Dia de Finados e as visões sobre a morte


Por tradição, no Brasil e em vários outros países, celebra-se em 2 de Novembro o Dia de Finados, data dedicada aos mortos. Os cemitérios ficam lotados. As pessoas vão os túmulos dos entes queridos, dos amigos e de celebridades reverenciar aqueles que desencarnaram. Levam flores, acendem velas e fazem orações. As homenagens, na maioria das vezes, estão relacionadas às práticas religiosas dominantes.
Dados históricos revelam que a reverência aos mortos datam do século 1. Na versão da igreja católica, os cristãos visitavam os túmulos dos mártires nas catacumbas para rezar pelos que morreram sem martírio. “No século 4, já encontramos a Memória dos Mortos na celebração da missa. Desde o século 5, a Igreja dedica um dia por ano para rezar por todos os mortos, pelos quais ninguém rezava e dos quais ninguém se lembrava”, ensina monsenhor Arnaldo Beltrami, vigário episcopal de comunicação, já falecido.
A partir do século 11, as comunidades são obrigadas a dedicar um dia por ano aos mortos, por determinação dos papas Silvestre II (1009), João XVIII (1009) e Leão IX (1015). Desde o século 13, o 2 de novembro é consagrado o Dia de Todos dos Mortos, aqueles que morreram e não são lembrados em oração. O 1º de novembro é a festa de Todos os Santos, que celebra todos que morreram em estado de graça e não foram canonizados.
Outras fontes históricas informam que o Dia de Finados teve origem na antiga Gália, denominação dada pelos romanos, na Antiguidade, às terras dos celtas na Europa ocidental, que, hoje, compreende a França, partes da Bélgica e da Alemanha e o norte da Itália.
Diferentemente do que ocorre hoje, os gauleses não reverenciavam os mortos nos cemitérios. As homenagens eram na casa do morto. Médiuns, videntes falavam com as almas dos que haviam desencarnado. Eles acreditavam que os espíritos errantes povoavam os bosques e os pântanos.
Com o passar do tempo, a história da humanidade mudou. Ao lado das transformações, vieram as religiões e as diferentes formas de compreender a vida e a morte. Surgiram, assim, na filosofia e nas várias doutrinas entendimentos diversos sobre o tema. O mesmo ocorreu nas diversas correntes e práticas religiosas.
Os grandes filósofos tinham entendimentos divergentes em relação à morte. A sobrevivência do espírito humano à morte do corpo físico e a crença na vida e no julgamento após a morte era encontrada na filosofia grega, em especial em Pitágoras, Platão e Plotino. Já Sartre, filósofo francês, defendia que o indivíduo tem uma única existência. Para ele, não há vida nem antes do nascimento e nem depois da morte.
A maioria das religiões encara a morte como uma passagem para outro plano. Cristãos, islâmicos e judeus creem na ressurreição. Os espíritas acreditam na reencarnação. O espírito depois de deixar o corpo material pode retornar ao plano terrestre em outro corpo para continuar a sua caminhada rumo à evolução. Há doutrinas ainda na vertente espírita que admitem a possibilidade das pessoas renascerem em corpos de animais ou vegetais. Para algumas religiões orientais, o conceito de reencarnação se assemelha ao do espiritismo. Significa a continuação de um processo de purificação.

Vejamos com a morte é entendida nas religiões de matriz africana e no espiritismo:

Umbanda
A Umbanda, com apenas um século de existência, é uma síntese de influências de crenças cristãs, espíritas, cultos afros e orientais. Catalogada com uma prática espírita, para a contrariedade de alguns setores dos seguidores da doutrina kardecista, a Umbanda não tem um livro sagrado, que estabeleça uma liturgia em relação à prática ou consolide seus conceitos e filosofia. Assim, para alguns umbandistas existem o céu e o inferno. Para outros, há apenas a reencarnação e o carma. Na Umbanda, morte e nascimento são momentos sagrados, que marcam a passagem de um estado a outro de manifestação espiritual, morremos para um lado e nascemos para outro lado da vida, o que nos aguarda do outro lado depende de nós mesmos.
Embora tudo que existe esteja submetido à vontade de Deus, A Umbanda explica o universo através de sete linhas, regidas por Orixás. Ao morrer, a pessoa será atraída por estes mundos espirituais. A matéria é apenas um dos caminhos para a evolução do espírito. Sendo assim, a morte é uma etapa do ciclo evolutivo, sendo a reencarnação a base da evolução. O objetivo maior do nascimento e da morte é a harmonização e a evolução consciente do espírito. Após morte, o ser humano leva consigo suas alegrias, sua fé, suas crenças, suas mágoas e suas dores. E terá que lidar com elas, sempre contanto com o auxílio dos espíritos mais evoluídos que o recepcionarão no outro lado da vida e o ajudarão na sua adaptação no mundo espiritual.
Com a morte do corpo físico, os espíritos bons podem se tornar protetores, enquanto os maus (espíritos de pouca evolução, devido às poucas encarnações) podem virar perturbadores. Os mortos (desencarnados) podem ser contatados, ajudados ou afastados.

