Dois pesos e duas medidas
Na semana passada, o Ministério Público Federal em Minas Gerais ingressou com ação civil pública para garantir a preservação de todo o acervo deixado pelo médium Chico Xavier. Na ação, a procuradora Raquel Silvestre pede o tombamento e a realização de um inventário de bens móveis e imóveis que perteceram ao médium, com o intuito de "impedir a evasão, destruição e descaracterização do patrimônio deixado por aquele que é considerado um dos maiores fenômenos religiosos de todos os tempos".
Os espíritas de todo o país, independentemente da vertente que sigam, só têm a gradecer a procuradora pela brilhante iniciativa, que deveria ser copiada em defesa do patrimônio dos líderes religiosos dos templos de religiosidade afro-brasileira.
Em 2011, Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, os umbandistas foram duramente golpeados. O Centro Espírita Nossa Senhora da Piedade, reconhecido como berço da Umbanda, foi demolido com a chancela da Prefeitura de São Gonçalo, sob o comando de uma adepta da igreja neopentecostal, cujos seguidores ganharam notabilidade pelo vandalismo praticado contra os terreiros de umbanda e candomblé no país.
Assim, como a casa de Chico Xavier, em Uberaba, o Centro Nossa Senhora da Piedade era um espaço religioso, histórico e cultural do surgimento da Umbanda no Brasil. Foi lá, que o médium Zélio Fernandino de Moraes, incoporado com o Caboclo Sete Encruzilhadas, deu o primeiro passo para o reconhecimento da nova religião que surgia no país.
Ao tempo em que se comemora a disposição da procuradora Raquel Silvestre, não é possível deixar de lamentar a inépcia daqueles que atuam no Rio de Janeiro e nada fizeram para impedir a destruição do Berço da Umbanda. Mas, afinal, vivemos em um país que mascara a discriminação e preconceito e, com frequência, o poder público dá demonstrações de que temas iguais são tratados com dois pesos e duas medidas.
Comentários