As dificuldades da mediunidade

por Nathalia Leite

Atuar como um intermediário entre seres pertencentes a planos diferentes não é uma tarefa simples, mas é a função do médium, e exige intenso e intermitente esforço de concentração, disciplina e trabalho.
Se a convivência com seres "normais", encarnados, já é suficiente para levar muita gente à loucura, o que dizer das situações bizarras com as quais os médiuns e paranormais devem lidar diariamente. Imagine, por exemplo, receber visitas de espíritos que não sabem que estão mortos; ver a alma de um enteado deixando o corpo no momento do desencarne; sair do corpo durante o sono e se ver na cama dormindo; escrever mensagens em outros idiomas e sequer entender o que está escrito; andar por aí sem conseguir discernir quem está nesta ou em outra dimensão. As histórias envolvendo os médiuns seguem por esse caminho.
São várias as dificuldades e os desafios enfrentados pelos médiuns quando ainda não se adaptaram às suas faculdades psíquicas, ou ainda não as conhecem bem. Em muitos casos, o próprio desabrochar da mediunidade já é um tanto traumático e amedrontador para o indivíduo, levando-o ao desespero. Segundo Wiliam Jones, presidente do Centro Espírita Seara Bendita, muitas pessoas não prestam a devida atenção a essas manifestações em suas vidas; às vezes nem percebem sua mediunidade, e acabam inutilizando uma ferramenta que pode ser fundamental para o próprio auxílio espiritual, ou o auxílio a uma comunidade.
Na introdução do livro A Vida no Planeta Marte, Hercílio Maes (1913-1993), médium que psicografou diversas obras do espírito Ramatís, conta que seu caso começou de forma muito desagradável: "O excesso de fluidos, que vibravam em mim, transformou-se num fenômeno de opressão e ansiedade, que me levou aos consultórios médicos, ingressando, então, na terapia de sedativos e tratamentos de neurose de sangue, sem que, no entanto, conseguissem identificar a verdadeira causa do meu estado, o qual era todo de ordem psíquica. Felizmente, um amigo sugeriu-me que eu devia desenvolver-me num centro espírita. Aceitei a sugestão e, efetivamente, em menos de trinta dias, recuperei minha saúde, quanto a esse estado aflitivo e anormal de perturbações emocionais. Devotei-me, então, a uma leitura intensa do setor espiritualista. Todavia, não consegui livrar-me da complexa confusão anímica, que é a 'via-crucis' da maioria dos médiuns em aprendizado. No meu deslumbramento de neófito, alvorocei-me no anseio de obter ou desenvolver, o mais depressa possível, a mediunidade sonambúlica, pois ainda ignorava que as faculdades psíquicas exigem exaustivo esforço ascensional e que a disciplina, o estudo, a paciência e o critério cristão são os alicerces fundamentais do bom êxito. Além disso, a dor, com todos os seus recursos impiedosos, assaltou-me por largo tempo; doente, fui submetido a quatro operações cirúrgicas; sofrimentos morais, aumentados ainda por prejuízos econômicos, fecharam-me naquela situação acerba em que a alma se vê forçada a olhar as profundidades de si mesma em busca de um mundo extraterreno, liberto das ansiedades mesquinhas e de caráter transitório".
"Então, no silêncio das noites insones, meditando profundamente, consegui encouraçar-me daquela resignação intrépida que decide o homem a aceitar todos os seus espinhos, desde que seja a serviço do Divino Mestre. E minha alma ouviu o cântico sublime daquele amor que nos leva a compreender que somos uma unidade cooperadora do equilíbrio do Universo Moral, servindo a Deus e ao próximo".
"Após ter imposto esse traçado a mim mesmo, um dia, escutei a voz amiga e confortadora de Ramatís para guiar-me. E, então, a minha mediunidade começou a florescer como a flor cuja raiz encontrou um solo rico de energias vivificantes".

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