SEMANA DOS PRETOS VELHOS [5]: A falange dos velhos na cultura brasileira


Amanhã (domingo, 11/5), os Caminheiros de Santo Antônio de Pádua renderão homenagens aos pretos e pretas velhas. Hoje, a série Semana dos Pretos Velhos aborda a presença dessa magnífica falange na cultura nacional e na Umbanda, por meio de um texto de autoria do estudioso Alexandre Cumino. Confira
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"Preto-velho" na cultura brasileira e na umbanda

 

por Alexandre Cumino

Pai Antônio foi o primeiro preto-velho a se manifestar na Religião de Umbanda em seu médium Zélio Fernandino de Morais onde se estabeleceu a Tenda Nossa Senhora da Piedade. Assim, ele abriu esta "linha" para nossa religião, introduzindo o uso do cachimbo, guias e o culto aos Orixás.

O "Preto-velho" está ligado à cultura religiosa afro-brasileira em geral e à Umbanda de forma específica, pois dentro da religião umbandista este termo identifica um dos elementos formadores de sua liturgia, representa uma "linha de trabalho", uma "falange de espíritos", todo um grupo de mentores espirituais que se apresentam como negros anciões, ex-escravos, conhecedores dos orixás africanos.

São trabalhadores da espiritualidade, com características próprias e coletivas, que valorizam o grupo em detrimento do ego pessoal, ou seja, são simplesmente pretos e pretas velhas com Pai João e Vó Maria, por exemplo.

Milhares de pais João e de avós Maria, o que mostra um trabalho despersonalizado, que valoriza o elemento coletivo identificado pelo termo genérico "preto-velho". Muitos até dizem "nem tão preto e nem tão velho" ainda assim "preto velho fulano de tal". A falta de informação é a mãe do preconceito, e, no caso do "preto-velho", muitos que são leigos da cultura religiosa umbandista ou de origem africana desconhecem valor do "preto-velho".

Preto é cor, e negro é raça, logo o termo "preto-velho" torna-se característico e com sentido apenas dentro de um contexto, já que fora de tal contexto o termo de uso amplo e irrestrito seria "negro velho", "negro ancião" ou ainda "negro de idade avançada" para identificar o homem da raça negra que encontra-se já na "terceira idade" (a melhor idade). Por conta disso, alguns se sentem desconfortáveis em utilizar um termo que, à primeira vista, pode parecer desrespeitoso ao citar um amável senhor negro, já com suas madeixas brancas, cachimbo e sorriso fácil, por trás do olhar de homem sofrido, que na humildade da subjugação forçada e escrava encontrou a liberdade do espírito sobre a alma, através da sabedoria vinda da Mãe África, na figura de nossos Orixás, vindo ao encontro da imagem e resignação de nosso senhor Jesus Cristo.

Alguns preferem chamá-los apenas de "Pais Velhos" o que é bonito ao ressaltar a paternidade, mas ao mesmo tempo oculta a raça que no caso é motivo de orgulho. São eles que souberam passar por uma vida de escravidão com honra e nobreza de caráter, mais um motivo de orgulho em se autoafirmar "nêgo véio" e ex-escravo; talvez assim se mantenham para que nunca nos esqueçamos que em qualquer situação temos ainda oportunidade de evoluir. Quanto mais adversa maior a oportunidade de dar o testemunho de nossa fé.

O "preto-velho" é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa parte da filosofia umbandista. Assim, os espíritos desencarnados de ex-escravos se identificam e muitos outros que não foram escravos, nesta condição, assim se apresentam também em homenagem a eles, por tê-los como Mestres no astral.

No imaginário popular, por falta de informação ou por má-fé de alguns formadores de opinião, a imagem do "preto-velho" pode estar associada por alguns a uma visão preconceituosa. Há ainda os que se assustam "com estas coisas", pois não sabem que a Umbanda é uma religião e como tal tem a única proposta de nos religar a Deus, manifestando o espírito para a caridade e desenvolvendo o sentimento de amor ao próximo.


Não existe uma Umbanda "boa" e uma Umbanda "ruim", existe sim única e exclusivamente uma única Umbanda que faz o bem, caso contrário não é Umbanda e assim é com os "Preto-velhos", todos fazem o bem sem olhar a quem, caso contrário não é de fato um "preto-velho", pode ser alguém disfarçado de "velho-negro", o "preto velho" trabalha única e exclusivamente para a caridade espiritual.

São espíritos que se apresentam dessa forma e que sabem que, em essência, não temos raça nem cor, a cada encarnação, temos uma experiência diferente. Os pretos velhos trazem consigo o "mistério ancião", pois não basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser espíritos amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na senda evolutiva.

Quanto menos valor se dá à forma, mais valor se dá à mensagem, e "preto-velho" fala devagar, bem baixinho; quando assim se pronuncia, todos se aquietam para ouvi-lo. Parece-nos ouvir, na língua iorubá, a palavra "atotô", saudação a Obaluaiê que quer dizer exatamente isso: "silêncio".

Nas culturas antigas, o "velho" era sempre respeitado e ouvido como fonte viva do conhecimento ancestral. Hoje, ainda vemos esse costume nas culturas indígenas e ciganas. Algumas tradições religiosas mantêm essa postura frente ao sacerdote mais velho. Trata-se de uma herança cultural religiosa tão antiga quanto nossa memória ou história pode ir buscar. Tão antigos também são alguns dos pretos velhos que se manifestam na Umbanda.

Muitos estão fora do ciclo reencarnacionista, libertos do carma. Eles desvendaram o manto da ilusão da carne que nos cobre com paixões e apegos que, inexoravelmente, ficarão para trás no caminho evolutivo.

Por tudo isso e muito mais, em 13 de Maio, dia da libertação dos escravos eu os saúdo: "Salve os Pretos Velhos! Salve as Pretas Velhas! Adorei as Almas! Salve nosso amado Pai Obaluayê, Atotô meu Pai! Salve nossa amada Mãe Nanã Buroquê, Saluba Nanã!"
Usamos para eles velas brancas ou bicolores, metade preta e metade branca, tomam café e fumam cachimbo.

Fonte: Jornal de Umbanda Sagrada, impresso em maio de 2006.
Salve as Almas, Salve os Vovôs e Vovós na Umbanda!!!
Salve Pai Benedito d'Angola
Fé, Esperança e Caridade


Alguns elementos usados por pretos e pretas velhas nos trabalhos

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