PARTE 1 - Os passes

A palavra passe, etimologicamente no latim, significa passar, ou seja, levar de um lugar a outro. No caso do passe magnético, dado gratuitamente nos centros espíritas, é um gesto de ajuda fraterna, no qual há uma saída de magnetismo do doador (chamado por isto de “passista”) para auxiliar no equilíbrio energético do receptor e assim colaborar no restabelecimento da saúde física, emocional, mental e espiritual, uma vez que o PASSE é uma transfusão biopsicoenergética. É possível aos Espíritos benfeitores aproveitarem a contrição de quem está aplicando passes e somar seus fluidos harmonizadores ao magnetismo do passista.

Tal como Jesus costumava dizer “Tua fé te curou”, o passe espírita é uma ajuda externa àquele que o recebe, mas a cura é processo de transformação interior do receptor, é preciso que o receptor faça seus movimentos para recuperação de sua harmonia, tais como: ter fé sincera no procedimento do passe, em prol de sua melhora; buscar autoconhecer-se e modificar-se moralmente com base no Evangelho de Jesus selecionando pensamentos, sentimentos e atitudes elevados. A falta de fé e a má conduta deliberada do paciente anulam qualquer benefício magnético recebido.

Ao contrário do que podem pensar alguns, o uso do magnetismo — não confundir com magnetoterapia (uso de imãs para cura) — é bastante antigo, sendo utilizado desde a antiguidade. Na Caldéia e na Índia, os magos e brâmanes, respectivamente, curavam pela aplicação do olhar, no Egito, multidões acorriam ao templo da deusa Ísis, procurando o alívio dos sofrimentos junto aos sacerdotes, que lhes aplicavam a imposição das mãos, no próprio Evangelho vemos várias vezes Jesus curar através do uso do magnetismo.

Embora já bastante utilizado, pouco se conhecia sobre o mecanismo de ação do magnetismo, foi na idade média que os estudos evoluíram, encontrando no final do século XVIII com Fraz Anton Mesmer um grande desenvolvimento. Mesmer iniciou suas pesquisas com uso de imãs e depois descobriu que o uso das mãos apresenta resultados análogos aos imãs. Mesmer acreditava na existência de uma força magnética que se manifestava através da atuação de um "fluido universalmente distribuído, que se insinuava na substância dos nervos e dava, ao corpo humano, propriedades análogas ao do imã. Esse fluido, sob controle, poderia ser usado como finalidade terapêutica".

Após muitas pesquisas começou a desenvolver e divulgar técnicas de fluidoterapia que ficou conhecido como Mesmerismo. O trabalho de Mesmer, apesar de apresentar bons resultados, gerou grande polêmica, sendo ele e seus seguidores duramente combatidos pela Faculdade de Medicina de Paris que proibia seus membros de adotar a nova técnica. Apesar de toda a perseguição, pesquisadores como O Marquês de Puységur, Du Potet, Charles Lafontaine, Charles Richet, Allan Kardec, dentre outros, continuaram os trabalhos de Mesmer, trazendo até nossos dias o uso terapêutico do magnetismo.


Mas, afinal, o que é esse magnetismo?
 
Magnetismo animal, ou ainda, fluido animal é a denominação da parcela de energia vital doada por uma pessoa encarnada à outra, seu objetivo é propiciar o reequilíbrio físico e espiritual àquele que está, por alguma razão, com sua energias desequilibradas. Existem várias formas de se utilizar esse magnetismo. Nas casas espíritas vemos a utilização do passe, que é amplamente empregado como complemento para outras terapêuticas. Segundo a Gênese, o passe, que não é uma doação de energias, mas na verdade é “uma transfusão de energias físico-psiquicas” (Emmanuel) pode ser divido em três tipos:

Humano
— É o magnetismo propriamente dito, utiliza apenas as energias do encarnado, sendo sua eficácia determinado pela qualidade da energia do mesmo.

Espiritual — É aquele em que não há intervenção de um encarnado, o fluxo de energia vem diretamente do plano espiritual para o beneficiado. Assim como no caso anterior, a qualidade desse recurso está na razão direta das qualidades do espírito.

