Com que roupa eu vou?

Se vamos a uma cerimônia religiosa, buscamos no guarda-roupas um traje adequado. Nada de decotes atrevidos, saias ou vestidos curtos. Os homens não vão de short nem de bermuda. Eles colocam uma camisa, calça comprida, sapato. Tudo muito limpo e bem passado. Enfim, não saímos com a roupa de ficar em casa. Temos o cuidado de vestirmos de forma compatível com o lugar que iremos, e chegarmos bem apresentáveis. 


Há locais que exigem uma produção mais sofisticada, e não uma roupa de passeio. E, para essas ocasiões especiais, há quem mande até confeccionar um vestido ou um terno, com o melhor tecido ao alcance do seu bolso. Não é verdade? 

Mas chama a atenção a despreocupação das pessoas, sejam médiuns, sejam frequentadores, que buscam ajuda num terreiro de Umbanda. Mulheres usam blusas com decotes provocantes ou de alcinha, com mais da metade do colo exposta; saias curtíssimas. Trajes mais adequados em um balneário ou a beira-mar. Há homens usam de bermudas e camisetas regatas.

Espaço sagrado
O terreiro de Umbanda é um ambiente sagrado, assim como é o da Igreja Católica ou de um templo evangélico. A diferença é só a forma de dialogar com o sagrado, entendido como Deus, santos ou o Espírito Santo. No terreiro, louvamos os orixás — entidades, para facilitar a compreensão, comparáveis aos santos católicos. Somos atendidos pelos mentores espirituais — caboclos e pretos-velhos, que poderíamos, grosso modo, compará-los ao bispo ou ao cardeal de uma paróquia. Será que diante dos santos ou dos padres, bispos e cardeais chegaríamos com roupas quase sumárias? Duvido! Teríamos a preocupação de vestir algo adequado para o encontro com a autoridade religiosa, e, assim, expressar o nosso respeito ao que ela representa na hierarquia da igreja. Não é mesmo?

Não chegamos ao terreiro para conversar com os médiuns, mas com os mentores espirituais que neles estão incorporados. Quando saímos do espaço destinado aos frequentadores para pisar no terreiro, propriamente dito, onde ocorrem os ritos de Umbanda, estamos pisando em chão sagrado. É nesse espaço que vamos conversar com os mentores espirituais — caboclos e pretos-velhos —, que nos recepcionam com amor e carinho para ouvir nossas lamúrias e saber o que desejamos. Plenos de paciência, eles ouvem as nossas queixas e buscam reunir as energias espirituais ao seu alcance para nos ofertar um lenitivo às dores que nos afligem.

Enquanto estão nos ouvindo, os caboclos ou os pretos-velhos movimentando energias, estão implorando a Zambi (Deus) e à Espiritualidade Maior ajuda para cada "filho" ou "filha" que se socorre do terreiro de Umbanda. 

Então, temos a obrigação de respeitar o terreiro de Umbanda, como espaço de atividade religiosa, assim como respeitamos qualquer outro templo de expressão de fé ao Senhor do Universo e que exige de mim trajes adequados, que não exponham o meu corpo ao olhar de todos. Tenho que respeitar as convenções sociais, por todos nós criadas, para os mais diferentes ambientes. No terreiro de Umbanda não pode ser diferente. Lá estão os mentores espirituais que vêm até nós como expressão da bondade e da misericórdia de Zambi para nos ajudar nesta trajetória terrena.

Nos Caminheiros, há vários jogos de jalecos e saias para dar compostura aquele ou aquela que a deixou em casa. Essa providência não deveria ser necessária, se todos tivessem mais compreensão do espaço sagrada que frequentam. Se todos devotassem ao terreiro o mesmo respeito que expressam em outros espaços de fé.


E os médiuns? 

Ainda que o centro seja considerado a nossa segunda casa, não podemos, até para dar o exemplo aos frequentadores, com trajes de quem está pronto para uma “balada” na boate da hora ou de ficar à vontade em casa. Temos que ter compostura também e deixamos os trajes mais ousados para outros ambientes.
Mais: os médiuns, homens ou mulheres, têm que ter preocupação de se apresentarem bem com suas roupas de trabalho. Não podem estar manchadas, amareladas ou amarrotadas. Nossas roupas tem que estar impecáveis para que os visitantes e frequentadores tenham a certeza de que nos Caminheiros a higiene começa pelo seu corpo mediúnico.

Não só por esses motivos. Mas por respeito, igualmente, às entidades. Não à toa, desde a sua fundação, sempre houve preocupação com a limpeza de cada canto dos Caminheiros. Se somos a parte viva da casa, é nossa obrigação estarmos bem-vestidos, com nossas roupas dos rituais impecáveis para recepcionar nossos inestimáveis amigos da espiritualidade — guias e mentores.

Depois de tomarmos banho, vestimos uma roupa suada, suja? Buscamos roupas limpas e cheirosas. Então, de que vale ter tomado banho de ervas e nos prepararmos para a sessão de Umbanda e vestir uma roupa encardida, amassada, com suor deixado da sessão anterior? É o mesmo que tomar banho e usar uma roupa suja.

Quando amigos queridos avisam que vão à nossa casa, não os recebemos em ambientes sujos, com cadeiras sobre as mesas, ou seja, com o nosso lar todo desorganizado. Temos a preocupação de estarmos bem-vestidos e com tudo limpo. Não é assim? Por que seria diferente com os nos guias e mentores? Temos que nos vigiar para sermos dignos das energias que buscamos na nossa casa de fé.

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