudo, nada se compara ao texto que vem sendo distribuído entre os fieis das seitas eletrônicas.

Recebemos no Programa Melodias de Terreiro, cópia de uma circular, chamando atenção para os riscos das festas juninas.

Risco das festas juninas?

Bem, pensei que era em relação ao risco das queimaduras com os fogos de artifício. Ou com as consequências no meio ambiente pelas queimadas causadas pelos balões. 

Ao ler o texto, a surpresa.

Nada mais era do que uma – mais uma - manifestação fanática sobre uma das mais populares festas brasileiras: as festas juninas seriam mais uma "obra do demônio".

Dá para imaginar tamanho disparate, de que festas juninas são uma armadilha do demônio?

Abaixo seguem trechos dessa absurda análise de uma das mais populares festas brasileiras.

Eis o texto:

“Festa junina: inofensiva ou não?

Alexa Guerra

Todo mês de junho é a mesma coisa, a maioria das escolas põe lenha na fogueira para as crianças entrarem no clima da festa junina.

Dei-me conta de que precisamos falar mais sobre os significados desta festa ao saber que algumas crianças da Escola Bíblica Dominical estavam planejando participar delas.

Apesar de serem assíduas na igreja, juntamente com suas famílias, essas crianças não têm idéia de onde estão entrando, precisam ser apascentadas por pais e professores...erramos por não sabermos a origem e significados das coisas...

Percebi que muitos pais cristãos não sabem os significados de tal comemoração, senão suas crianças não estariam envolvidas com esta festa de origem pagã, ou seja, idólatra. Acompanhe comigo e veja você mesmo qual o sentido da festa junina.

Fogueiras
A fogueira tem outros significados: proteção contra maus espíritos, purificação, agradecimento e homenagem a deuses.

Fogos de artifício
O barulho dos fogos de artifício espanta maus espíritos.

Balões
Simbolizam a oferenda aos céus para a realização de pedidos de desejos.

Casamento caipira
O casamento caipira é a representação cheia de malícia e conotações sexuais. A história sofre pequenas variações, mas o enredo é sempre o mesmo: a noiva fica grávida antes do casamento e os pais obrigam o noivo a se casar com ela.

E então, você ainda acha que festa junina é inofensiva? O que Jesus faria em meu lugar?  Ele dançaria quadrilha? Como posso pensar e agir de acordo com os valores e princípios bíblicos e ensiná-los a esta geração?

A Bíblia diz claramente o quanto irrita ao nosso Deus a adoração a outros deuses. A quadrilha se parece com a festa relatada em Êxodo 32.  De que lado você, suas crianças e jovens estão: do povo cabeçudo ou do lado da grande nação? Você está em comunhão com Deus ou com os demônios? (1 Co 1014-24).

Se você ainda acha que festas juninas são inofensivas, sem perigos, se tiver paz para comemorá-la e deixar suas crianças se envolverem, vá em frente, mas sabendo que todos os espíritos cultuados nesta festa estarão com vocês. (Por Alexa Guerra – autora do livro "Infância: O Melhor Tempo Para Semear” da Editora Betânia & 100 Dinâmicas. Editora SOCEP)”

As considerações preconceituosas acima estão sendo divulgadas irresponsavelmente por líderes das igrejas eletrônicas, alcançando crianças.

Isso exige uma reflexão sobre o mal que isso causa às cabecinhas ingênuas de milhares de crianças brasileiras.

Fanáticos se valem da religião como pretexto para perseguições, torturas e assassinatos em diversos momentos da historia, dos cruzados medievais aos fundamentalista do século XXI.

Não tem muita diferença do racismo (contra negros, semitas, orientais, etnias minoritárias) que provocou e provoca muitas humilhações e derramamento de sangue. O ponto máximo, em pleno século XX, foi confinar pessoas em campos de extermínio, onde seriam escravizadas, torturadas e mortas, por sua suposta inferioridade racial.

Essas seitas eletrônicas nos consideram inferiores, nos consideram reféns do “demônio”. Para eles, precisamos ser “libertados” dessas influências. Para muitos deles, principalmente os mais ignorantes, não basta disparar xingamentos. É preciso mais: invadir os centros umbandistas e destruir imagens.

O próximo passo? Bem, não me espantaria se um dia começassem a espancar umbandistas com o objetivo de lhes tirar o “diabo do corpo”

Sabemos que o diabo não existe. Mas, mesmo não existindo, não se pode negar como ele vem sendo útil para os espertalhões que ganham rios de dinheiro em nome dele, promovendo lavagens cerebrais.

Os que dizem que o diabo existe, são os que o criaram a partir de sua própria imagem e semelhança.

Até a próxima, meus irmãos.

*Átila Alexandre Nunes produz e apresenta o mais antigo programa de rádio dirigido aos umbandistas, o programa Melodias de Terreiro. Participa do movimento Em Defesa da Umbanda (emdefesadaumbanda.com.br). Economista, publicitário e radialista, é filho do deputado Átila Nunes e irmão de Átila Nunes Neto, que desencarnou este ano, em março.

Comentários

Anônimo disse…
Quanta ignorância e falta de cultura. E o pior é que tem gente que acredita.

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