Mista — É aquela em que a uma combinação de energias espirituais e humanas (animais) de forma a tornar o passe mais eficaz. Este é o passe recomendado nas casas espíritas, pois seus resultados tendem a ser melhores para todos os envolvidos.

O termo transfusão é empregado porque quem recebe o passe tanto pode receber energia (caso esta lhe falte) como pode ter o excesso retirado (caso esta possa lhe trazer algum desequilíbrio). O passe vai agir no perispírito, que é nas palavras de Leon Denis “Um organismo fluídico; é a forma preexistente e sobrevivente do ser humano, sobre o qual se modela o envoltório carnal, como uma veste dupla, invisível, constituída de matéria quintessenciada”. Sendo o corpo físico uma consequência do perispírito, a aplicação do passe no perispírito apresentará reflexos no corpo material.

Existem várias formas de se aplicar o passe, entretanto é preciso esclarecer que o principal fator é a vontade que dirige os fluídos, para que estes possam alcançar o objetivo desejado, sendo assim, devemos ter em mente que qualquer posição, movimento, apetrecho ou instrumento exterior é secundário e que a disposição mental tanto de quem aplica quanto de quem recebe o passe é que é o fator principal para o sucesso da transfusão fluídica. Ainda assim, a título de informação, falaremos de três das mais utilizadas formas de passe:
 
Imposição de mãos — esta é a forma mais comum, antiga e utilizada de aplicação de passe, consiste na colocação das mãos, com as palmas para baixo, sobre a cabeça de quem vai recebê-lo. O princípio deste passe é o de aplicá-lo no Chakra coronário (a moleira dos bebês) e sendo este Chakra o que coordena os demais, ele se encarrega de distribuir as energias pelo corpo.

Longitudinais — São aplicados ao longo do corpo, da cabeça aos pés, de cima para baixo, com as mãos abertas e as palmas na direção do paciente. Podem ter várias finalidades, mas é mais comumente utilizado para acalmar o paciente

Transversais — utilizados para fins de dispersão de energias, não é recomendado em casas espíritas devido ao seu modo de aplicação que consiste em “estender os dois braços, com as mãos abertas, polegares para baixo e abrir rapidamente e com muita energia os braços no sentido horizontal e depois volta-se com vivacidade à posição primitiva para recomeçar logo a seguir da mesma maneira”;

Nas casas espíritas recomenda-se que o passista evite a todo custo tocar no paciente, como também apenas utilizar a imposição de mãos. Estas recomendações visam evitar constrangimentos para o paciente, evitar assustar aqueles que não conhecem bem o passe e podem ficar chocados com movimentos muito estranhos, bem como evitar preferências por determinado passista (que aplica determinado tipo de passe).

Impossível falar em passe sem fazer referência aos chakras ou centros de força ou ainda centros vitais. A palavra chakra vem do sânscrito e quer dizer roda. Segundo o professor Carlos Pastorino: “são chamados rodas porque têm a aparência de pequeno exaustor ou ventilador, com suas pás (denominadas ”pétalas”), que giram incessantemente quase, já que é constante a “corrente de ar” que por elas passa”. Essa corrente de ar a qual o professor Pastorino se refere são as vibrações e elementos fluídicos do plano espiritual que entram e saem de nós pelos chakras.


Segundo André Luiz, no livro Evolução em dois mundos, os sete principais Chakras possuem as seguintes funções:


1. Coronário
Instalado na região central do cérebro é a sede da mente, o centro que assimila os estímulos do Plano Superior e orienta a forma, o movimento, a estabilidade, o metabolismo orgânico e a vida consciencial da alma encarnada ou desencarnada. O Centro Coronário supervisiona, ainda, os outros centros vitais que lhe obedecem ao impulso, procedente do espírito.

2. Cerebral
Contíguo ao Coronário, com influência decisiva sobre os demais, governando o córtice encefálico na sustentação dos sentidos, marcando a atividade das glândulas endócrinas e administrando o sistema nervoso, em toda a sua organização, coordenação, atividade e mecanismo.