Candomblé
Não existe uma concepção de céu ou inferno, nem de punição eterna. As almas que estão na terra devem apenas cumprir o seu destino, caso contrário vagarão entre céu e terra até se realizar plenamente como um ser consciente e eterno. Os cultos afro-brasileiros acreditam que os mistérios da vida e da morte são regidos por uma Lei Maior, uma força divina que dá o equilíbrio divino ou eterno. O Candomblé vê o poder de Deus em todas as coisas e, principalmente, na natureza. Morrer é passar para outra dimensão e permanecer junto com os outros espíritos, orixás e guias. Trabalha com a força da natureza existente entre terra (Aìyê) e o céu (Òrun). Nos cultos afros, o assunto de vida após a morte não é bem definido.
Na terra, o objetivo do homem é realizar o seu destino de maneira completa e satisfatória. Ao cumprir o seu destino na terra, o ser humano está pronto para a morte. Após a morte, o espírito será encaminhado ao Òrun (mundo espiritual ou céu), para uma dimensão reservada aos seres ancestrais, ou seja, eternos. O ser humano pode ser divinizado e cultuado. Caso o seu destino não seja cumprido, os espíritos ficarão vagando entre os espaços do céu e da terra, onde podem influenciar negativamente os mortais. Como não se realizaram plenamente, estes espíritos estão sujeitos à reencarnação. Já as pessoas vivas que sofrem as suas influências negativas, precisam passar por rituais de limpeza espiritual para reencontrar o equilíbrio.

Espiritismo
Defende a continuação da vida após a morte num novo plano espiritual ou pela reencarnação em outro corpo. Aqueles que praticam o bem evoluem mais rapidamente. Os que praticam o mal recebem novas oportunidades de melhoria através das inúmeras encarnações. Creem na eternidade da alma e na existência de Deus, mas não como criador de pessoas boas ou más. Deus criou os espíritos simples e ignorantes, sem discernimento do bem e do mal. Quem constrói o céu e o inferno é o próprio homem.
Pela teoria, todos os seres humanos são espíritos reencarnados na terra para evoluir. A morte seria apenas a passagem da alma do mundo físico para a sua verdadeira vida no mundo espiritual. E mesmo no paraíso, acredita-se que o espírito esteja em constante evolução para o seu aperfeiçoamento moral. As almas dos mortos ligam-se umas às outras, em famílias espirituais, guiadas pela sintonia entre elas. Consequentemente, os lugares onde vivem possuem níveis vibratórios diferentes, sendo uns mais infelizes e sofredores, e outros mais felizes e plenos. Muitas escolas espiritualistas ― não todas ― defendem a idéia da sobrevivência da individualidade humana, chamada espírito, ao processo da morte biológica, mantendo suas faculdades psicológicas intelectuais e morais.


Para saber mais sobre os diferentes entendimentos acerca da morte, vá para o site dos Caminheiros de Santo Antônio de Pádua, clicando no link http://www.caminheirosbsb.com.br/Web/DetalheEnsinamento.aspx?idEnsinamento=15



Da redação com as seguintes fontes:
― Revista Época, edição de 05/8/2004
― História do dia de Finados, Beltrami, monsenhor Arnaldo, vigário episcopal de comunicação, ex-secretário de Comunicação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
― Dicionários Antônio Houais e Aulete
― O Livro dos Espíritos, Kardec, Allan

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