Os orixás[1]


 Empurrada pelas contingências que são criadas pelos espíritos, tornei-me uma Caminheira de Santo Antônio de Pádua, por volta de 1972. Conquistei a amizade de dona Antônia, fundadora da Casa. E, hoje, quando buscava um tema para abordar aqui no nosso blog decidi abrir o livro “As mirongas de Umbanda”, de autoria dos irmãos Byron Torres de Freitas e Tancredo da Silva Pinto.
A obra, aprovada pela Confederação Espírita Umbandista, foi editada em 1953, dois anos antes de eu nascer, pela Gráfica Editora Aurora, no Rio de Janeiro. Suas páginas, bastante amareladas, tornam redundante descrever as marcas da idade em cada uma delas. E veja, se bem me lembro, essa obra é uma das diversas recuperadas e preservadas com capa dura pelo saudoso irmão Darcy de Aquino Ribeiro, um hábil gráfico e médium generoso dos Caminheiros.

O livro foi dado à dona Antonia, pelo irmão Joze [isso mesmo, com Z] Nilo, provavelmente, um dos muitos que ela conheceu no Centro Espírita Caminheiros da Verdade, ainda hoje em funcionamento, no Rio de Janeiro, cuja prática foi o fundamento para a construção dos Caminheiros de Santo Antônio, em Brasília. Mas essa é uma história para mais adiante.

Vamos voltar ao que eu buscava. Queria um texto que tenha sido usado no início dos Caminheiros de Santo Antônio e colaborado com a formulação dos fundamentos doutrinários da Casa. E encontrei. Então, vejamos o que nos ensinam Byron e Tancredo sobre os Orixás.

A concepção da origem dos orixás não é a mesma em todos os cultos de Umbanda. Assim, por exemplo, para os Yorubas, ou nagôs, o culto dos orixás ou bacurus não é exatamente o das forças da natureza. Pensam eles que a maioria dos orixás era, em sua origem, seres humanos privilegiados que possuíam poderes sobre as forças da natureza e que, ao invés de morrer, se transformaram em pedras, rios, árvores ou lagoas.

Daí a grande quantidade de lendas nagôs sobre a vida humana dos orixás, à semelhança das figuras da mitologia grega e romana. Os orixás deixaram descendentes diretos, os quais, segundo Pierre Verger, continuam o culto dos seus antepassados divinizados.

Nota-se, entretanto, que a tese nagô de seres privilegiados, porém humanos, que controlavam as forças da Natureza, concorda singularmente com a teoria filosófica da existência anterior de homens que dispunham de domínio sobre os elementos naturais. É a hipótese de decadência da humanidade atual, que sucedeu a outra incomparavelmente mais forte sob o ponto de vista espiritual.

Roger Bastide interroga: “Em que medida esses antigos reis e feiticeiros divinizados viveram e existiram, ou são a projeção, no passado, de simples imagens estabelecidas pela religião?”
Nós, todavia, acreditamos firmemente que os orixás são imateriais, são espíritos de luz que nunca se encarnaram em seres humanos, que nunca tiveram existência terrena, e que se manifestam mediante ‘aparelhos’ de sua escolho, isto é, ‘filhos de santo’.

Esse nosso bate-papo não termina aqui. Vamos, nos dias que se seguem, continuar a falar um pouco mais sobre o tema, por demais palpitante. Ah! E se você tem contribuições, mande sua mensagem, sua opinião. Participe.

Lembre-se que nosso site está a caminho e vamos levar esses debates pra dentro dele. Vamos construir a memória dessa nossa caminhada, afinal de contas somos Caminheiros.

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