Cenas de racismo sem pudor

Há poucos dias, falávamos aqui no blog dos Caminheiros que a intolerância vai além dos aspectos religiosos. A componente étnica permeia o comportamento daqueles que agridem os terreiros de Umbanda e Candomblé. Em menos de uma semana, alguns exemplos doloridos invadiram o noticiário nacional.
No município de Camaçari, na Bahia, evangélicos raivosos fizeram uma campanha contra uma escola de ensino fundamental inaugurada dentro de um terreiro de Candomblé, amparados em mentiras, tentaram difundir a ideia de que as crianças ali matriculadas desapareceriam. A ação ostensiva dos evangélicos mobilizou o Ministério Público da Bahia, que exigiu uma resposta à altura da Secretaria de Educação e representou contra o pastor líder do movimento.
Em seguida, o deputado Júlio Campos (DEM-MT) referiu-se ao ministro Joaquim Barbosa, o primeiro negro a chegar ao Supremo Tribunal Federal, como "moreno escuro". Logo depois, explicou que havia esquecido o nome do magistrado.
Por fim, o vexame maior ocorreu na noite de segunda-feira (28) protagonizado pelo deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), durante sua participação no programa CQC, da Rede Bandeirantes. Entre as muitas perguntas que lhe foram feitas, uma foi da artista Preta Gil. Ela indagou ao parlamentar como ele agiria se seu filho se apaixonasse por uma mulher negra.
"Ô Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o seu", respondeu Bolsonaro, em uma clara associação da mulher negra à promiscuidade.
Diante da repercussão provocada pela declaração, Bolsonaro alegou que não havia compreendido bem a indagação de Preta Gil.
As justificativas são o que menos importa. A resposta do deputado revela o quanto o racismo e a discriminação ainda conseguem impregnar as relações humanas. O quanto a cor da pele ainda define o status de uma pessoas. É lamentável, sobretudo porque parte de um integrante do Congresso Nacional cuja missão é elaborar as leis que regulam as relações dos indivíduos de uma sociedade.
A atitude do deputado carioca mereceu o repúdio das comunidades de terreiro, das instituições engajadas na luta contra o racismo no país e também dos parlamentares da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Os integrantes da comissão representaram contra Bolsonaro na Procuradoria-Geral da República. 
Preta Gil, filha de Gilberto Gil, avisou que ingressará na Justiça com uma ação contra o deputado e levará a questão às últimas consequências.
O comportamento de Bolsonaro é a expressão mais clara do que move os neopentecostais promoverem uma cruzada insana contra os umbandistas e candomblecistas no país, ignorando ditames constitucionais de que todos são iguais perante a perante as leis e de que a liberdade de culto e religião é um direito de todos.
Não é o que vemos no Brasil.

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