3. Laríngeo
— Controla notadamente a respiração e a fonação.

4. Cardíaco
— Dirige a emotividade e a circulação das forças de base.

5. Esplênico
— Determina todas as atividades em que se exprime o sistema hemático, dentro das variações de meio e volume sanguíneo.

6. Gástrico
— Responsável pela digestão e absorção dos alimentos densos e menos densos.

7. Genésico
— Guia a modelagem de novas formas entre os homens ou o estabelecimento de estímulos criadores, com vistas ao trabalho, à associação e á realização entre almas.


Como já dissemos anteriormente é sobre o Chakra Coronário que o passe por imposição de mãos é aplicado, este por sua vez, como controla os demais, é o encarregado de distribuir as energias do passe para os demais.


A aplicação do passe na casa espírita necessita de certos cuidados para que não tome um caráter místico. Todo e qualquer objeto exterior deve ser dispensado, talismãs, incensos, defumadores, roupas de cores especificas são práticas vãs e que só servem para criar no paciente uma idéia equivocada do passe.

A música pode ser usada, desde que com critério (música suave e baixa), para ajudar no relaxamento dos presentes. Além disso, como o objetivo do passe é o equilíbrio, é preciso esclarecer os presentes sobre a necessidade do silêncio e do clima de prece para facilitar a sintonia com o plano espiritual.

Também é fundamental que todos estejam fisicamente preparados para o passe, ou seja, que evitem atitudes que dificultem a absorção e a transmissão do passe pelos seus organismos físicos, questões como alimentação, vícios, sexo, entre outras devem ser observadas:


1. Alimentação – Apesar de não existir nenhum alimento proibido para aquele que vai receber o passe, ou desenvolver qualquer atividade na casa espírita, é preciso ter bom senso e evitar excessos alimentares, pois “o excesso de alimentação produz odores fétidos, através dos poros, bem com das saídas dos pulmões e do estômago, prejudicando as faculdades radiantes”;

2. Álcool
– Assim como outras substâncias tóxicas (fumo, drogas, etc), o álcool provoca distúrbios nos centros nervosos e modifica certas funções psíquicas o que anula os esforços de transmissão dos fluidos do passe;

3. Outros vícios
– Além dos vícios de natureza química, há também aqueles decorrentes da conduta do indivíduo, questões com jogos e todos os abusos que geram desequilíbrio psíquico devem ser evitados, pois dificultam sobremaneira a sintonia vibratória;

4. Sexo antes do passe
– O sexo é coisa santa e como tal deve ser tratado, entretanto devido às descargas energéticas que ele acarreta, o mesmo deve ser evitado antes do passe, pois pode criar desequilíbrio fluídico no paciente o que pode dificultar a absorção e a retenção dos fluidos recebidos no passe.

Não esperamos aqui esgotar o tema do passe, que é muito rico e tem várias implicações, entretanto esperamos ter levado um pouco de luz sobre o assunto, principalmente para aqueles que nada sabem sobre o mesmo. Voltamos a lembrar que, mais do que qualquer outra coisa, o principal componente para o sucesso do passe é a boa vontade e o esforço para sintonizar com os planos superiores. Esforço esse não apenas no momento do passe, mas em cada momento de nossas vidas, seguindo o roteiro seguro do Evangelho que é a melhor maneira de conquistarmos o auxílio da Divina Providência.


Fontes:
KARDEC, Allan. A Gênese. (1999) LAKE
XAVIER, Francisco Cândido. Nos domínios da Mediunidade. (2001) FEB
XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em dois Mundos. Pelo Espírito André Luiz. (2003) FEB
PASTORINO, Carlos T. Técnicas de Mediunidade. (1969)
PERALVA, Martins. Estudando a Mediunidade (1998) FEB.
PERALVA, Martins. Mediunidade e Evolução (1998) FEB.
JACINTO, Roque. Desenvolvimento Mediúnico (1991) Editora Luz no Lar
MELO, Jacob. O Passe – Seu estudo, suas técnicas, sua prática. (1992) FEB
JUNIOR, Eugênio Lysei. O Passe – Respostas às perguntas mais frequentes. (1998) Casa do Caminho.

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