Computador não é terreiro de Umbanda

Há pouco mais de uma semana, um jornal brasiliense publicou reportagem dando conta de que fiéis de algumas religiões usam a internet para o envio de mensagens e até acompanham as cerimônias pela telinha. Não falta sequer drive-tru de orações. É a tecnologia a serviço da fé, que assegura comodidade para quem deseja ficar conectado com a religiosidade, sem deixar o conforto de casa.
Assim, é possível manter a conexão com místico em qualquer lugar: no lar, no escritório, no trabalho. Basta ter um computador ao seu alcance para que a fé seja alimentada pela rede mundial de computadores, a famosa internet.

Pela telinha do computador, são oferecidos serviços espirituais dos mais variados tipos: búzios, tarô, runas, cartas. Há páginas que permitem ao usuário, por meio de uma série de combinações, descobrir o seu anjo da guarda, seu orixá de cabeça. E não somente isso. Há ainda um interminável leque de receitas (feitiços) par os mais diferentes objetivos: encontrar o par ideal, ganhar muito dinheiro, conseguir trabalho, livrar-se de doenças, olho grande, vencer demandas. Tudo se resolve como em um passe de mágica. Se tudo fosse tão fácil assim, de fato, não precisaríamos de mais nada, exceto de um computador ligado à internet para vivermos de sombra e água fresca e em prática constante da religiosidade.

Mas sabemos que isso não é verdade. Um programa de computador, frio, insensível, não é capaz de mediar uma relação entre os irmãos encarnados e aqueles que estão no plano espiritual. Falta-lhe algo essencial: alma.

O exercício da fé exige muito mais de todos que professam uma religião, principalmente quando falamos das de matriz africana, como a Umbanda. Não é possível abrir mão de uma prática em grupo e presencial. A conecxão com o mundo espiritual exige muito da nossa capacidade de concentração, da energia individual e também dos demais integrantes do ambiente e de vários outros elementos cuja soma nos permite estabelecer uma comunicação real com os irmãos de estão em outro plano.

Não está eliminada a possibilidade de uma comunicação solitária. Não são poucos os médiuns que sozinhos recebem belas mensagens e orientações da espiritualidade cuja função é difundir ensinamentos ou consolar alguém em aflição.

Mas para que isso ocorra, há toda uma preparação do ambiente e também das pessoas que são os médiuns ou mediadores entre as mensagens da espiritualidade e os irmãos encarnados.
O tema vem à tona não por acaso. Entre as muitas correspondências que chegam por e-mail aos Caminheiros de Santo Antônio de Pádua com pedidos de preces, uma delas chamou a atenção esta semana. A mensagem pede que as casas de umbanda aceitem pedidos para “desfazer trabalho de magia negra”.

Ao supor que não se trata de um “fake” — mensagem falsa, na linguagem da internet —, mas algo sincero, de alguém que busca um alívio para sua angústia, vale esclarecer que a Umbanda não é uma prática religiosa tecnológica, que pode se socorrer do computador para a realização de trabalhos espirituais.

O Centro Espírita Caminheiros de Santo Antônio de Pádua tem seu espaço na rede mundial de computadores, como de resto milhões de outras instituições, para divulgar suas atividades, disseminar os ensinamentos da espiritualidade, comunicar-se com seus seguidores, compartilhar bons textos e pensamentos que favoreçam a evolução das pessoas. Serve-se ainda desse meio eletrônico para denunciar ações desumanas e desrespeitosas às religiões de matriz africana, aos direitos humanos e às liberdades e direitos individuais ou de grupos.

Como de praxe, a administração do site e do blog dos Caminheiros repassa todas as mensagens que recebe para as irmãs responsáveis por cuidar dos pedidos de prece. Todas essas correspondências são levadas ao altar dos Caminheiros de Santo Antônio, diante do qual são realizadas preces implorando a Deus e à Espiritualidade Maior para que todos apelos sejam atendidos, de acordo com o merecimento de cada uma das pessoas que escreveram para o centro por meio da internet.

No entanto, é fundamental esclarecer que não é possível realizar trabalhos espirituais por meio do computador. Afirmar o contrário seria puro charlatanismo ou abuso da boa-fé das pessoas cujos sentimentos, angústias, dores e alegrias merecem de todos os Caminheiros o mais profundo respeito.

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