Temporada de consciência negra

Em 20 de novembro, a comunidade negra do país comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, em memória do grande líder da resistência Zumbi, que comandou o Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Zumbi, com centenas de outros negros, insurgiu-se contra a escravidão dos negros.  A partir de amanhã (15/11), as comunidades dos povos de terreiro (umbandistas e candomblecistas) iniciam a semana da Consciência Negra, cujo ponto alto será o 20 de novembro. Palestras, festas, homenagens aos orixás e várias outras atividades ocorrerão em todo o país.
Em Goiânia, com a participação do Governo de Goiás, a Assessoria Especial de Promoção da Igualdade Racial iniciou dia 12 último uma sériede atividades sobre o tema. No Pará, o Instituto Nangetu está com uma grande programação, aberta dia 12 deste mês e que se estende até 27 de novembro, intitulada Cinema e Consciência Negra, com a particiação de cineastas com trabalhos sobre o tema. O Pará, na Região Amazônica, tem uma singularidade. Está em um espaço em que a abolição não ocorreu em 1888, como na maioria dos outros estados brasileiros. O motivo foi a falta de comunicação. A notícia sobre a decisão da princesa Isabel não chegou à região, como nas demais.
Hoje, foi aberta a Kizomba Kia nda ia jinsaba, no Esporte Clube de Nova Iguaçú, no Rio de Janeiro, que valoriza o sons de origem africana. Amanhã (15/11), a Câmara Municipal de São Vicente, em São Paulo, será palco do 2º Seminário A bandeira branca da Umbanda na diversidade contemporânea, organizado pela Mãe Bene, da Associação Filhos de Aruanda, e Carmem Silvia Prisco. O encontro pretende ser um momento histórico de união entre representantes de várias comunidades de terreiro do município de São Vicente e região.
Mais do que festejar, trata-se de um curto período de reflexão sobre a realidade da população negra brasileira, cuja religiosidade sustentada nos valores místicos africanos trazidos pelos ex-escravos vêm sendo agredidos e desrespeitados.

Conquistas

Mas, ao mesmo tempo em que os valores religiosos de matriz africana são vilipendiados, há notáveis ganhos para a população negra brasileira. O sistema de cotas nas universidades, criado pela Universidade de Brasília e hoje copiado por outras instituições de ensino superior, tenta estabelecer um patamar de igualdade para que os negros, secularmente excluídos, possam ter acesso ao ensino superior.
Em 20 de outubro último, entrou em vigor o Estatuto da Igualdade Racial que estabelece mecanismos legais contra todo e qualquer tipo de discriminação étnica, religiosa e cultural. O projeto tramitou no Congresso Nacional por mais de 10 anos, para ser aprovado e sancionado pelo presidente da República, em julho último, antes de entrar em vigor. A nova lei alcança mais de 90 milhões de brasileiros que, por mais de 500 anos, foram considerados cidadãos de quinta categoria apenas em razão da cor da pele.
De acordo com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, vinculada à Presidência da República, trata-se de "um instrumento legal que possibilitará a correção de desigualdades históricas, no que se refere às oportunidades e direitos ainda não plenamente desfrutados pelos descendentes de escravos do país. Uma parcela da população que representa, atualmente, 50,6% da sociedade. E que se encontra em situação desprivilegiada, tanto no mercado de trabalho, quanto no que diz respeito à escolarização, às condições de moradia, à qualidade de vida e saúde, de segurança e de possibilidades de ascensão social".
Esses avanços ainda são insuficientes para a construção de uma sociedade mais igualitária, em que a diversidade e a pluralidade cultural e religiosa seja respeitada. É preciso evoluir para que todos os dias do ano sejam de consciência sobre o respeito aos direitos de todas as pessoas, independemente de credo, etnia ou condição socioeconômica e consigamos constuir uma sociedade mas justa e igualitária social e economicamente, com respeito aos valores culturais e religiosos de todas as comunidades abrigadas neste imenso Brasil.

Comentários

creusa lins disse…
O passo é lento mas o movimento negro está vivo e a sua luta é constante. Parabéns pela matéria que, diante do mutismo da imprensa se reveste de maior importância.

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