Metamorfoses da vida



Por Hugo Lapa (Terapia de Vidas Passadas)

Duas lagartas estavam rastejando no chão. Uma delas era um pouco mais jovem enquanto a outra era um pouco mais velha. Estavam em um dia frio de inverno com uma leve neblina. A lagarta mais jovem virou-se para a mais velha e perguntou:

- Estava pensando. Será que um dia nós, lagartas, poderemos voar?

A outra lagarta, mais jovem, fica um pouco inquieta com a pergunta e diz.

- Claro que não! Nós, lagartas, somos seres rastejantes. Vivemos nos arrastando pela terra e essa é a nossa realidade.

A lagarta mais velha pensou por um momento e disse:

- Mas será que um dia, quem sabe, não poderemos deixar essa condição limitada aqui no solo e nos tornarmos mais livres? – Especulou.

- Te afirmo que não! – disse, confiante, a lagarta mais jovem. – Nossa vida é esta aqui mesmo, neste estado larval. Caminhar pela terra, subir em algumas árvores, alimentar-se de pequenas folhas de plantas, e viver dentro dos limites de nossa espécie. Essa é a nossa realidade. Você precisa abrir os olhos e aceitar a realidade das coisas, ao invés de ficar matutando nestes sonhos de liberdade, independência e leveza. Isso nada mais é do que uma expressão do seu desejo.

A lagarta mais velha ficou um pouco envergonhada de ter soltado tanto sua imaginação. Mas ao mesmo tempo pensou como seria bom ao menos poder sonhar com uma condição melhor no futuro. Então, mesmo temendo a iminente incompreensão de sua companheira, arriscou-se e disse:

- Mas pense bem. Mesmo que nós estejamos submetidos e presos sempre em terra firme, ou subindo e descendo de plantas e limitados em nossa percepção, talvez existam membros de nossa espécie que, futuramente, possam estar num estado mais livre. Não sei se você sabe, mas há algumas histórias de lagartas que passaram por uma espécie de transformação…

- Sim, eu já ouvi algumas destas histórias – disse a lagarta mais jovem – mas não passam de mentiras para enganar os incautos. Querem que acreditemos em fantasias de asas, leveza, vôo, visão panorâmica, mais rapidez, e outras ilusões. Se existem mesmo essas lagartas de asas, onde elas estariam?

A lagarta mais velha ficou em dúvida. Isso parecia ser verdade. Jamais havia visto uma lagarta de asas, voando. No entanto, retrucou:

- Mas veja só. Talvez, pela nossa própria condição de seres rastejantes, estejamos tão presos e acostumados a olhar apenas para o solo, ou para o próximo passo, que sequer prestamos atenção ao céu, ou contemplamos o alto, para que, talvez, algum dia pudéssemos vislumbrar a liberdade e a rapidez de uma suposta lagarta voadora. Não se esqueça que, daqui de baixo, não conseguimos enxergar direito as coisas que ocorrem no céu.

A lagarta mais jovem começou a pensar nessa possibilidade, mas logo rechaçou seus pensamentos e disse:

- Não! Se isso fosse mesmo possível, nós já saberíamos. Já teríamos visto essas lagartas voadoras!

A lagarta mais velha refletiu e, com toda sinceridade, questionou:

- Ou será que o nosso orgulho, e nossa presunção de tudo saber, não nos impede de admitir que podem haver outras formas de vida mais desprendidas? Não se esqueça que há muitas minhocas que não acreditam na vida acima do solo, creem apenas na vida dentro da terra.

- De jeito nenhum! Estou apenas falando de nossa realidade observável, de nossa vida, de nossa realidade. Não há nenhuma prova de que isso seja verdadeiro. Aceite-se tal como é, e será mais feliz. – disse a lagarta mais jovem.

As duas lagartas encerraram o diálogo, e depois desse dia não se falaram mais.

Passado algum tempo, a lagarta mais velha sentiu algo de diferente. Subiu num local mais alto e formou um casulo. Dentro do casulo, sentiu uma forte transformação, e logo que rompeu a casca, saiu como uma linda e colorida borboleta.

Voando por sobre seu antigo lar pôde avistar, lá embaixo, sua amiga mais jovem, a lagarta que, um dia, havia duvidado da liberdade e da leveza. A borboleta planou bem próximo de sua antiga amiga, mas a lagarta não pôde vê-la. Ela então pensou:

- Ah, se ela soubesse…

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